A doce nuvem rosa e a impotência da humanidade
Uma
realidade experimental e surreal invade a vida de faz-de-conta de uma história bem
contada nas telas cinematográficas, e vem a se converter como verdade na vida cotidiana
três anos depois do início da sua concepção. Inicio assim esse texto para
situar o leitor/espectador sobre a antevisão de Iuli Gerbase a respeito de uma
realidade distópica criada pela cineasta e roteirista no filme A Nuvem Rosa
(2021). Um gás tóxico, mortal, em forma de nuvens rosas (que inicialmente nos
remetem a doçura do algodão doce) espalha-se pelo mundo, criando um caos na
sociedade, obrigando as pessoas a ficarem trancadas em casa, vivendo e
convivendo com aquilo que lhes restou naquele exato momento do aviso sobre essa
situação.
Assim,
mostra-se o recorte da vida de um casal, Giovana (Renata de Lélis) e Yago (Eduardo
Mendonça). Dois jovens adultos, que se conhecem há pouco tempo, recebem a notícia
do aparecimento de nuvens mortais e a consequente necessidade de ficarem confinados
no apartamento em que haviam passado a noite juntos. Separados de suas famílias,
comunicam-se através da internet. A confiança de alguns poucos dias restritos a
essa convivência forçada transforma-se em anos de aflição e desesperança. O
contato humano escasso, a falta de notícia e solução sobre o tal gás, a mudança
de paradigmas frente a tudo que até então se conhecia e acreditava levam os
personagens a questionarem a vida, a convivência, a humanidade. Um filme que
traz angústia e proximidade com aquilo que estamos vivenciando em pleno século
XXI. O mesmo século que, em um passado não tão distante, era representado no
cinema como o grande ponto da (r)evolução humana.
Como não se sentir perturbado ante espelho tão significativo dos tempos pandêmicos de Covid-19 que atravessamos, com tantas faltas de respostas e resoluções sobre um problema que é mundial? O filme A Nuvem Rosa nos provoca em um ponto que ainda é extremamente frágil na sociedade: a nossa limitação e pequenez perante o que é desconhecido e/ou negligenciado, na saúde, na cultura, na educação, na política, na economia. Mesmo não abordando diretamente tais questões, leva o espectador a tecer considerações sobre a impotência que nos paralisa, quando algo sai da linha daquilo que já é previsto e considerado certo, para o desconhecido e aterrador, que pode demonstrar muito sobre o vazio existencial da espécie humana.
Com
estreia mundial no Festival de Cinema de Sundance (EUA) em janeiro de 2021, A
Nuvem Rosa contou com uma recepção positiva por parte da crítica, apontada principalmente
pelo diálogo que estabeleceu antecipadamente com uma realidade mundial pandêmica.
No Brasil, sua estreia oficial aconteceu no final de agosto de 2021, através da
produtora brasileira O2 Play, e está disponível para os espectadores na rede de
canais Telecine (https://www.telecine.com.br/filme/a-nuvem-rosa_26790).
O
ColetiveArts receberá Iuli Gerbase e os protagonistas do filme, Renata de Lélis
e Eduardo Mendonça, para um bate papo no podcast ColetiveSom, a voz da Arte. Em breve estaremos divulgando esse episódio para os ouvintes.
Acompanhem,
será muito especial.
Trailer A Nuvem Rosa:
Patrícia Maciel |
Patrícia
Maciel é doutoranda em Educação pela Unilasalle; Mestre em Artes Cênicas pela
UFRGS, com pós-graduação em Psicopedagogia pela UNIASSELVI/ RS, Gestão Cultural
pelo SENAC-RS, e Língua, Literatura e Ensino pela FURG; Graduada
em Teatro- Licenciatura pela UFRGS. Atua como docente e pesquisadora na área de
Artes e Educação, principalmente nos segmentos de artes, teatro, educação e
formação de espectadores. Desenvolve pesquisa em Pedagogia do Teatro, em
especial sobre Mediação Teatral, e escrita criativa. Membro fundadora do grupo
ColetiveArts, atuando na área de escrita literária.
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