Clique leia na íntegra Júlia, a reprimida
Na obra Amor Monstruoso, Ana Pepper nos traz três narrativas eróticas em quadrinhos, que misturam conto de fadas, desejo feminino , amor, sexo, ternura e ardor. Fazendo o leitor ficar com um mistura de sensações, que vão do excitamento até a contemplação dos belos traços e da narrativa.
Por ficar encantado com tão belo trabalho, fui conversar com Ana, saber um pouco mais sobre essa artista que veio temperar de maneira empoderada e apimentada os quadrinhos brasileiros ( e espero que em breve do mundo).
Ana Pepper
Jorginho: Quando surge o desenho na vida da Ana?
Ana Pepper: Como para muitos artistas, desde criança. Crio personagens a vida toda, mas só comecei a estudar formalmente quando terminei o ensino médio. Hoje, faço storyboards para séries de animação e quadrinhos autorais.
Jorginho: O que o desenho e a arte representam para ti?
Ana Pepper: É difícil dizer o que representa uma coisa que sempre te acompanhou, como um braço ou uma perna. Meus personagens salvaram minha vida inúmeras vezes, independente se eu tivesse 5 ou 20 anos. Eles trouxeram para a luz ideias e sentimentos muitas vezes bagunçados e me fizeram evoluir psicologicamente. Quando você não tem uma religião ou um Deus em que acreditar, a arte se torna uma muleta para você suportar as dificuldades da condição humana.
Jorginho: Quais tuas maiores influências?
Ana Pepper: O filme "Dark Crystal" (1982), o jogo "Oddworld - Abe's Oddysee" (1997), a série de animação "Aaaah! Monstros!" (1994), entre muitas outras produções de fantasia. Gosto quando esses mundos metaforizam o nosso e significam algo mais profundo.
Jorginho: Como surgiu a ideia de Amor Monstruoso? Fale deste projeto que é muito lindo.
Ana Pepper: Obrigada! Um dia, tive uma fantasia sexual maluca com uma planta carnívora gigante. Pensei em seguida, só de brincadeira: "Isso dava uma bela HQ erótica!" Eu não ia desenhar essa história, por medo de ser julgada, mas me dei conta de que isso não deveria parar nenhum artista. Então, comecei a esboçá-la e a gostar mais e mais do que estava se formando. Logo depois, um segundo e um terceiro monstro surgiram (Cid e Jack).
Percebi que a forma de monstro, para mim, representava o lado bruto e selvagem dos homens. Mas essas características não necessariamente estão associadas à maldade. Os monstros dos meus quadrinhos, além de não fazerem nada que não seja consentido, são perfeitamente capazes de sentir ternura, empatia e amor. Foi a partir desse conceito que o projeto amadureceu.
Quando lembro do medo que senti de lançar esses quadrinhos, fico feliz por ter superado isso. "Amor Monstruoso", no momento, é um best-seller na Amazon dentro da categoria de romances gráficos eróticos. Isso é surreal!
Jorginho: Como é pra você lidar com o erotismo? Sofreste algum preconceito?
Ana Pepper: Lidar com o erotismo é lidar com algo que faz parte da nossa existência. Por isso, não pretendo abafá-lo de minha arte quando ele pedir para aparecer de novo. Até agora, não sofri preconceito. Mas, se acontecer, estou preparada para relevar e seguir adiante.
Jorginho: Pretende lançar Amor Monstruoso em publicação física?
Ana Pepper: Eu adoraria! Mas ainda estou estudando a melhor forma de fazer isso.
Jorginho: Tem mais projetos na linha de quadrinhos para adultos ?
Ana Pepper: Sim, muitos! Inclusive, já tenho os três contos para "Amor Monstruoso 2". No momento, estou desenhando os quadrinhos de "Driks 2" (outro quadrinho de minha autoria).
Jorginho:
O que a Ana está lendo?
Ana Pepper: "Atnomen", no Tapas (é muito bom)!
Jorginho: Como está sendo na sua visão a pandemia e o caos político que estamos vivendo?
Ana Pepper: Não entendo de política, então não comento. Só acho que o Bolsonaro é a mais desprezível das criaturas. Esse sim é um monstro de verdade, não os meus.
Jorginho:
Você acredita que hoje temos mais espaço para mulheres na produção de quadrinhos para adultos?
Ana Pepper: Sim. Isso é uma necessidade, pois elas também precisam ter voz nesse nicho das histórias em quadrinhos.
2 Comentários
Adorei!
ResponderExcluirExcelente entrevista! Já conhecia o trabalho de Aline Daka, grata surpresa deparar com Ana Pepper ...
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