O SIMIÓIDE

De onde vem a cultura

De tempos em tempos eu vejo alguma discussão sobre a cultura brasileira. De onde vem?
Quem criou? O que é realmente brasileiro? Muito se fala disso em relação à música e
literatura. Quanto à música, temos até uma sigla que resume de forma bem simplória o que
é "importante": a MPB.


A questão é: e todo o resto? Rap, rock, trap, trance, punk, maracatu, milonga, tecno brega,
vanerão, chamamé, gafieira, chorinho, xote, etc. Isso tudo, só falando de música. E quanta
música de qualidade.


Pensei nisso essa semana, pois vi por fim o filme Lords of Chaos. Uma narrativa sobre os
acontecimentos na cena Black Metal norueguês no início da década de 1990. Fora toda a
morbidez do ocorrido, fiquei muito impactado quanto à parte cultural, com a coisa toda.
Mesmo a piazada querendo ser malvada, ainda fez algo culturalmente relevante que
perdura até hoje. E olha que para fazer isso com um som sujo, gritado e letras
essencialmente sobre satanismo, é um tanto quanto complicado. Digo, fazer sucesso e um
objeto de cultura relevante.


Depois de ver o filme, estava eu pronto para escrever uma resenha na minha página do IG.
Mas resolvi dar uma breve pesquisada sobre o assunto no YouTube. Fora o impacto que o
filme causou em mim pela precisão do que seria uma cena metal, uma das mais
controversas da história, a morbidez levantada por aquela desgraceira toda também me
arrastou para o meu estudo. Sobre a precisão, não digo dos fatos narrados, mas sim como
os personagens agem e pensam. Para quem vive dentro da cena metal portoalegrense
desde o início dos anos 2000 e já cansou de ir em tudo que é tipo de show, inclusive black
metal norueguês, o filme representa muito bem a realidade. Isso traz muito mais relevância
ao filme, aliada a uma estética impecável.


Voltando à cultura. Na minha pesquisa, então, descubro que o tal metal extremo Black Metal
é o produto de cultura mais exportado da Noruega. Mesmo após os crimes, mesmo sendo
satânico, mesmo sendo sujo, mesmo sendo uma massa musical indistinguível, ainda assim
é o maior produto exportado de uma nação. Fora o turismo, que atrai gente do mundo todo,
o ano todo.


Por fim, mais um caso que comprova que a cultura é criada durante as eras. Não é estática
como se pensa no Brasil. Mesmo nesse caso, o próprio Sepultura e o Sarcófago foram
influências para esses malucos da Noruega. Por que lá algo muito mais sombrio pegou
notoriedade e aqui não? Pois, independente do que se entende por cultura, devemos
entender o que é relevante em certo momento e abraçar como nação. Quanto à literatura,
no Japão, temos os mangás que viraram animes e videogames. Por mais que seja próximo
à cultura japonesa base, também foi uma cultura criada e que é maior do que todo o resto
hoje em dia.


Essa tentativa foi feita em certo momento aqui no Brasil. Falhamos miseravelmente. O que
entendo é que perdemos muito com isso. Aqui em Poa mesmo, antes da pandemia, pra
mim, a cultura underground respirava por aparelhos. Eu via shows sendo anunciados. Mas
no meu conhecimento, com público risível. Outrora, eu vi muitos movimentos com um bom

público por aqui. O que aconteceu? Justamente a falta de interesse de sempre, misturada
com a falta de competência dos que fazem a música. Não que ela precise ser boa. Mas ela
precisa chegar às pessoas. De um jeito ou outro.


E o principal: precisa ser relevante de algum modo. Sempre.


Aqui o Simióide, encerrando uma longa transmissão. Completamente impactado por
reencontrar objetos de cultura perdidos no tempo e aprender mais sobre eles. Mais que
isso, tentando entender como a cultura é criada e onde estamos errando. Creio que nos
falta cultura relevante bem divulgada ou sempre viveremos do passado. Ou estaria por aí
uma cultura brasileira perdida por entre os becos, andando em coletivos?
  


André Palma Moraes é Cineasta, Escritor e criador do Wasd Space



André Palma Moraes
 

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