ARTE E CULTURA

 

A personalidade e a música potente de LALO OLIVEIRA


Natural de Florianópolis/SC Lalo é uma das gratas surpresa que encontrei durante a pandemia. Dono de uma guitarra potente, um músico fantástico e com um grande pensamento reflexivo sobre o mundo que o rodeia. Pensamento esse que nos encanta e se reflete em suas composições, nos levando a viajar sonoramente em cada riff. 

Luiz Augusto Lopes de Oliveira (L.A.L.O), começou a aprender a tocar violão meio sem querer com sua mãe aos 12 anos de idade. Aos 16 anos, ganhou a primeira guitarra e começou a tocar em bandas punk/hardcore pela cidade. Foram alguns anos tocando nos bares da cidade e compartilhando experiências e sons com uma variedade de outras bandas. Com influências de Bad Religion, Pennywise, Nofx e diversas outras bandas de punk rock/hardcore e trash metal, Lalo, hoje com 39 anos, montou seu home studio e compõe de forma independente suas músicas.

Lalo recentemente lançou a canção "Light in the darkness" e prepara seu primeiro EP "Peace full of war" e nós do Arte e Cultura fomos conversar com esse artista que prova com sua música e suas reflexões que em Santa Catarina tem um pensamento critico e reflexivo que vem ressurgindo frente a onda fascista que assolou o estado e o país.


LALO OLIVEIRA

 Light in the darkness 




JORGINHO: Quem é Lalo Oliveira? Como você se define?

LALO OLIVEIRA: A noção de unidade, aquilo que nos leva nos reconhecer como nós mesmos, o que forma a noção de Eu e o que nos leva a procurar lugar na existência, não á nada mais do que uma construção social, onde, através de filosofias liberais que, marketing e controle social, através das instituições civis e a grande mídia impõe, sob coerção, e que é percebida apenas de forma inconsciente, uma noção de individualidade, personalidade e autoconhecimento, que em sua maioria é inalcançável. 

Quem realmente somos, se confunde com o bombardeio de informações e “obrigações” enquanto ser consumidor. Para saber quem realmente sou, tenho que me despir de toda influência que minha mente é bombardeada ininterruptamente, dia após dia, desde o meu nascimento.

De forma óbvia, esse é um trabalho frustrante, já que de forma essencial, vivemos em meio ambiente, onde cada sentido absorve essas influências o tempo todo.

A noção de Eu do homem moderno certamente é completamente diferente da noção de Eu do homem pré histórico, já que suas experiências cotidianas e como interpreta suas experiências estéticas são completamente diferentes do homem moderno.

Sob uma perspectiva neurológica, nenhum neurônio age de forma isolada. Cada disparo neurológico influencia uma cadeia de neurônios ao seu redor que irão proporcionar efeitos além daqueles esperados de forma consciente.

Novas conexões neurológicas são feitas a cada ação do corpo e da mente, sendo que a cada novo pensamento, conexões que nunca foram feitas, agora se ligam.

Assim sendo, não posso afirmar que, quem fui ontem sou hoje. Heráclito já refletiu dizendo: “Tudo flui. Quando entramos no rio pela segunda vez, nem nós nem o rio somos os mesmos”.

Sou um conjunto daquilo que desejo ser mesclado com a frustração de ser aquilo que fui ontem.


JORGINHO: Sua guitarra e potente e seu pensamento filosófico, uma combinação que sempre traz bons resultados, quais as tuas influências?

LALO OLIVEIRA: Nas minhas músicas eu carrego não apenas minhas influências musicais, que são explícitas ao se ouvir alguma música minha, mas também toda uma carga de vivência e interpretação do mundo em que participo.

Durante toda minha vida questionei qualquer tipo de autoridade, seja social, econômica, religiosa, política ou filosófica, me envolvendo em movimentos sociais e manifestações políticas. Sempre me identifiquei com filosofias libertárias, fazendo delas um norte para minhas ações ao enfrentar a autoridade, seja do Estado, seja do capital, como nas minhas atitudes cotidianas.

Tive, também diversas experiências psicodélicas com diversos tipos de substâncias que me fizeram expandir o nível de consciência e ter a noção do autoconhecimento.

Então, unindo filosofias sociais libertárias com métodos de expansão da consciência, minhas músicas saem como uma catarse lógico-emocional para tentar expressar a convergência entre política, filosofia e espiritualidade dentro de um contexto contracultural.


JORGINHO:  Suas músicas são instrumentais e são fascinantes, como é teu método de
composição? Pretende algum dia letrar elas para você ou alguém cantar?

LALO OLIVEIRA:  Muito obrigado pelo elogio. Isso sempre fortalece.

A forma como componho as músicas não tem muito segredo. É sentar na frente do computador, pegar a guitarra, tocar por alguns minutos. Após isso, alguns riffs já começam a sair da manga.

Então eu programo a bateria e vou gravando os instrumentos, botando efeitos, mixando e masterizando. Chamo meus projetos de “Frankenstein”, pois eu componho em partes e vou costurando.

O fato das minhas músicas serem instrumentais se deve apenas ao fato de eu não saber cantar e não gostar de me expressar com letras. Acho que é um bloqueio. Mas já estou planejando quebrar esse bloqueio, além de fazer parcerias com vocalistas de outras banda para botar voz nas músicas. Mas é com o tempo.


JORGINHO: Você como ser reflexivo, como enxergou o mundo imerso nesta pandemia?

LALO OLIVEIRA: O Brasil tá uma bagunça. Eu ainda me lembro o início desse movimento que culminou em um governo proto-fascista atual.

Em 2013, quando o movimento Passe Livre saiu às ruas reivindicando a diminuição do preço das tarifas do transporte coletivo pelo país todo, a direita conservadora, através de ensinamentos de gurus neoliberais norte-americanos, enxergou uma tática que eu muito certo e atraiu os olhos e o gosto de uma parcela da população que nunca havia reivindicado coisa alguma a vida toda. Essa tática foi a apropriação de elementos da esquerda para legitimar o golpe que estaria por vir em 2016, como chavões e métodos de ação direta.

Durante o período entre 2013 em 2021 muita água passou por debaixo da ponte e a persona autoritária, racista, homofóbica e fascista de Bolsonaro foi se tornando cada vez mais presente.

Enfim, ele foi eleito apesar de todos saberem qual seu caráter. Ele nunca escondeu quem era. Nunca camuflou aquilo que pensa de verdade. Sempre disse que apoia a tortura e que daria um golpe de Estado. Mesmo assim foi eleito.

Na pandemia, sua burrice, autoritarismo e fascismo ficaram (mais) explícitos, e como todo sociopata, só se preocupa com seu poder e em causar discórdia para facilitar um futuro golpe.

Bolsonaro é responsável por mais de 560 mil mortes no Brasil.

Temos um presidente miliciano. Sempre soubemos disso. E isso não importou. É Triste.
                     

                   The Fine Line of Balance


JORGINHO:  O que você acha do momento político do Brasil?

LALO OLIVEIRA:  Sempre lutei em causas sociais e políticas, principalmente entre 1997 à 2007. Porém, nessa época, a democracia, apesar de capenga, não corria riscos. Então eu me permitia anular meu voto como forma de insatisfação em relação ao Estado e ao capital.

Atualmente a democracia, no Brasil, está correndo perigo. Tanto de forma institucional quanto de maneira social e civil, onde parte da população se identifica, a troco da ignorância, com o autoritarismo e a sociopatia de Bolsonaro.

Então, analisando sob essa perspectiva, hoje em dia eu não me permito mais anular meu voto, pois no presente contexto nacional é preciso se posicionar enquanto democrata.


JORGINHO: 
Como está sendo buscar espaço teu trabalho instrumental em um país que na maioria das vezes tem preguiça de pensar e buscar coisas diferentes?

LALO OLIVEIRA: O ser humano é atraído por narrativas, histórias. O homem gosta de se identificar com outros homens. Faz parte da natureza social do homo sapiens.

Essa identificação metafísica é conseguida de maneira mais fácil, na música, quando há uma letra na composição. Por isso, ao criar uma música, eu busco fazer uma reflexão sobre os motivos daquele riff e na hora da divulgação, através de texto, tento me conectar ao público com mais empatia.


JORGINHO:  Fale para o leitor sobre tua música de trabalho “Light in the darkness”.

LALO OLIVEIRA:  Light in the darkness foi a consagração do fim de um período de trevas mental em que passei

Ansiedade, depressão e pânico e a busca ininterrupta pela cura foram as inspirações para compor a música.

Quando adoecemos não enxergamos horizonte, porém há luz. Basta seguir o caminho na escuridão que uma hora, lá no fundo do horizonte, um brilho irá aparecer. Então basta seguir que a luz irá aumentar e, com o tempo, dominar a escuridão.

Cura é uma entrega, um abandono de si mesmo. A morte do passado e o extermínio da auto importância. É necessário se despir de todo sistema de crenças que nos prendem à nossa história pessoal e que impede de seguir em frente.


JORGINHO: 
E sobre “Peace full of war”? Fale sobre ela e sobre seu primeiro EP que está para sair.

LALO OLIVEIRA: Peace full of war é uma reflexão sobre a natureza do ser humano. Se é que essa natureza existe.

Durante toda a história da antropologia, se discutiu se o ser humano é bom ou mau na sua essência. Essa divergência perdura até hoje, o que prova, até o presente momento, a falta dessa “natureza humana”. O homem é uma construção social.

No entanto, durante a toda a história da humanidade, o homem nunca esteve em harmonia com o planeta e os outro seres vivos que nele habitam.

O homo sapiens conquistou o planeta na base da guerra, escravidão e genocídios. Da pré história à modernidade, a regra sempre foi a violência, com a paz não passando de um ideal utópico que a humanidade busca alcançar quase de forma desesperada. No século XX, no planeta inteiro, não teve 1 minuto em que não houvesse alguma guerra pelo globo.

O erro, ao meu ver, é querer igualar o ser humano aos deuses (ou ao conceito de deuses, já que apenas o conceito existe) e se distanciar dos outros animais.

Somos tão animais quanto um chimpanzé ou um leão, com a única diferença que temo um sistema de regras e comportamentos que, a partir deles, criam-se conceitos de bondade de maldade.

Quando nos aceitarmos como chimpanzés erguidos e não como anjos caídos, iremos aceitar nossa natureza violenta, e assim sim, começar a nos enxergar como agressivos e poder mudar isso.

Conhecendo a regra podemos quebrar a regra.


JORGINHO: E o que o Lalo planeja para o futuro?

LALO OLIVEIRA: Atualmente estou trabalhando em mais um single que será lançado logo mais e, também, na pré-produção de um EP com 5 faixas que ainda não tem data para ser lançado.

Estou estudando produção musical para poder aprimorar minhas produções e poder produzir outras bandas e artistas.

Seguindo em frente, foguete não tem ré.

            The Little Picture In My Life | Marcha da Maconha | Legalize


JORGINHO: Lalo, muito obrigado pela tua atenção, gostaríamos de pedir para deixar uma mensagem para o público leitor.

LALO OLIVEIRA: Muito obrigado pela conversa e pelo apoio. Foi um prazer. À você que leu a entrevista e se identificou com algo, lhe convido a conhecer meu trabalho e à entrar em contato comigo para trocarmos ideia. E de forma cômica, mas não menos verdadeira, citarei o mestre ET Bilu: “Busquem conhecimento”.

FORA BOLSONARO!

                      Dogs are not balls



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"Quando adoecemos não enxergamos horizonte, porém há luz. Basta seguir o caminho na escuridão que uma hora, lá no fundo do horizonte, um brilho irá aparecer. Então basta seguir que a luz irá aumentar e, com o tempo, dominar a escuridão."
- Lalo Oliveira


Jorginho









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