TECITURA

 

Conselho Fênix



Terminei! Dezessete horas de um sábado, 14 de agosto. Terminei a ata do Fórum do Conselho Municipal de Políticas Culturais realizado em Junho. Por motivos afins, o antigo secretário não conseguiu finalizar o trabalho, prontifiquei-me então a fazer esta ata através do vídeo gravado da reunião e apontamentos dos chats (havia dois). Mas deu trabalho! 2h46min de reunião. E que reunião! Lembro ter participado dela como convidado. Recebi o convite para fazer parte deste conselho após esta reunião, nomeado pela Diretora Cultural Simone Lourenci. Uma honraria muito grande!

Os Conselhos Municipais foram instituídos há um tempo (acho que há dez anos), e têm como objetivos a atuação concomitante ao poder público, cumprindo papel de fiscalização e controle junto à Administração, que é quem vai gerir o orçamento, e são atuantes em todas as áreas. Este Conselho ao qual faço parte é o CMPC – Conselho Municipal de Políticas Culturais de Gravataí-RS, trabalhando em conjunto com a SMCEL – Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer. Quantas siglas! Nunca fui bom em guardar siglas. SMCEL é hoje o que foi a Fundarc quando entrei, com mudanças de status. De fundação passou a secretaria. Mudanças sutis, com vantagens e desvantagens, tudo dentro do direito administrativo.

Este Fórum, do qual eu falo, foi de relevância para o setor cultural de Gravataí. Agregou pessoas diversas, agentes culturais, artistas, músicos, escritores, gente do teatro, da diversidade, do folclore, do tradicionalismo, além de representantes dos poderes executivo e legislativo municipal. O mundo está mudando! E com ele, há necessidade de dinamismo, de transformação, de adaptação. Não dá para ser e estar estático! O serviço público se inclui nesta observação. Mudanças sutis percebemos em nosso fazer diário. Claro, houve mudanças de governo recentemente, e este fator já está reverberando em algumas ações.

Aqui, na “Aldeia dos Anjos”, está ocorrendo uma evolução na maneira de ver e pensar a cultura. Acredito que não só na cultura, mas em vários outros setores. Talvez uma aproximação maior com a sociedade civil seja uma das preocupações deste atual governo; aqui disserto sobre a maneira como eu vejo o ambiente, sobre minhas observações.

O atual conselho denomina-se Conselho Fênix – de Renovação, de Renascimento – e é esta a impressão que têm passado à comunidade artística e cultural. Nomeação de servidores como membros deste conselho (eu me incluo) traz o conhecimento de técnicos capacitados e a continuidade que o serviço público oferece através do servidor público, propondo andamento das propostas, memória e engajamento, constituindo um diferencial que percebo desta administração, representada pelo Secretário Leandro Ferreira e e pela Diretora Simone Lourenci, em descentralizar e dar voz, autonomia aos técnicos. A diretoria do CMPC é formada pelo Presidente Sr. Waldemar Maximiliano (Max) e por Marcilene Forechi, artistas e agentes culturais com uma bela história no município, seguido de Jhonatan Gomes, o representante do Teatro, sociedade civil, um jovem talentoso, de grande futuro. Os indicados pelo governo que fazem parte da diretoria somos eu, Mari Velleda e Izabel Cristina.

Mari Velleda e Izabel Cristina são incansáveis! Conheço-as e acompanho seus trabalhos desde que comecei no serviço público. Izabel Cristina é inquieta! Atriz talentosa, Técnica Superior de Artes Cênicas, trocou a serra gaúcha para se profissionalizar em Porto Alegre e emprestar seu talento ao município, como servidora concursada. Seu trabalho é de excelência! Através de suas oficinas, criou o grupo teatral GET – Grupo de Estudos Teatrais, de Gravataí-RS, é uma formadora de talentos. Acompanhei diversos ensaios desta turma pra lá de bacana, muitas vezes fui escalado para fazer a recepção e acompanhá-los nos ensaios lá no mezanino da Biblioteca. Pablo Wuff, Jackson Reis, Bryan Ramos, Nathalia RL e tantos mais são fruto deste projeto maravilhoso. Sim, ensaiam no mezanino! Pois não há local adequado para eles ... diversas vezes perguntei para  Izabel como eles conseguiam tomar conta dos palcos, locais tão grandes e absolutos, ensaiando em espaço tão reduzido. Apesar da boa vontade, não é o local feito para esta atividade. E eles conseguem! Com garra, amor no coração e muito boa vontade, conseguem apresentar cada trabalho mais lindo que o outro! Assim como sua “mestre” Izabel Cristina, estes talentosos atores e atrizes
são incansáveis! E Inquietos. São. Não param! Kkkkkk

Mari Velleda. Outra Inquieta. Quiosque da Cultura de Gravataí está em ótimas mãos. Oriundas do mesmo concurso que eu, Izabel e Mari estavam há mais tempo quando de minha entrada. Mari confere uma energia àquele ambiente, uma propriedade e conhecimento que faz com que os artistas visuais sintam-se em casa, tenham liberdade para experimentar, para expor. E assim ocorrem diversos eventos importantes, premiações, mostras, como o Prêmio Dana e tantos outros que conferem oportunidade para que os artistas apresentem seu trabalho.

Concurso Público. Vamos falar um pouco sobre Administração Pública? Este concurso da extinta Fundarc – Fundação Municipal de Arte e Cultura, foi concebido lá atrás, no governo Rita Samco. Realizamos as provas e foi homologado em 2011, época em que a
Fundação era presidida por Amon Costa. Houve a passagem do tempo, e os chamamentos. Fernanda Fraga era então a Secretária (entre tantas qualidades, Fernanda é dona de uma oratória excelente! Uma grande qualidade!) e foi esta agente política que ficou responsável pela transição, pois a Fundarc existia então há pouco mais de duas décadas, e seus funcionários eram servidores cedidos de outras secretarias e órgãos, cargos em comissão e estagiários. Esta transição de pessoal, algo que ocorre muito na iniciativa privada quando há incorporação de uma empresa por outra – bancos, por exemplo – eu vejo como uma evolução, com reflexos no agora. Fernanda esteve à frente de duas grandes transições, esta com a chegada dos concursados, e após, com o advento da extinção da Fundarc e criação da SMCEL. A diferença nesta última foi de caráter Administrativo principalmente, as equipes de trabalho permaneceram quase iguais, visto que alguns colegas foram realocados, pois não havia mais necessidade de departamentos como Compras, Licitações, Informática, RH e Contabilidade. Disserto sobre estas questões para mostrar a importância das decisões tomadas. O impacto de uma decisão tomada hoje será visto, algumas vezes, anos após. Uma decisão tomada por um agente político em 2010 conferiu a possibilidade de estarem atuando hoje técnicos especialistas em suas áreas, o que, por si só, agrega qualidade e continuidade.

Voltando ao Fórum, que junção de mentes e saberes! Quanta gente linda, profissionais, técnicos, artistas, promovendo um debate riquíssimo! Pautas próprias e ideais políticos postos de lado, o foco foi tratar e debater questões voltadas ao setor cultural e as articulações com outras áreas tão importantes quanto esta, como a saúde, a educação, a assistência social, o turismo e tantas mais, abrindo um leque de possibilidades de visualização de propostas e projetos ricos para o futuro.

Pandemia. Uma época difícil que passamos, e como o mundo vai ficar após a passagem desta onda da Covid19, só o tempo vai dizer. O fato é que há novos elementos, e estes elementos mudaram a cultura dos povos de forma geral. Nesta reunião, Marcilene falou com muita propriedade sobre o que é Cultura, citando palavras do grande Gilberto Gil. Enquanto humanos, nós somos seres culturais. Não há humanidade sem cultura. E eu complemento: seres históricos. Nascemos, fazemos parte da história, somos história. E estamos passando por um momento histórico como há muito não se via. A última pandemia desta escala deu-se há mais de cem anos. Os reflexos estão aí, percebemos as mudanças nos comportamentos e atitudes. Coisas que nem pensávamos, hoje fazem parte de nossa cultura. Uso de máscaras, álcool em gel, cuidados redobrados, entre eles, o de evitar aglomerações. E este setor cultural sofreu sobremaneira! O artista precisa de público. O circo, o teatro, o cinema, a música, os variados eventos, o tradicionalismo, todas as formas de entretenimento. A Cultura sofreu! Teve que se reinventar. Foram necessárias mudanças, e muito conteúdo online foi criado. As pessoas passaram a consumir mais conteúdo, mais informação. As redes sociais mostraram sua força como ferramenta de propagação de conteúdo, notícias. Grupos como os Coletivos de Artistas cresceram nas plataformas virtuais, com a criação de conteúdos para consumo online, e leis foram criadas, como a Aldir Blanc. O normal, como conhecíamos, não mais será. Teremos o “novo normal” quando finalmente esta pandemia for controlada e os protocolos sanitários arrefecerem. É hora de traçar estratégias, preparar o terreno e estar pronto para a chegada deste momento. E este Fórum proporcionou um debate riquíssimo!

Selma Fraga. Apresentada por Marcilene, Selma é convidada e representa a Secretaria de Ciência, Inovação e Tecnologia. Que pessoa interessante. Que Secretaria interessante! Uma inovação no município, esta secretaria tem a função de prospectar tecnologias em diversos setores, atrair investimentos, buscar recursos e financiamentos. Em minha época, como técnico, alguns clientes que eu atendia pelas empresas em que trabalhei faziam parte da Tecnopuc e da Tecnosinos, e também havia algo semelhante na Feevale, em Novo Hamburgo. Selma fala com muita propriedade e conhecimento, dissertando sobre formas de financiamento e afins, e as estratégias de criar Tics e Startups no município. Boas coisas vêm aí! Em se tratando de planejamento estratégico, percebi em Selma Fraga, tanto neste Fórum como nas reuniões posteriores, engajamento e conhecimento técnico sobre aquilo a que se propõe. Creiam, trabalhar com agentes políticos que demonstram tamanha capacidade e conhecimento é um fato animador. Boas articulações e implementações tenho certeza de que irão sair desta Secretaria.

A Comunidade Cultural se fez muito presente, com as palavras de Glau Barros, Matheus Dias, Jackson Reis, Simone Constante, Drika Carvalho, Paulo Adriane, Jorge Luiz, Ângela Xavier e tantos mais, todos e todas contribuindo com seus conhecimentos, suas visões e percepções, enriquecendo o conteúdo deste Conselho.

O Legislativo também se fez presente através da equipe do Vereador Tiago De Léon, contribuindo e sugerindo ações. Enfim, estamos diante de um renascimento. O que presenciei foram várias pessoas que vivem a Cultura, que trabalham a Cultura e que apresentam vontade de fazer acontecer, mudar, unir formas antigas com as novas de fazer Arte e Cultura, a busca de diálogo com o Executivo Municipal, a abertura de caminhos e o olhar para a Sociedade, para as Comunidades, para a Periferia, para a formação e o fomento deste setor tão importante em qualquer sociedade.

O pagamento por este engajamento? A colheita que o futuro pode proporcionar. Tudo faz parte de uma estratégia. Creio que Idalberto Chiavenato diria, na TGA, que trata-se do tal Conhecimento Conceitual. É o planejamento estratégico, está se fazendo história, as decisões tomadas e os passos dados terão reflexos nos anos vindouros. Todos e todas os Conselheiros e Conselheiras trabalham e emprestam seu tempo sem recebimento financeiro, não há FGs, não há gratificações de qualquer tipo. O que há somente é a vontade de ver acontecer, de realizar um sonho comum que é ver as Artes e a Cultura receberem a valorização merecida.



Sandro Ferreira GomesProfessor de Língua Portuguesa, Conselheiro Municipal de Políticas Culturais em Gravataí/RS, Servidor Público, Porto Alegrense, admirador das belas artes, do texto bem escrito e das variedades de pensamento.

Sandro Gomes














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