Bandeira Preta
Saudades quando, na nossa infância, isso significava que não podíamos entrar no mar para aquele banho refrescante no final da tarde. Olhavamos para o oceano, chateados, ali da areia da praia, com nossos pais a dizer "olha, não pode entrar, o mar está bravo e você pode se afogar."
Hoje, olhamos para o mapa do nosso estado todo pintado de preto. As cores das bandeiras foram resignificadas. Uma pandemia chegou há mais de um ano e aqui estamos, com UTI's superlotadas, esperas agoniantes por leitos e até mesmo falta de atestados de óbito em certos hospitais da capital gaúcha, tamanha é a desgraça que nos assola.
Manter as esperanças está a cada dia mais difícil. Uma tarefa árdua. É preciso foco e determinação para enxergar uma luz no final desse túnel que tem sido tão sombrio. Confesso, que nos últimos tempos, não vejo essa luz. Vejo mortes, doença, sofrimento, lágrimas e dor. Vejo miséria e indiferença. Entretanto, parte de mim luta para ser luz.
Nunca fui uma pessoa otimista. Porém, como artista e professora, é essencial que espalhe esperança. Que espalhe amor. Ainda que nos tempos mais sombrios e duros. Porque sempre que me faltou amor e esperança quem me estendeu a mão foram artistas e professores, a arte e o ensino. Talvez tenha sido por este motivo que escolhi ambas profissões. Profissões de luta. E de possibilidades infinitas. Que cada um possa, nessa quarentena que se estende, ser um pouco sonhador, um pouco artista e um pouco professor. Espalhando em seu pequeno grande mundo um tanto de arte, de amor e de ensinamentos.
Que possamos encontrar, em meio a tamanha dor e sofrimento, um feixo de luz, de libertação, de paz, de amor. Mesmo que em nosso pequeno mundo ou em nossa mente, em nosso coração.
Posso estar parecendo piegas, e perdoem-me se estiver, mas o piegas nunca fez mal a ninguém! E tem até seu charme, em alguns momentos. E digo mais, permitam-se ser. Estamos tão limitados, tão presos, tão cheios dos "não pode" "não é permitido"... Que as vezes nos esquecemos daquilo que somos e daquilo que queremos ser.
Protejam-se. Usem máscara. Evitem aglomerações. Bebam água.
E não esqueçam: sejam o que vocês quiserem ser, na sua melhor versão, com muito amor, sempre. Seja luz. Espalhe luz.
Cris Bastienello é escritora, historiadora e artista visual. Além de de ser uma artista engajada, é apresentadora dos Saraus do ColetiveArts Também apresenta o programa de entrevistas Colagens da Cris no instagram do Coletive:https://www.instagram.com/coletivemovimento/
1 Comentários
Precisamos continuar fortes
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