FISSURAS NA QUARTA PAREDE

OPINIÃO

 

Para compreender girassóis...

 

Eu sempre tive qualquer “quê”, assim, pelos girassóis. 


Primeiro foi sua raridade. Quando criança via uma que outra flor. Sempre tão
grande, imponente, até um pouco áspera. A prima desproporcional da margarida,
pensava. Mas, ainda assim, ela me fascinava. Caule comprido, miolo grande em
contraste com pétalas frágeis e vibrantes. Crescia pra fora, para o sol, esplêndida em
suas certezas, que às vezes, nem seu próprio caule conseguia sustenta-la.


Depois veio Van Gogh e seus “girassóis”. A excentricidade do pintor holandês
na força das suas cores e pinceladas, que falavam por si, trazendo às telas o que
Vincent gritava por dentro em um caminho expressionista do que viria a ser a pintura
ocidental. Van Gogh ou os girassóis. Não sei qual escolha fiz primeiro. Mas, hoje, não
consigo pensar em um sem lembrar do outro.


Caio F. Abreu também tinha um carinho todo particular pelos girassóis.
Costumava dizer que
“não se deve decretar a morte de um girassol antes do tempo”.
Girassóis podem ser muito resistentes.


Assim como eu. Como você, talvez. Como tantos que conheço e desconheço.
Resistentes, fortes, ásperos. Em busca do sol sobrevivem. Sabem que é preciso voltar
suas pétalas para os raios que fortalecem. E quando a noite, breu do repouso, baixar,
se preparam e esperam, sabem que o dia vai chegar. Eles, os girassóis...você e eu...


E nesse ciclo, de vida e morte, o esplêndido está no desenho, na cor
impregnada, na maleabilidade das raízes, na transformação... Naquilo que passa
despercebido, mas estará lá sempre forte, robusto, ainda que você não possa ou não
queira vê-lo. Naquilo que está do outro lado, escondido, guardado, esperando ser
descoberto, como os famosos campos de girassóis na Provence francesa ou como o
meu jardim.


Girassóis não têm perfume, você percebeu? E quem disse que flores precisam
de perfumes para serem flores. Elas só precisam de cheiros.


Compreendeu?!
“Algumas pessoas acho que nunca. Mas não é para essas que escrevo.”¹
Diria nosso escritor gaúcho.
¹(A morte dos girassóis. Pequenas epifanias. Caio Fernando Abreu) 


Izabel Cristina é Licenciada em Teatro, gestora de cultura e Especialista em Acessibilidade Cultural, atriz, dramaturga, diretora e professora de teatro. Desde 2014 coordena o Departamento de  Artes Cênicas da SMCEL- Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e lazer de Gravataí/RS


Izabel Cristina


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