CONTRAPONTO

 

Cobranças

É incrível como algumas pessoas conseguem viver a vida com tão pouca atitude. Contentam-se com o razoável que surge porque não querem fazer mais por si, portanto aceitam tudo que vier e isso já está bom. Vivem de oportunidades, como o amigo que pode emprestar, o familiar que pode doar, a promoção que pode surgir e o emprego que pode aumentar. Mas para outras pessoas - e nesse grupo eu me encaixo - chegam ao ponto do máximo ser visto como o mínimo sempre. Tudo que faz poderia ter feito melhor, nada ainda está bom, correm contra o tempo, tal qual o coelho de Alice, estamos sempre atrasados. A cobrança dorme abraçada conosco.

 

Esses dias, caminhando pelas ruas, um tanto perdida no turbilhão de angústia que os últimos dias têm me causado, eu tive mais uma epifania. “Por que me cobro tanto?”. Fiz uma retrospectiva da minha vida só este ano. Fiz milhares de coisas por mim mesma, sempre em busca de melhorar a vida, de alcançar meus sonhos. Mas estava vibrando na insatisfação comigo mesma, me julgando como se eu fosse pertencente ao primeiro grupo que mencionei.


Esses dois grupos extremos e diversos são doentios em igual, assim como todo e qualquer extremo. Ambos são prisioneiros da condição impensada a qual se submetem. O marasmo é tão difícil de burlar quanto o trem desgovernado do “nunca está bom”.

 

O caminho do meio é sempre a melhor receita. Certamente a nascente dessas duas condutas extremas está na criação de cada uma delas. Sem apontar dedos aos pais, que fizeram o que podiam por nós dentro das suas limitações de seres humanos, a maioria dos que foram criados com poucas tarefas, poucas regras, vivem uma vida sempre mediana, fazendo o mínimo para sobreviver. Em contrapartida, a maioria de nós, que fomos criados com muitas cobranças e muitas exigências, ainda vibramos nessa eterna corrida para a perfeição, que nunca será alcançada. E como é cansativo correr atrás dessa utopia!

 


Miriam Coelho é artista das imagens e das palavras

Miriam Coelho


03 ANOS DE COLETIVEARTS
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1 Comentários

  1. Mais um texto irrepreensível! Miriam Coelho, sempre promovendo reflexões importantes! E que ilustrações!!!!!

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