Campo quântico e relações (parte 1)
Nesse final de semana, fui a uma vivência em grupo de Constelação Familiar, a convite de uma amiga e terapeuta holística. Como nada é por acaso, esse convite foi uma confirmação de que eu devia e precisava estar ali. Se eu pudesse definir tudo em uma palavra, seria “forte”, mas gostaria de abrir minhas notas e percepções em relação a tudo que vivenciei nesse dia e em outros dias em que realizei a Constelação Familiar em atendimento privado.
Primeiro ponto que me chamou a atenção foi sobre a necessidade que algumas pessoas têm em agradar todo mundo. Pode ser facilmente confundido com ter a personalidade amável, ser muito pacífico, evitar conflitos pela paz do coletivo e gostar de fazer caridade.
Como podemos avaliar a diferença de uma necessidade de estar sempre fazendo tudo pelos outros e quando estamos apenas zelando pela paz e boa convivência? Quando nossas ações entram no limiar da nossa própria indignidade. Vou usar de exemplo o caso recente de uma colega, que muitos de nós vamos nos identificar em algum momento da vida.
Uma colega de trabalho, a qual tenho um imenso carinho, sempre aceita trabalhar de dupla com outra colega extremamente egoísta e prepotente. Essa colega querida sempre sai perdendo nas associações que faz com a outra, pois trabalha mais e seu esforço é sempre aproveitado pela parceira, porém o retorno é bem menor, ela recebe menos da metade do que dá e sabe muito bem disso, comenta sobre atitudes egoístas e prepotentes da outra com tristeza e pavor, mas concorda sempre em fazer essa associação porque “não se importa de ajudar a outra pessoa”.
Nós que estamos de fora, percebemos a imensa indignidade que essa pessoa puxa para si por vontade própria. Não falo aqui da lei da caridade, pois a caridade, o famoso “fazer o bem, sem olhar a quem”, diz respeito a ajudarmos pessoas que não têm o mínimo de condições de fazer ou ter aquilo que estão pedindo. Entende a diferença? A colega egoísta tem todas as condições do mundo de planejar e cumprir com suas obrigações sozinha, bem como fazer um trabalho realmente coletivo, que dê para ambas, mas prefere o caminho mais fácil sempre e, por sorte, esbarrou em alguém que permite.
Entrando na lei de reciprocidade e equilíbrio, que mostra a Constelação Familiar, as dinâmicas relacionais parecem um campo de xadrez ou de RPG. Nossos movimentos interferem na saúde das relações e trazem resultados a cada caminhada.
Durante o encontro de Constelação Familiar, as terapeutas nos posicionaram de diversas formas no campo de constelação (fomos peões do tabuleiro) para percebermos como funciona as dinâmicas relacionais e familiares. Quando um dá mais, consequentemente receberá menos, porque nunca vai receber toda aquela demanda excessiva de energia que envia. O outro, receberá mais do que precisa sem necessitar fazer grandes esforços. Isso será assimilado e sempre que o primeiro enviar um pouco menos, haverá cobranças do segundo, porque ele sempre se achará no direito de receber aquele excesso. Também acontecerá o alargamento da necessidade desse outro. Ele se acostumou a receber em excesso e sempre irá pedir ainda mais. Resultado: O primeiro da dinâmica se encontrará fraco, com fome, sem energia, enquanto que o segundo estará pesado, sobrecarregado e ainda querendo mais.
Essa é apenas uma das dinâmicas de uma relação tóxica, existem outras diversas. O correto é sempre a igualdade. Quando damos a mesma proporção de energia que o outro nos dá, a relação se torna saudável para ambos, leve e ninguém se sobrecarrega. Se o outro só pode nos dar pouco, o melhor que podemos fazer é nos retirar dessa relação, porque não podemos passar fome.
Toda essa atitude de dar mais do que recebe é explicada por carências que nasceram da nossa infância. Quando os pais não nos deram o apoio emocional que precisávamos, quando nos reprimiam e nos ignoravam, quando a dinâmica entre eles era tão tóxica que refletia em nós, filhos, e por aí vai.
Não existe como voltar no tempo. Seria mais ignorante ainda de nossa parte ir até eles - quando ainda estão vivos - e cobrar “por que você fez isso comigo? Por que não me deu o que eu precisava?” Nossos pais são tão seres humanos quanto nós, cheios de falhas, problemas e carências emocionais oriundas de suas infâncias também.
A melhor forma de curar isso, em primeiro lugar, é querer se curar dessa toxicidade. O segundo passo é curar dentro de si o entendimento do seu passado. Perceber que nossos pais já nos deram o mais valioso que poderiam ter nos dado: a vida. O resto, é pouco perto disso. Devemos ser gratos por todo o possível que nos fizeram e tomar a nossa vida para nós mesmos. O movimento é de transmutar a raiva, a rejeição, a mágoa, a carência que temos dos nossos pais em amor incondicional, aceitação de quem são e libertação de qualquer julgamento ou cobrança. Através dessa atitude, nossas vidas saem das mãos deles, que ainda estão reverberando na carência do passado, pois parte de nós está vivendo em outra dimensão, como a teoria das cordas explica, naqueles exatos momentos de carência e dependência dos genitores. O deslocamento para o presente, para o adulto que somos, responsáveis por nós mesmos, donos absolutos de nossas vidas, nos liberta de todo esse envenenamento relacional.
Miriam Coelho é artista das imagens e das palavras
Miriam Coelho |
2 Comentários
Acho ótima essa tua reflexão sobre o quanto é perigoso queremos agradar a todos. Achei ótima tua reflexão
ResponderExcluirGratidão! Fico feliz que tenha causado reflexão! To refletindo até agora!
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