RESITÊNCIA SONORA - AUMENTA QUE ISSO
É ROCK N' ROOL, É ATITUDE!
Estreou sexta dia 18/06 na web rádio www.commusica.com.br o programa capitaneado pelo bardo do underground Fabio da Silva Barbosa, o Resistência Sonora. Fábio é um dos membros mais antigos do ColetiveArts e colunista com seus Malditos Teclados Bailarinos .
O Fabio é um ativista incansável, poeta de um cotidiano em que muitos insistem em não querer ver, uma espécie de "Lou Reed " caminhando pelo lado selvagem da vida, um Allen Ginsberg criando seus "uivos", um cronista do maldito, um verdadeiro punk. Quando estive com o programa Psycho Killer em uma web rádio (em breve em podcast) ele era responsável pelo Bloco Caído, o bloco da "MSB" ou "Música Selvagem Brasileira e agora leva a mesma para a Expedição CoMMúsica. E fui conversar com ele sobre esse novo projeto. Confiram abaixo entrevista com o bardo Fabio da Silva Barbosa
Fabio da Silva Barbosa: Como ouvinte faz muito tempo. Quando ainda era pequeno tinha um programa que não lembro o nome, mas que fazia minha cabeça. Lembro mesmo a partir da adolescência, os programas de rádio da Fluminense FM - A Maldita. A gente ficava com a fitinha esperando pelos sons que queríamos para apertar o Play e o Rec juntos e gravar. Aquilo era mágica. Ficávamos até altas horas esperando os programas mais porradas. Durante a faculdade de jornalismo tive alguma experiência gravando matérias comunitárias para programas da rádio universitária. Nesta época, formava o projeto Comunidade Editoria, com o Luiz Henrique, e idealizamos uma rádio de poste para o Morro do Zulu, em Niterói, Rio de Janeiro. A rádio de poste nunca saiu.
Mas foi um pouco depois disso, não vou lembrar exatamente o ano, que veio a experiência de fazer um programa de rádio de forma mais direta. Talvez essa parte da história tenha começado no dia do aniversário da minha companheira... Pelo menos para mim... Também não vou lembrar qual aniversário... Estamos falando de coisas que aconteceram faz muito tempo. Eu sei dizer que estava com ela e meus filhos reunidos na sala de nosso apartamento comemorando quando ouvi alguém me gritando lá embaixo. Olhei pela janela e vi Victor Durão do outro lado da calçada, encostado em um carro. Parece que estou vendo a risada dele quando me viu chegando à janela. Desci e foi uma confraternização quando nos encontramos, pois já fazia algum tempo que não nos víamos. Ele disse que sabia que eu morava ali, mas não sabia o apartamento ou andar. Acho que a última vez que havíamos nos encontrado antes disso foi em um show do Bezerra da Silva, na Universidade Federal Fluminense. Aquele show foi doido. Mas voltando a este nosso reencontro, ele me falou que tinha conseguido um horário em uma rádio comunitária, queria montar um programa porrada de som underground e resolveu me chamar para compor a equipe. Foi aí que nasceu o Hora Macabra, programa que ia ao ar toda sexta, à partir da meia noite. Durão contava com total confiança do dono da rádio e ficava com a chave. Abríamos o estúdio, vazio aquela hora, para o ritual de resistência. Aquele estúdio montado, com todos os equipamentos necessários, ficava a nossa disposição. Foi fantástico. Nossa equipe era formada por mim e Durão trabalhando no set list, roteiro... e toda concepção do programa, Cara de Pau compunha a mesa (éramos os três na volta daquela mesa redonda cheia de microfones) e Lhuk pilotando a mesa de som. O programa varava a madrugada. Uma loucura. Tínhamos hora para começar, mas a coisa não acabava nunca. Um verdadeiro massacre sonoro periódico. Como não acontecia programa antes de segunda, tínhamos só de colocar o som mecânico quando saíssemos. Algumas vezes saíamos com o Sol nascendo. Aquela estrutura era uma concepção bem diferente das web rádios. Tínhamos uma sala toda equipada para levar aquela história ao ar. Apresentávamos muita informação do que rolava na cena contracultural, convidados... Tínhamos poucos ouvintes, mas estes poucos eram fiéis e curtiam aquele absurdo que durava horas ininterruptas. Quando o telefone da rádio tocava de madrugada, era uma festa. Um ouvinte entrando em contato. O Hora Macabra merece muitas páginas para contar toda a saga e tentar passar um pouco do que era realmente aquilo. Teria de fazer nossa própria bíblia. Páginas e mais páginas de insanidade. Muitas histórias.
Depois vim para o sul e participei de alguns programas como convidado. Fui tanto em rádios comunitárias, como nos estúdios enormes da Ipanema FM. Tive contato também com a web rádio nessa época. Um choque de realidade. Bastava um computador... um mínimo de alguma coisa em um espaço pequeno para levar um programa ao ar. Anos depois escuto Psyco Killer e penso em um bloco para o programa... O resto já passou do ponto do início e já virou história contemporânea.
Jorginho: O que a música significa para você?
Fabio da Silva Barbosa: A música mudou minha vida. Foi através dela que veio todo o resto (o teatro, o cinema, a escrita, a rua...). Transformou o menino tímido e infeliz que sofria Bullying onde quer que fosse, na besta do apocalipse.
Jorginho: Como você enxerga o movimento do rock de hoje?
Fabio da Silva Barbosa: Existem focos de resistência, mas, de forma geral, como todo o resto que rola nestes tristes tempos, perdeu a essência, tá tudo muito limpinho, higiênico, bem comportado e chato. Onde estão os rebeldes incendiando o mundo? Virou apenas uma forma de ganhar dinheiro, buscando fórmulas fáceis e comerciais, buscando tendências e se restringindo a rótulos. Estão matando a criatividade através de aparentes facilidades e as pessoas não estão percebendo no que estão se transformando. Hoje as pessoas são menos que máquinas, pois as máquinas exigem um mínimo de complexidade, ao menos um simulacro de complexidade, de facetas... As pessoas estão virando marionetes de plástico. Nem de madeira, pois a madeira exigiria algo de real e orgânico.
Jorginho:
Como surgiu o RESISTÊNCIA SONORA?
Fabio da Silva Barbosa: A Tuca me convidou para fazer um programa na rádio Expedição com Música e começamos a conversar sobre. A ideia foi desenrolando até virar o Resistência Sonora. Em menos de uma semana o programa já estava gravado e pronto para ir ao ar. Mas como tudo que me presto a fazer, o programa vai pegando forma a cada dia, a cada programa. A coisa só está finalizada quando termina e vira outro projeto, outra ideia... Mesmo assim não termina, né? Está presente e se desenvolvendo no por vir, com outro nome, sob outra forma.
Jorginho: Deixe uma mensagem para o público leitor e ouvinte.
Fabio da Silva Barbosa: Saiam dessa acomodação doentia e sintam o sangue pulsando nas veias e o fogo queimando nas ventas. As armadilhas são muitas e é muito fácil criar uma zona de conforto estéril e rasa, onde nos tornamos escravos de uma pseudo segurança.
Leiam textos longos, vejam vídeos enormes e tenham paciência de escutar o outro sem apertar aquele estúpido botão de acelerar o áudio. Estamos perdendo nossa capacidade de comunicação, de leitura, de reflexão, de escuta, de empatia. O mundo virtual não substitui o mundo real, as sensações táteis. Temos de sair deste lodo em que estamos nos afundando. Precisamos voltar a respirar sem tantas coleiras apertando nossos pescoços, voltar a viver de verdade.
RESITÊNCIA SONORA, TODAS ÀS SEXTA ÀS 18h na EXPEDIÇÃO COMMÚSICA
Para escutar a Rádio Expedição CoMMúsica: https://www.commusica.com.br/estacoes-de-radio/
Para conhecer um pouco do daquele que foi um dos programas mais undergrounds do brasil, o Hora Macabra: http://horamacabraniteroi.blogspot.com/
Face da Expedição: https://www.facebook.com/expedicaocommusica
Insta da Expedição: https://www.instagram.com/expedicaocommusica/
"O mundo virtual não substitui o mundo real, as sensações táteis. Temos de sair deste lodo em que estamos nos afundando. Precisamos voltar a respirar sem tantas coleiras apertando nossos pescoços, voltar a viver de verdade."
- Fabio da Silva Barbosa
Jorginho |
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1 Comentários
Grande entrevista ... excelente mensagem! Uma reflexão sobre o ambiente contemporâneo feito por alguém que, como eu, viveu outra época, conheceu outro contexto. Geração X! KKK ... uma intertextualidade interessante ... conheci o Rio nos anos 90, final dos anos 90 ... trabalhei um tempo atendendo ao Bradesco (fui técnico de campo) ... conheci muito a região do Aterro do Flamengo, Catete, e regiões próximas, pois ali fiquei instalado ... uma cidade maravilhosa! E vivi muito este período das rádios ... a passagem em que fala sobre ficar com os dedos posicionados no gravador para "gravara" as músicas que tocavam, lembro bem! detestava quando, em algum ponto da música, as rádios colocavam seu logo sonoro ou algo do tipo ... o que era bem comum. Ouvia muita a Rádio Cidade, tinha um programa que tocava aqui no Sul direto do Rio de Janeiro ... gosto do sotaque carioca. Muito bom! Reforçando, ótima mensagem!
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