Peter, Péter e Piter


   Peter já era um cara velho. Um cara de meia idade que lia quadrinhos. Pelo menos assim ele se via. Vejam bem: histórias de heróis. Órfãos que num lapso de sanidade resolvem entrar em uma roupa colada e usar os seus talentos para ajudar o mundo. Peter aprendeu isso de Peter. O seu dever é e sempre vai ser ajudar o mundo. Salvar o mundo Nem tanto - pensava Peter com ele mesmo. Os mitos daquelas páginas que leu quando criança e relia agora quando adulto não podem ter feito tanta diferença assim em sua vida. Isso era o que ele pensava. Isso era o que ele discutia com ele mesmo. Até o dia em que ele teve que nomear seu filho. Qual nome seria? O Peter adolescente que o ensinou tanto, ainda o ensinava. Mas agora ele era pai. Deveria ser um homem responsável. Como continuar aprendendo de um adolescente chamado Peter que só queria ficar pulando por aí, brigando e namorando? Essa decisão não foi desse velho Peter, mas do coração de Peter. Que era tão puro quanto o daquele vigilante adolescente briguento e irresponsável. Ele também só queria um mundo melhor, salvar o mundo, apesar do cansaço que o tempo e a falta de liberdade lhe traz. Ao lembrar disso tudo, em um turbilhão de pensamentos enquanto seu filho chorava pela primeira vez, ele disse: sim, meu filho se chamará Peter.

Texto: André Palma Moraes
Arte: Jorginho

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