CINEÓIDE

 

Contos do Amanhã


Contos do Amanhã
2021
Pedro de Lima Marques
85 min


 

Voltando às mini análises em grande estilo. Tive o prazer de ver em primeira mão o filme brasileiro, gaúcho e porto-alegrense, Contos do Amanhã. Primeiramente gostaria de agradecer ao Jorginho do Coletive Arts por me proporcionar a minha primeira resenha antecipada. Inclusive, o filme estreia nos cinema hoje, dia 9 de dezembro de 2021. Deixo também um muito obrigado a produção do filme por nos ceder acesso a peça. Então, vamos a isso.

É impossível não começar esse texto sem apontar as referências do filme. Matrix, Ghost in the Shell, uns prédios tipo Blade Runner e um tiquinho de Trapalhões e Princesa Xuxa. Explico. Em certo momento do filme, um personagem pega uma bola de cristal e usa como arma. No filme, o Didi usa uma bola de cristal que solta raios para matar o vilão na luta final. Essa minha referência explodiu direto do fundo da minha memória uma vez que os filmes de Didi e sua turma eram os meus preferidos na infância. Apesar da minha loucura não parecer que tem a ver com o filme, creio que se una a obra no fator nostalgia.

 

Imagino que o Pedro, diretor do filme, tenha mais ou menos a minha idade. Dá pra ver nitidamente o seu amor pelo final dos anos 90. Assim como eu, ele deve ter gastado muita fita k7 com os grunges da época. Por sinal, o meu walkman era do mesmo modelo do Jeferson e tenho família em Cachoeira. Me achei realmente parecido com o nosso personagem principal quando eu tinha sua idade, mais ou menos 15 anos. Tímido, nerd, metaleiro que só usa preto (no caso o personagem curte mais grunge, mas vi uns postes do Black Sabbath e do Motorhead na parede do quarto). Gosta de computadores (pura ostentação ter dois PCs na época) e tem um Super Nintendo plugado na TV. Me escorreu uma lágrima ao ver aquele teclado amarelo e na tela, programas abertos como Winamp, Mirc e ICQ. Essa é a ambientação do quarto do personagem que está escutando mensagens vindas do futuro durante a trama. Mais precisamente, vindas do ano de 2165.

Assim como em Matrix, Jeferson vive em 1999, um ano depois do lançamento do clássico ir aos cinemas. Ressaltando ainda mais a sua maior referência. Além de escutar áudios bizarros baixados da recém chegada internet, coisa muito comum à época, Jeferson vai ao colégio. Tem uma vida bem normal. Tira notas boas nas provas do professor chato, conversa com seus amigos, se meteu em uma chapa na eleição do grêmio estudantil por causa de mina, etc. Tudo que um jovem normal faria. 


O filme mostra desde o início, em paralelo, a realidade. Como sabemos, a vida normal é
sempre dentro da simulação. Fora, o mundo foi destruído por uma forte tempestade. Seguida por uma grande guerra que reduziu a humanidade a poucas cidade estado, fechadas e sitiadas. Essa situação já dura 100 anos. Inclusive, todo esse background é contado de forma muito parecida com o The Second Renaissance, primeira curta da coletânea Animatrix, de 2003. Contendo no texto do narrador a frase: por um tempo, isso foi bom. O que me tirou um largo sorriso, uma vez que eu não sabia nada da obra, foi uma baita e grata surpresa.


Fora a homenagem, nesse ponto do roteiro, não tem nada que já não vimos. O que gostei muito é da motivação do personagem para se manter dentro ou fora da simulação. É sempre essa a questão, certo? Então é nesse ponto que vou me manter daqui para frente. Jéferson tem uma queda por sua melhor amiga, Bia. Apesar de estar se engraçando com a bonitona do grêmio. De todo modo, o filme roda em torno dessa relação. Não quero dar spoilers, porém tenho que citar: como um background bem feito carrega um filme nas costas. No final, eu só queria saber da vida dos amigos. Já tinha esquecido de simulação, guerra, porrada e bomba. Devo citar que nem no Matrix temos esse tipo de relação com os personagens. Em 3 filmes nunca soubemos do passado de Thomas A. Anderson, alter ego de Neo. Não tem mãe, nem pai, nem irmão, nem infância. Ok que as máquinas podem programar memórias e inserir na cabeça das pessoas, mas ainda assim, partimos do pressuposto que as pessoas ficam servindo de bateria do nascimento até a morte. Vivem uma vida plena dentro da Matrix. 

Em Contos do Amanhã, o diretor e roteirista nos conta justamente sobre essa relação afetiva que um escolhido teria com as pessoas que conheceu durante sua vida na Matrix. Sobre o dilema que seria sair da simulação e deixar tudo para trás. Gostei muito de como isso é abordado. Ainda mais, jogando com a possibilidade tecnológica da questão. O que nos rende um final muito satisfatório. Como eu já citei, ainda mais sendo morador de Porto Alegre: no final, eu só queria ver mais do Jeferson no Julinho ou andando na redenção. ou ainda, indo para sua casa nas ladeiras do Petrópolis. Não que os elementos de ficção não sejam bons, mas os atores junto ao background me cativaram muito. 

Aqui já podemos falar um pouco da técnica. Sendo um filme de ficção científica, temos efeitos visuais. Muitos efeitos visuais. Cidades, veículos, elementos gráficos de representação da simulação, enfim, tudo que um bom filme hollywoodiano tem. E tudo está muito bem feito. Desde o figurino, passando pela maquiagem e cubos voadores até as mega cidades. A cena em Torres, na beira da praia, lembra muito a cena de Contato de 1997, tem uma fotografia belíssima. De um modo geral, a fotografia está excelente. Com cenas criativas em top-down e grandes planos de drone. Mas na parte técnica tenho que ressaltar um detalhe: a trilha sonora. 

Como esse tipo de filme pede uma boa trilha sonora. E é exatamente o que temos aqui. Uma baita trilha sonora para acompanhar esse futuro distópico de nostalgia noventista. 


Nota: 9 …deixo aqui meus parabéns a toda equipe do filme. Todo esforço valeu a pena. Muito obrigado por tornar realidade o sonho de um estudante de cinema que largou a produção cinematográfica após a formatura. Mas que sempre teve vontade de fazer filmes referenciando tais obras. Ainda mais com a cidade em que nasci, cresci e vivo como pano de fundo. Muito obrigado mesmo!

TRAILER:

Contatos:

E-mail: contosdoamanha@bacteriafilmes.com 

André  Moraes é Cineasta, Escritor e criador do Wasd Space, também é responsável pela coluna O Simióide, toda a segunda aqui no ColetiveArts .A Wasd Space está com uma linha de camisetas com ilustrações autorais muito show, entrem em contato com ele. Aliás dizem que este André recentemente foi convocado por Amanda Waller para algo muito secreto e foi visto treinando com bumerangues















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