ARTE E CULTURA

A BOA TIRADA DE LU VIEIRA

Conheci a Lu Vieira há uns anos através das redes sociais, e, na hora, fiquei impressionado com o traço dela, com sua criatividade e com sua força e energia que são contagiantes. Na hora, tratamos que ela fizesse a minha primeira tatuagem,  que seria do Snoopy, e depois uma do Ken Parker (me empolguei, amo o personagem e quando eu descobri que a Lu gostava, fiquei bem inclinado a realizar essa tatoo também), isso ainda não aconteceu, mas quem sabe em breve. Na época, perguntei se ela poderia enviar uma arte sobre Tex para a 1° Exposição  Online Cavalgando com Tex, ocorrida em 2021, e, com enorme gentileza, aceitou o convite e enviou a arte, abrilhantando o nosso evento.

Depois de algum tempo, descobri que ela tinha um relacionamento com o grande artista Italiano Carlo Ambrosini, um amor intenso e lindo, que resultou em um casamento prematuramente interrompido pelo falecimento de Carlo, deixando a todos nós muito tristes.

Mas a Lu é uma valente, e como todos os valentes, vai em frente, enfrentando desafios, escrevendo o seu destino. Agora, Lu está com um novo projeto: Boa Tirada, livro que reúne quadrinhos, cartuns e ilustrações, e que está com campanha no CATARSE, sendo um edição do Da Rosa Estúdio, do grande Rodinério da Rosa.

E nós, do Arte e Cultura, fomos conversar com Lu, para saber um pouco mais de sua trajetória e de seu lançamento, confiram:

LU VIEIRA

JORGINHO: Quem é a Lu Vieira? Como você se define?

LU VIEIRA: Acredito que ter uma definição me limita, e eu gosto da liberdade, da busca. Mas, se tu pensar isso já é um tipo de definição rsrs. Eu sinto que a vida é um constante movimento, e aproveitar os momentos, as ondas de acontecimentos e fazer tudo o que me proponho a fazer da forma mais verdadeira e sincera é o que me faz sentir viva.

A busca de entender quem sou me fez mudar várias vezes de rumo que aparentemente são contraditórios, mas às vezes entendemos quem somos justamente por entender o que não funciona pra nós.

Entender o que eu quero ser, o que me motiva e não viver a vida que outros querem de mim é a  minha chave.

Eu sou muito inquieta e tenho vários interesses pratico atividades tanto no âmbito físico quanto intelectual, e pra mim essas duas coisas andam juntas.

JORGINHO: Como o desenho e as Histórias em Quadrinhos entraram em sua vida?

LU VIEIRA: Eu tive o privilégio de nascer em uma casa cheia de livros, vinis, gibis… Meu pai trabalhava com publicidade quando eu era criança, eu simplesmente amava usar a mesa de desenho dele (sabe aquelas lindonas de arquiteto?) e tanto que ele ficava muito chateado quando eu estragava os pincéis importados dele pintando com têmpera rsrs.

Fui algumas vezes trabalhar com ele, e estar em uma agência cheia de mesas e materiais de desenho era realmente um lugar mágico pra mim. 

Então, o desenho e os quadrinhos já estavam na minha vida antes mesmo de eu nascer e  simplesmente eu me interessei da forma mais orgânica e natural possível.

JORGINHO: Quais são as suas maiores influências no desenho e nos roteiros?

LU VIEIRA: Ivo Milazzo! Não é à toa que carrego o nome dele tatuado no braço esquerdo-o mais perto do coração.

Em 1994 (eu tinha 8 anos) saiu no Brasil uma edição de Ken Parker pela editora Ensaio, com a  história “Os Cervos” - uma das quatro histórias de Respiro e o Sonho- uma história muda de 20 páginas sobre um homem sobrevivendo numa montanha gelada. Ali foi o meu primeiro contato com o personagem, o meu olhar infantil ficou muito impressionado com um personagem de quadrinhos tão humano, uma das coisas mais marcantes dessa primeira leitura foi ver um “herói” tão real que fazia cocô!

Vi ali a emoção que uma narrativa visual “silenciosa” pode transmitir, e foi isso que me fez querer ser quadrinista. Tanto que hoje eu escrevo histórias mudas! Essa é a minha busca nos quadrinhos: narrar uma emoção! E no meu ponto de vista, as imagens estimulam o lado emocional de uma forma muito mais subjetiva e inconsciente que quando se usam as palavras.

JORGINHO: Como é conciliar a vida de artista com a vida de mãe? Acredito que os filhotes devem adorar ter uma mãe desenhista.

LU VIEIRA: Nunca me fiz muito essa pergunta e nem sei responder… Eu engravidei aos 19 anos, então eu praticamente não tive vida adulta que não seja sendo mãe, então simplesmente tudo o que eu fiz artisticamente foi no meio tempo entre levar e buscar da escola, dar banho, fazer comida, ajudar no tema. Mas a artista que sou só existe porque  sou mãe, exprimimos com arte a soma de todas as coisas que nos fizeram ser quem somos, não tem como separar o eu artístico do eu pessoal. Muitas vezes usamos o desenho e a escrita para dizer aquilo que não dizemos na “vida real”, usamos os personagens para dar voz aos nossos pensamentos, medos, desejos.

Olha, sobre elas gostarem de ter uma mãe desenhista eu não sei não… às vezes é um pouco constrangedor pra elas… muitas vezes já ouvi: mãe, tu não vai fazer tirinha disso, né?!

JORGINHO: Você como artista está vendo o momento sócio político cultural pelo qual estamos passando?

LU VIEIRA: Hoje, como estou vivendo entre Gênova e Porto Alegre, eu vejo essas duas realidades, e visões de mundo que são diferentes mas em muitos aspectos semelhantes. E ser uma mulher latina vivendo na Europa deixou muito mais claro e palpável pra mim a nossa herança do colonialismo. E claramente vivo a diferença de olhar, de consideração e todo o preconceito que eles têm de nós. Já ouvi lá “Volta pro teu país de merda!” Temos um triste avanço da extrema direita no mundo.

Ser cartunista é usar as armas que se tem: o desenho e o humor são formas de luta. Eu faço parte do esforço coletivo “Jornal Grifo”, antifascita  que nasceu durante o governo Bolsonaro, assumindo a responsabilidade de dizer o que não se diz na grande mídia dominada pela elite do país. E cada vez mais locais de mídia alternativa como o Grifo se fazem necessários.


JORGINHO: Vamos falar sobre “Boa Tirada” seu novo lançamento, o que ele significa para você? O que o leitor vai encontrar lá?

LU VIEIRA: Está sendo um marco na minha vida e carreira, por ser o meu primeiro livro solo. Ele é o resultado do meu trabalho como cartunista, desenhista e quadrinista, reúne o melhor do meu trabalho: as tiras publicadas no Grifo desde 2021, os cartuns selecionados para salões de humor no mundo, ilustrações e as histórias em quadrinhos mudas, tudo que está ali foi escrito e desenhado por mim. Na intenção de realmente ser uma mostra não somente do meu desenho mas também como penso, me expresso, narro…

E é um livro que resume tanto o meu trabalho quadrinístico que sou também a tradutora rsrs É um livro bilíngue português/italiano, obviamente somente as traduzíveis, vários trocadilhos somente funcionam na nossa maravilhosa língua brasileira.

JORGINHO: Quais os planos da Lu para o futuro?

LU VIEIRA: O meu plano é não ter planos. 

Ano passado eu tive não uma reviravolta na vida, mas um triplo twist carpado: Eu me casei e três meses depois fiquei viúva, algo que indiscutivelmente leva a um questionamento existencial. Hoje não sinto que eu tenha mais capacidade de fazer planos a longo prazo, deixou mais evidente que não temos controle de nada, e tudo o que temos é o presente.

Sempre vivi a vida com muita coragem, e me lembro muito de uma conversa com o meu marido, lá no início do relacionamento: Ele me perguntou se eu estava ansiosa com a mudança para Europa, e eu respondi: Não, eu gosto disso… gosto de não saber o que vai acontecer! E continuo vivendo essa jornada única que é a viagem entre o dia que nascemos e o que morremos. Como dizia o Paulinho da Viola “Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar”

JORGINHO: Deixe seu recado para o leitor do Arte e Cultura.

LU VIEIRA: Gostaria de agradecer a leitura dessa entrevista e parabenizar esse espaço de divulgação tão importante pra cena cultural.


BOA TIRADA


Quadrinhos, tirinhas, cartuns e ilustrações pra sorrir e chorar

Edição bilingue em Português e Italiano.Uma edição com quadrinhos, tirinhas, cartum e ilustrações. Um livro que não pode faltar na sua estante. Com paginas em cores e preto e branco em papel polen.


Lu Vieira é uma Lagunense nascida em Porto Alegre e residente em Gênova, cidades conectadas à água e ao mar (elemento apropriado para uma Vieira). Estudou no Atelier livre de Xico Stockinger e no IA-UFRGS. No começo da fase adulta tentou ter a vida do comercial de margarina -marido, 2 filhos, um cão e um emprego público- mas logo entendeu que era estavelmente frustrada. Decidiu então correr o risco, nos riscos do lápis, nanquim e agulha. Trabalhou com tatuagem, ilustração, cartuns, quadrinhos… atravessou um oceano, auxiliou o fumettista Carlo Ambrosini, publicou na Itália, Portugal e claro, no nosso Brasil. Hoje desenha, escreve, traduz, se arrisca e se atira.


Faz muito tempo que no mundo a palavra “artista” está inflacionada pelo uso desproporcional e muitas vezes deslocado, praticado pelos meios de comunicação e por gente comum.

Quem vive a criatividade em todas as formas expressivas busca transmitir diariamente as emoções que percebe com o corpo e a mente na tentativa de intuir uma conexão positiva com o próximo.

E assim, desenhar, escrever, interpretar, tocar e talvez cantar ao ritmo de samba possam ser a chave ideal para entender a Artista que reside no coração da Lu Vieira.

CATARSE

Esta é uma campanha relâmpago em função da autora ficar no Brasil até a primeira semana de setembro de 2024. Você pode apoiar o projeto até o dia 18/08/20024, para conhecer as recompensas e apoiar clique AQUI

"Mas a artista que sou só existe porque  sou mãe, exprimimos com arte a soma de todas as coisas que nos fizeram ser quem somos, não tem como separar o eu artístico 
do eu pessoal"
- Lu Vieira


Jorginho

Jorginho é Pedagogo, Filósofo, graduando em Artes, com pós graduação em Artes na Educação Infantil, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A voz da arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rol e cinema. É ativista pela Doação de Órgãos e luta contra a Alienação Parental.

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

COLETIVEARTS, 06 ANOS DE VIDA,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
CRIANDO MUNDOS!


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