Reze Pelas Mulheres Roubadas
(Jennifer Clement, 2012, Editora Rocco)
Deitada na rede, num suave balanço, fico de olhos na menina, que está enfiada num buraco de terra atrás da casa. Vindo de dentro, ouve as vozes dos homens desconhecidos que segundos antes pararam o carrão quase em cima do seu esconderijo.
– Cadê sua filha?
– Não tenho filha – escuta a mãe responder.
A menina-protagonista se chama Ladydi, tem 16 anos e narra sua história em primeira pessoa num estilo quase oral, como se estivesse sentada ao meu lado na varanda comendo o lanche da tarde enquanto me conta da sua vida. Da sua infância e adolescência naquela “montanha de mulheres” em Guerrero, no norte do México, onde mora com sua mãe e outras quatro famílias compostas por mães e suas filhas. Homens não há nesse lugar – e se aparecer um, vivo ou morto, é um mal presságio.
“Agora vamos te tornar feia” são as palavras da mãe que constituem a primeira lembrança de Ladydi. Na montanha de mulheres não é recomendável ser mulher, muito menos ser bonita. Se for mulher e bonita pode acontecer o que aconteceu com Paula. Ladydi me conta também a história da sua amiga; com uma voz calma, como se tudo isso fosse normal. Como se fosse normal crescer num ambiente entre abandono e violência, dominado pelo narcotráfico, onde até a natureza é hostil.
Quando termina o Ensino Fundamental, Ladydi arruma um emprego em Acapulco, na casa de uma família rica – longe daquela montanha sem futuro, longe dos escorpiões e campos de papoula dos traficantes, mas também longe da proteção da mãe. E se você acha que ela vai casar com o jardineiro e ter um final feliz... bom, não vou dar spoiler. Leia o livro e, sobretudo: reze pelas mulheres roubadas, reze pelas mulheres desaparecidas, reze pelas mulheres abandonadas, reze pelas mulheres violentadas, reze pelas mulheres injustiçadas, reze pelas mulheres esquecidas. Reze pelas meninas.
Reze Pelas Mulheres Roubadas é uma denúncia, um romance atual e necessário, baseado em fatos relatados por reclusas na penitenciária de Santa Marta, na Cidade do México, que a autora entrevistou durante sua pesquisa. Jennifer Clement nasceu em 1960 nos Estados Unidos, mas vive no México. Em 2015 ela foi a primeira mulher a ser eleita como presidenta da associação internacional de escritores PEN.
Yvonne Miller |
Yvonne Miller nasceu na cidade de Berlim em 1985, mas mora, namora e se demora no Nordeste do Brasil desde 2017. Atualmente vive em Pernambuco, no meio da Mata Atlântica, junto com sua esposa Larissa, sua enteada Morena, o gato Salém e o cachorro Chico. Escreve contos, crônicas e literatura infantil em alemão, espanhol e português. Tem textos publicados em coletâneas, como Paginário (Aliás Editora) e Histórias de uma quarentena (Expresso Poema Editora). É colunista do coletivo de cronistas nordestinas @bora_cronicar e do blog Escritor Brasileiro. Além de ficcionista é autora e redatora de livros escolares.
Instagram: @yvonnemiller_
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1 Comentários
Parece muito boa a indicação
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