NAVALHAS AO VENTO

 

Carta aos meus amigos
(Amigos??? Ironia!)

Tenho me divertido muito, mas não é justo me divertir sozinha, por isso divido com vocês a realidade irônica, para não dizer hipócrita.

Acompanho desde sempre tudo o que alguns falam a meu respeito. Sei que sou assunto em algumas rodas e isso me diverte e me engrandece pois ratifica o quanto eu incomodo pessoas rasas. Meu namorado diz que eu assusto homens covardes e mulheres inseguras. Se eu sento sozinha numa bar e peço tequila, se torço por determinado time de futebol, se vou ao campo e grito palavrão, se tenho posicionamento político, se escolho meus parceiros sexuais... sim, parceiros... ninguém tem nada com isso, ninguém paga as minhas contas. Afinal sou apenas uma mulher com o padrão social de qualquer homem normal. Lembrei um verso de minha autoria: “...ao homem tudo é permitido, até olhar para o próprio umbigo…” Minhas atitudes são erradas apenas para homens que não se garantem como machos ou para mulheres prostitutas de um homem só, que se casam apenas para ter quem as sustentem.

Nem mesmo o meu trabalho pode julgar o que eu faço nas horas de lazer. Se no meu horário de trabalho sou uma funcionária competente, as outras dezoito horas do dia só a mim pertencem. Quanto ao meu “abominável” hábito de dizer palavrões, informo que só digo quando me sinto à vontade ou quando quero voar no pescoço de alguém. Minha educação não está nas palavras ou palavrões que digo, está nas minhas atitudes e minha competência também não pode ser medida pelo meu vocabulário. Conheço pessoas que tem a fala doce e a  usam para mentir e enganar, não usam palavras de baixo calão mas suas atitudes são sórdidas. Sei ser uma dama e também sei “descer do salto” e partir para cima com palavras ou na força bruta, depende da educação do interlocutor. Sou chamada de grossa, mas prefiro a sinceridade ao cinismo.

Definitivamente o mundo não está preparado para mulheres empoderadas. Quando um homem vê uma mulher independente, logo quer levá-la para cama e quando não tem êxito ou, o que é pior, depois do ato descobre que é incompetente, incapaz de satisfazê-la, seu único prazer é difamá-la e denegrir sua imagem perante seus pares.

Então, continuem falando de mim, isso demonstra a pequenez de vocês diante da minha liberdade. Sou dona de mim, dona dos meus atos, dona da minha boca e dona do meu corpo. Achou ruim? Morre que passa...


Isab-El Cristina Soares

Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.


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10 Comentários

  1. Não costumo me posicionar quando não entendo bem o contexto. Mas gostei muito desse posicionamento forte, Isab-El porque é assim mesmo que as coisas são, quando estamos incomodando os acomodados, estamos no caminho certo. Abraço

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  2. É amiga, infelizmente vivemos nesse mundo ,onde ter voz ativa ofende machuca. Um mundo que se acostumou a nós colocar em segundo plano por sermos mulheres. Mas vamos manter a fé e continuar acreditando que um dia isso mudará! E quanto a falar palavrões fodasse quem não gostar! Kkkkkkk

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    1. Derci Gonçalves que o diga kkkk. Eu estou cagando p a opinião desses machistas. Somos mulheres fodasticas e isso assusta. Bju, amigaaaa

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  3. Palavrão é uma palavra de muitas letras, muita força ou muito significado? Falar ou não depende de cada uma ou cada um, e isso também vale pra independência, que bom que podemos usar as nossas, pois quem muito critica é porque vive preso a dogmas ou preconceitos. Parabéns Isab-el!

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    1. Obrigada, Max. Parece q minha liberdade incomoda essa gente kkkk. Derci Gonçalves dizia muito mais do que eu e é respeitada por todo o país. Mas na aldeia dos anjos onde os mais pecadores se consideram anjos, tentam crucificar a Isab. Foda-se, né? Kkkk. Enquanto isso acordo com a luz do sol na cara. Kkkkk

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  4. Vivemos num mundo HIP - hipócrita, intolerante e pobre. Por isso, quem consegue sair do HIP é mal visto.
    Em suma, quem consegue se destacar é alguém a ser DCE - derrubado, calado, execrado.
    Por isso tem o livro A Hora de Ligar o Foda-se.
    Saudações

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    1. Estou louca para ler esse livro. Ainda não tive a oportunidade. Deve ser foda, né? Kkkk. Abraço

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  5. Me identifiquei muito com o teu texto, nós mulheres fortes e livres acabamos assustando homens frágeis e mulheres que tem medo de serem livres.

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    1. Obrigada, Lais. Sim, mulheres fortes assustam. Nós somos assustadoras. Bjuuuu

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