ESSE ESTRANHO NOVO MUNDO
Nem a mente mais inventiva dos ficcionistas teria previsto que em pleno século XXI o mundo inteiro fosse abalado por um vírus gripal.
Fomos obrigados a crer nas autoridades científicas, modificar nossos hábitos de auto higiene, nossos costumes cotidianos com o uso de máscaras e torcer pela efetividade dasvacinas, única tábua de salvação. Os descrentes da Ciência e crentes em mitologias distintas estão pagando um alto custo por isso.
Mas nada nos calou tão fundo quanto o corte nas interações sociais e manifestações corpóreas de afeto. Nós seres humanos tão falhos e imperfeitos, fomos alijados do senso de gregarismo que nos define como espécie.
Esse isolamento, mais físico do que social, cobrou também um preço amargo em trabalhos, empregos e sobretudo na perda de milhares de vidas humanas e um impacto emocional devastador em milhões de famílias.
E o que restou para os que trabalham com a Arte e a Cultura, foi a comprovação de uma capacidade extraordinária de resiliência. Atores, Cineastas, Escritores, Artistas de todas as forma de expressão, tiveram que reinventar modos de realizarem os seus projetos para chegarem ao público.
Em relação à escrita, que sempre foi em regra uma atividade solitária, houve quem achasse ainda mais tempo para se dedicar a projetos parados ou arquivados. Eu sou um autor roteirista, ou seja, escrevo roteiros originais de filmes e séries. Ao longo de dez anos, entre 2009 e 2019 vivi profissionalmente escrevendo roteiros sob contratos com Produtoras do RS e de SP. Eram trabalhos de pesquisa e escrita de projetos ficcionais e documentais para o cinema e a TV, mas com a pressão de prazos a cumprir.
A cessão dos prazos coincidiu com o início da pandemia e como por dez anos exercitei somente a escrita dramática dos roteiros, senti uma enorme vontade de retornar à literatura e escrevi um conto que se chamava “O Final do Confinamento”, que refletiu o meu estado de espírito por meio de um humor cínico e escuro.
Pensei em várias ideias para outros contos nesse novo mundo pandêmico cada qual dialogando com gêneros como drama, fantasia, ficção científica, terror e tudo permeado por um certo piscar de olhos para o leitor, afinal sem um mínimo de senso de humor, estaríamos condenados em definitivo.
E se um jovem solitário tivesse a sua glutonaria desafiada por uma nova e imensa geladeira? E se um professor de meia idade tivesse sua vida transformada, descobrindo o amor e outros mundos a partir da perda do seu guarda-chuva de estimação? E se alguns jovens festeiros negacionistas, à caminho de uma festa, tivessem uma experiência sobrenatural a alertá-los? E se um aspirante a ator tivesse os seus sonhos interrompidos pela pandemia e achasse um caminho traiçoeiro e perigoso para conseguir o que deseja?
E se dois jogadores amadores de futebol descobrissem que iriam jogar com grandes craques do passado?
Essas e algumas outras ideias se moldaram em contos, alguns bem curtos outros mais extensos que serão publicados aqui.
A cada quinze dias convido à todos a embarcarem nessa viagem por esse estranho novo mundo, que se parece tanto com o antigo e talvez nem seja tão estranho assim, pois depende do ângulo de visão com que o esquadrinhamos.
João Luís Martínez |
João Luís Martínez é ator, escritor, diretor, dramaturgo e roteirista atuando nas áreas do Teatro e do Audiovisual (cinema, TV e web) há mais de trinta anos. Desde 2011 faz parte do corpo docente do Studio Clio – Instituto de Artes e Humanismo, uma instituição prestigiosa na cultura porto-alegrense, onde ministra cursos e oficinas de roteiro. Há três anos ministra as suas oficinas de modo on-line, contribuindo para a formação de novos roteiristas para o mercado.
COLETIVEARTS
Não espalhe fake news,
espalhe cultura!
SIGA-NOS EM NOSSAS REDES SOCIAIS:
Facebook: https://www.facebook.com/coletivearts/
Instagram: https://www.instagram.com/coletivemov...
Blog: https://coletivearts.blogspot.com
Twitter: https://twitter.com/ColetiveA
4 Comentários
Muito boa essa reflexão sobre a pandemia
ResponderExcluirMuito obrigado, Lais. Abraço
ResponderExcluirGostei, boa reflexão.
ResponderExcluirBoa reflexao
ResponderExcluir