MICROSCOPIA DO OLHAR



O tempo


          Adentramos mais um ano na nossa caminhada. Seguimos o calendário gregoriano desde o século XVI, com a reforma do calendário juliano pelo Papa Gregório XIII. O curioso é que além desses calendários instituídos oficialmente, a humanidade mantém outras formas de se guiar pelo tempo: através dos ciclos lunissolares (do sol e da lua). Essa orientação dá-se por uma necessidade de dialogar com o tempo da Terra; assim, ao homem é possível, quando em harmonia com esses ciclos, estabelecer as melhores épocas para o plantio e a colheita, quando cortar o cabelo, como acompanhar o ciclo menstrual, ou até fazer a contagem das luas para compreender o período gestacional e a fase provável para o parto. É raro alguém que nunca ouviu uma anciã falar sobre as probabilidades de época para "parir" à uma grávida (as luas minguantes e novas são as campeãs). 

            Mas como tudo são hipóteses, e, principalmente por termos nos distanciado dessa organização temporal natural, estamos em franca corrida contra o tempo. Um desequilíbrio, um cansaço, uma busca desenfreada por algo que nem sabemos o que é. Lembra-me um pouco desembarcar do metrô em São Paulo e ser levada pela maré de gente para fora da estação. Nem pensar esquecer algo e ter que voltar! Missão impossível...

           Às vezes corremos sem a necessidade de correr. Para onde? Por quê? O automático tomou conta do nosso corpo e da nossa mente. As placas de pare já estão desatualizadas. É necessário acontecer algo muito sério para nos arrancar dessa corrida: um acidente, uma perda, uma doença. Daí a parada dói. Nos perguntamos por que isso aconteceu...não era para ser assim...a vida é injusta...Será que não somos nós que estamos injustiçando a vida?

            Esse ano, segundo o calendário gregoriano, começa agora. Convido você a olhar para o sol, olhar para a lua, dialogar com o tempo da Terra. Organizar o que é realmente importante, dar-se mais tempo para respirar, comer e sorrir. Olhar para si, agradecer e caminhar, não correr. Pois o tempo é contado na ampulheta do universo, e nós não sabemos quando o nosso último grão de areia vai se esvair.


Texto: Patrícia Maciel    


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