QUERÍAMOS SER COMO CABO RUSTY
Talvez as coisas que mais garantiam a diversão de nossas infâncias no início dos anos 1970 eram assistir televisão e ler gibis. E olha que nessa época nem todos tinham o privilégio de ter em sua casa um aparelho de TV. Mas ainda bem que tínhamos amigos. A TV podia ser preto e branco, mas nossa infância era de um colorido único. Daquela tela muitos filmes, seriados e séries brotaram e fizeram nossa cabeça. Tinha o Zorro com seu cavalo Tornado, riscando um “Z” no uniforme do sargento Garcia. Daniel Boone e sua machadinha infalível. Batman e Robin subindo os edifícios de Gotham City com auxílio da batcorda e ... a linda Bárbara Gordon vestindo “aquele uniforme” de Batgirl que nos fazia flutuar. Naquele tempo o faroeste estava em alta. John Wayne, Roy Rogers e Gunsmoke brilhavam.Mas em 1954, um programa diferente surgiu nas telas da recém criada televisão. Era um faroeste. Mas ao contrário de todos os outros surgidos até então, esse trazia um elemento que encantou e fez brilhar os olhos da gurizada. Um guri órfão, de 11 anos que fora resgatado de um ataque indígena e criado no Forte Apache. Seu nome: Rusty, ou melhor, cabo Rusty.
O "cabo" honorário Rusty - interpretado por Lee Aaker, famoso ator infantil da década de 1950, era o protagonista da série "As Aventuras de Rin-Tin-Tin" que estreou em 1954, na rede americana ABC, ao lado do tenente Ripley "Rip" Masters (James E. Brown) e, é claro, o cachorro pastor alemão Rin Tin Tin.
Rusty era o que todos nós queríamos ser. Um menino destemido. Valente. Que não tinha medo. Lutava contra grandes e pequenos. Aquele corpo franzino trazia dentro de si um gigante. Rusty não se abalava facilmente. Nas decisões, nunca vacilava. Se não conseguia abater o inimigo, corria em disparada. E quando tudo parecia que não tinha mais jeito, e o fim era eminente, nosso bravo herói num último suspiro ecoava um chamado salvador: “Vaaii Rintin”. Rin Tin Tin, seu inseparável e fiel amigo, estava ali para lhe socorrer, como todos amigos de verdade devem fazer.
Como não se contagiar com um personagem desses? Rusty nos representava. “As Aventuras de Rin Tin Tin” teve enorme impacto no público infantil de todo mundo, que sonhava em viver as aventuras de um guri no Velho Oeste. No Brasil, a série estreou primeiro na TV Record, em 1961, mas passou a ser exibida pela TV Tupi a partir de 1966, onde permaneceu até 1972. Também foi exibida pela Bandeirantes e sendo repetida à exaustão nos anos seguintes, num ciclo que parece interminável, pois continua sendo apresentada no Brasil, no canal SBT, aos sábados à tarde. Com o sucesso na TV, Rusty e Rin Tin Tin logo migraram para as páginas dos gibis e conquistaram a indústria de brinquedos.
A primeira publicação das aventuras de Rin Tin Tin nos quadrinhos aconteceu na coleção Four Color nº 434 (nov/1952), nº 476 (jun/1953) e nº 523 (dez/1953), da Dell Comics. O autor dos desenhos era Richard Sparky Moore. Ao mesmo tempo era apresentada uma coleção de 38 números até maio/julho de 1961. Inicialmente a revista
chamava-se Rin Tin Tin, iniciada no nº 4 (mar/mai/1954), e a partir do seu nº 18 passaria a intitular-se Rin Tin Tin and Rusty. Rin Tin Tin apareceu em histórias avulsas em revistas como Real Fact Comics nº 2 (mai/jun/1946), Calling All Boys nº 11 (mai/1947) e The Adventures of Alan Ladd nº 7 (out/nov/1950), antes de estrelar 3 números da revista Four Color, da mesma editora, a partir do nº 434 (nov/1952). Ganhou título próprio começando com o nº 4 (mar/mai/1954), durando até o nº 38 (mai/jul/1961). A coleção March of Comics dedicou dois números a Rin Tin Tin, em 1957 e 1958. A revista Western Roundup trouxe histórias de Rin Tin Tin em seus 4 últimos números, em 1958 e 1959. E em novembro de 1966, a editora Gold Key publicou um número de Rin Tin Tin com histórias anteriormente publicadas pela Dell. Mesmo com uma grande quantidade de revistas publicadas nos Estados Unidos, Rin Tin Tin and Rusty não obtiveram sucesso desejado junto ao público leitor dos comics. No Brasil, no entanto, a coisa foi diferente. As Aventuras de Rin Tin Tin teve três séries publicadas pela saudosa Ebal, com enorme sucesso entre a gurizada. Como sempre, a editora ultrapassaria as expectativas ao lançar a partir de maio de 1956 a coleção Rin Tin Tin, que teria 69 números publicados na sua primeira série. De abril de 1965 a dezembro do ano seguinte teria 11 números editados e na sua terceira série seriam unicamente 7, de fevereiro de 1975 a agosto desse ano. A Ebal ainda publicou um Almanaque em 1961.
Além da série televisiva e das histórias em quadrinhos de Rin Tin Tin e Rusty, outro elemento que contribuiu em muito para aguçar nossa paixão por esses personagens foi o Forte Apache. Sem dúvida o Forte Apache foi o brinquedo de maior sucesso no Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Lançado nos Estados Unidos, em 1953, pela Louis
Marx & CO, o Forte Apache veio para o Brasil no início de 1964 com a fabricante Estrela. Cultuado por muitos até hoje, o Forte Apache vinha dentro de uma linda caixa, com as paliçadas de madeira e os soldados todos pintados com casaco azul claro e calça azul escura. Estavam ali, o Cabo Rusty, o tenente Rip Master e, claro, Rin Tin Tin, que eram distribuídos pelas planícies do quintal de nossas casas.
Lee Aaker após a fama lutou contra o vício em drogas e álcool, e não conseguiu mais trabalhos como ator quando adulto. Petersen declarou: "Isto marca o triste fim na vida de um ator mirim de Hollywood. Você está por perto quando agrada a todos, mas quando não sobrar mais nada, eles acabam com você". Após parar de atuar, Aaker se
casou e trabalhou como carpinteiro, até se aposentar. Muitos anos mais tarde, foi redescoberto pelos fãs, e passou a frequentar diversas feiras e convenções de nostalgia.
casou e trabalhou como carpinteiro, até se aposentar. Muitos anos mais tarde, foi redescoberto pelos fãs, e passou a frequentar diversas feiras e convenções de nostalgia.
Paulo Kobielski é professor de História com especialização em Filosofia e Sociologia pela UFRGS. Trabalha com fanzines e quadrinhos na educação. Paulo quando em perigo costuma gritar pelo seu cachorro Rin Tin Tin, pois no fundo ainda é o Cabo Rusty pelos palcos da vida. Paulo conquistou o Troféu Ângelo Agostini de melhor fanzine no ano de 2020, confira matéria aqui:
8 Comentários
Adorei, Paulo !!!
ResponderExcluirTop !!!
Esse é um daqueles personagens que iremos esquecer. Valeu.
ExcluirEsse é um daqueles personagens que iremos esquecer. Valeu.
ExcluirNão iremos esquecer.
ExcluirNunca assisti ao Rin-Tin-Tin original quando era criança e nem mesmo aquela versão moderna na "Globo" estilo "filme policial com cachorro", como as comédias "K-9" (com James Belushi) e "Uma Dupla Quase Perfeita" (Com Tom Hanks). Mas confesso que ouvia falar dele, vi um trecho numa reportagem sobre dublagem no extinto programa "X-Tudo". Essa versão remasterizada que voltou pelo SBT não é com dublagem antiga.
ResponderExcluirAssistia na antiga TV Tupi. Bah, faz tempo. Kkkkkkk
ExcluirTriste fim de Lee Aaker.
ResponderExcluirTrabalho excelente, Paulo!
Esperando pelo próximo texto :)
Infelizmente Paloma. Mas deixou seu legado. Valeu. Aquele abraço.
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