NAVALHAS AO VENTO

RESTART – UMA CHANCE 

PARA ME CORRIGIR

Sempre ouço que envelhecer é um privilégio. Privilégio para quem?

A cada dia sofro mais com o avanço da idade. Beirando as seis décadas já sinto dificuldade em fazer as tarefas rotineiras, agora com mais morosidade. Subir escadas, que antes fazia correndo, agora é apoiada no corrimão com o corpo que parece pesar mais de quinhentos quilos.

No final de semana prestei atenção no jogo de videogame do meu neto. O jogo era reiniciado toda vez que atingia um determinado ponto e tudo voltava a estaca zero, até o bonequinho voltava a ser criança na telinha do celular. Gostei da oportunidade de me sentir uma “deusa” com poderes de rejuvenescer e reiniciar vidas. A sensação de voltar e fazer diferente para atingir melhor resultado era impagável.

Passei a analisar as fotos de amigos no facebook e a imaginar como seria bom reiniciá-los. Olhei minha imagem no espelho e comparei com uma foto de dezoito anos. Porque essa injustiça? Onde foi parar a minha juventude? Porque não podemos voltar ao nosso início e corrigir nossas falhas? Uma reportagem com a Demi Moore me assustou, aquela linda mulher envelheceu e a degradação física e mental virá com o passar dos dias sem que ninguém possa “reiniciar” seu jogo chamado vida.

Muitos falam na melhor idade e eu pergunto: - melhor idade para quem? Para as farmácias, para as clínicas de plástica, para as fábricas de cremes, para as instituições de longa permanência para idosos? Alguns acham a velhice bonita, eu tenho medo da velhice. A velhice me lembra dependência, dor e sofrimento. Estou envelhecendo e o medo só aumenta. Aquela velha que fica me encarando e imitando no espelho, não sou eu.

Como seria bom poder acrescentar vidas a um ente querido que está no caixão e vê-lo levantar-se bem mais jovem e com a oportunidade de corrigir seus erros…

O jogo chamado vida não tem joystick… As pessoas continuarão envelhecendo, cheias de rugas, dores e esquecimentos, feias e molengas, morrendo sem a chance de reiniciar e trilhar outro caminho onde pudesse corrigir os erros que machucaram outras pessoas durante a trajetória terrena.

Queria reiniciar e voltar com meus filhos pequenos para corrigir todos os erros que cometi tentando acertar. Sempre existem dois caminhos...mas nunca existirá restart.

Isab-El Cristina Soares

Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.

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