HÁ QUE SE SOBREVIVER!
Uma das premissas da existência é a sobrevivência.
Todo o ser vivo, como lei natural, busca incansavelmente sobreviver. Diante do perigo eminente, não há quem não clame e lute por sua vida. Não é escolha, é instinto.
Enquanto não vivenciamos o perigo que grita tão perto, nos ensurdecendo, continuamos alheios. Como super heróis, que reproduzem suas narrativas trash,
continuam, “Eles”, a se acharem no direito de ditar regras do que deve ou não ser
feito. Eles não são muitos, resumem-se a um grupo restrito de camionetes importadas,
com bandeiras que um dia foram representativas do nosso país, vociferando palavras
de ordem (quem mesmo está passando fome??)
Querem liberações, suas empresas, escolas, comércios, abertos.
“Não há como sobreviver assim”, dizem. Não há como sobreviver...
Sobreviver do verbo: permanecer vivo depois de (algo); resistir ao efeito de; continuar a viver ou a existir. Como se sobrevive em uma pandemia severa senão permanecendo vivo, pergunto? E ao que parece redundante sugiro o mergulho em camadas mais profundas de reflexão.
Hoje, no Mundo, não estamos em uma situação normal de nossas vidas (se é que algum dia estivemos). Estamos em estado de guerra contra um inimigo invisível e
destruidor. Que tem se mostrado mais resistente, adaptável e inteligente do que nós.
Ele não cansa, nós cansamos. Ele se fortalece em suas mutações, nós enfraquecemos. Quanto mais pessoas contaminadas, mais chance de mutações e permanência do vírus em nossas vidas. Mais riscos, mais mortes. O que antes parecia ser alocado em um grupo de pessoas (com mais idade e comorbidades), agora, presenciamos o alastramento: pessoas cada vez mais jovens e sem nenhum tipo de doença, estão contaminadas. Isso, sem falar na velocidade assustadora de transmissão e agravamento dos casos em um curto espaço de tempo, o que tem gerado superlotação e impossibilidade de atendimentos no sistema de saúde.
Estamos a salvo? Não. Amanhã pode seu eu, você, um amigo querido, pai, mãe, irmão, filho... Não sabemos. Não temos como saber, entende?! Mas temos como prever e tentar diminuir os riscos. Sanar danos. Parece “chover no molhado”. Tanto já foi dito sobre isso, que chega a ser piegas. E por que ainda é tãooo (enfatizando, assim mesmo, o termo linguístico) necessário repetir??
Entre tantas respostas uma me chama mais atenção: porque AINDA (mesmo diante do caos que estamos vivendo) existem pessoas que fingem não entender o que está acontecendo e falam em sobreviver, economicamente, quando se esquecem de um velho ditado popular: “caixão não tem gavetas”. Eu tenho certeza, que qualquer
pessoa, que esteja em uma UTI entubada, agonizando, não vai pensar em dinheiro,
em suas empresas, em seu comércio. Vai pensar e clamar por SOBREVIVER. É o
instinto natural da vida.
Estamos em uma pandemia. Não somos nós que temos que ser penalizados. Não somos nós que temos que colocar nossas vidas em risco para viver. Existe um Estado e um governo que tem a obrigação de gerenciar uma crise como essa. Onde não há condições de espaços serem abertos e ter circulação, vendas e produção, é o governo que tem que criar as bases para que os cidadãos possam continuar, ao menos, mantendo-se vivos. A nossa parte, enquanto seres humanos, minimamente, conscientes e empáticos está em cuidarmos uns dos outros. Mas esta, também, tem
sido uma intenção que tem virado utopia. O que mais temos visto é a construção de um plano pra não dar certo. Enquanto muitos lutam incansavelmente, outros articulam
de forma baixa, desrespeitosa e nojenta (para ficar só nesses três “adjetivos) a
permanência do caos. Estamos diante de uma guerra caótica não, apenas, viral, mas
sistematicamente social e política.
E o que fazer, senão lutar para sobreviver.
Sobreviver ao vírus.
Sobreviver ao ódio dessa gente.
Izabel Cristina é Licenciada em Teatro, gestora de cultura e Especialista em Acessibilidade Cultural, atriz, dramaturga, diretora e professora de teatro. Desde 2014 coordena o Departamento de Artes Cênicas da SMCEL- Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e lazer de Gravataí/RS
0 Comentários