FISSURAS NA QUARTA PAREDE

 Opinião

JUNTO SUA DOR A MINHA...

Eu não sei se otimismo é um olhar doce sobre a realidade ou uma fuga.

De qualquer forma, ambas as considerações, encontram no futuro suas projeções.

Eu sou mais realista. Sempre fui. O que acontece no “aqui agora” me afeta e me faz agir. Trago a teimosia da esperança, mas a força da resiliência, do resistir e (re)existir. Isso tudo pra dizer que não tem sido fácil. Não. Não tem sido pra ninguém. Dia a dia ser confrontado com a realidade que se apresenta, com a sensação de impotência, como naqueles sonhos (que são pesadelos) que você corre, corre, mas nunca alcança a porta para entrar e se salvar. Não, não tem sido nada fácil.

Às vezes parece, até, quase impossível continuar. Não é só a sua dor, o seu trabalho que tá de cabeça pra baixo, o seu emocional, a sua sanidade... É tudo. De todos. É a dor do outro, que por muitas vezes desligamos a televisão ou saímos da sala pra não ver, mais uma vez, mais uma dor...

Perdi as contas de quantas vezes já chorei vendo uma notícia, sabendo de um parente, de amigos de amigos ou alguém conhecido que não resistiu. O que me conforta é que enquanto eu chorar, me indignar, esse grito pulsar... eu ainda respiro. Eu tenho medo quando não sentir mais isso. Eu tenho medo da banalização. Eu tenho medo da não dor, da não lágrima, dos números em cima de números. Eu queria. Não, eu quero falar pra você que tudo vai ficar bem. Que vai melhorar, que vai passar.

Eu quero que você acredite nisso.

E enquanto escrevo eu, também, tento, desesperadamente, acreditar.

E só consigo pensar que o que podemos fazer, agora, é nos cuidarmos, uns dos outros, nos acarinharmos e nos protegermos. Não sei há muito mais que podemos pensar ou fazer. Fico tentando descobrir. Mas tenho tentado entender, também, o que o Universo tem pedido de nós. O que podemos oferecer e melhorar. E vibrar em conexões de boas energias, entrelaçando correntes de amor com as pessoas que nos são queridas, ajuda e muito.

O que é fazer a nossa parte senão lutarmos, usarmos de nosso lugar de fala para reivindicar, ir para o embate quando se faz necessário, resistir, mas também silenciar, se auto proteger, cuidar, sorrir, amar e continuar...

Continuar apesar de...

(Me solidarizo, e junto sua dor a minha, a todos e todas que perderam um familiar, um amigo, um amor, um ente querido para a Covid).


Izabel Cristina é Licenciada em Teatro, gestora de cultura e Especialista em Acessibilidade Cultural, atriz, dramaturga, diretora e professora de teatro. Desde 2014 coordena o Departamento de  Artes Cênicas da SMCEL- Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e lazer de Gravataí/RS


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2 Comentários

  1. Maravilhoso! Me identifiquei da primeira à última linha.

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    1. Yvone querida, obrigada pelo teu afeto e presença sempre. Estamos distante, mas conectadas pelas palavras, escritos, trocas... Tu é maravilhosa e escreves muito bem. Me identifico muito também 😍💚🧡💜🤩👏🏼

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