ESSE ESTRANHO NOVO MUNDO

 

A CRIATIVIDADE NESSE ESTRANHO NOVO MUNDO

Todos aqueles que lidam com alguma forma de expressão artística, precisam lidar com as questões ligadas à criatividade a todo momento. Mas essas questões afetam à todos os seres humanos, em maior ou menor escala, em algum momento de suas vidas.

Afinal o que é “ser criativo”? É uma qualidade pessoal, uma dádiva ou uma possibilidade acessível para todos?

E qual é o papel da intuição e do livre-arbítrio nas escolhas criativas?

O que sabemos mesmo, é que quase todo mundo quer fazer em algum momento de sua vida algo criativo. Por que? Talvez porque bem no fundo nós intuímos que o Universo é criativo.

A questão é que vivemos numa sociedade de consumo, que desestimula a criatividade e que nos trata como meros receptores, consumidores da indústria que nos alimenta, nos veste e nos entretém. A ilusão da interatividade (digo ilusão, porque estamos sujeitos à logaritmos), nos obriga a optar, a selecionar, a ler “QR codes”, mas exclui os verdadeiros processos criativos.

No universo imagético a que somos submetidos por distintas telas e que nos ocupa por muitas horas, onde fica o espaço para a liberdade de criação? Será que as novas corporações, que estimulam a criatividade dos funcionários, querem também que sejamos consumidores criativos?

O próprio modelo de ensino vigente, desestimula a criatividade, com o propósito exclusivo de formar cidadãos produtivos e inseridos no mercado de trabalho.

Cabe a cada um de nós, que lida com a criatividade no cotidiano, resistirmos ao assédio dessa gigantesca máquina de homogeneização de pessoas. Temos que praticar e difundir os nossos labores criativos (como bem faz o Coletive Arts), e dentro do possível de cada atividade, estimular as pessoas com quem nos relacionamos.

O músico e extraordinário guitarrista Steve Vai afirmou em entrevista recente, que foi só quando descobriu os benefícios da meditação na prática, que conseguiu eliminar os pensamentos negativos do ego e acessou o seu verdadeiro “eu criativo”. Ele acredita que a Criatividade está conectada ao Universo e disponível para quem quiser se trabalhar para acessá-la.

Um dos mais ilustres pensadores da atualidade, o Físico Quântico Amit Goswami, autor de obras sobre o tema, como “Criatividade Quântica” (Aleph, 2008) e “Criatividade para o século XXI” (Aleph, 2012) explica: “ a criatividade diz respeito a um novo significado mental. E significado depende de contextos, de significados correntes e falhos, pois foram todos descobertos e inventados no contexto de uma visão de mundo do materialismo científico... a boa notícia é que a física quântica está nos conduzindo para uma nova visão de mundo baseada não só na primazia da matéria, mas na primazia da consciência – a ideia de que a Consciência é o fundamento de todo o ser”.

E ainda segue: “ a criatividade é passível de ser aprendida. Penso que é chegado o momento em que as pessoas já não precisam mais seguir os seus impulsos criativos às cegas. Em vez disso, ... se elas se ocuparem de modo criativo de sua motivação e integração, a criatividade no século XXI será enormemente incrementada, e as necessidades de evolução da consciência planetária estarão bem servidas”.

Eu acredito que quando aprendemos alguma forma de expressão artística que lida com a criatividade, o exercício da criação faz com que acessemos regiões do cérebro que nos conectam com algo maior. Por isso costumo pensar, embora esses processos criativos sejam em sua maioria atividades solitárias, ao criarmos algo nunca estamos em definitivo sozinhos.

E nesse estranho novo mundo da terceira década do século XXI os seres humanos precisam ser criativos como nunca, para seguirmos em frente rumo à tempos melhores.



João Luís Martínez 

João Luís Martínez é ator, escritor, diretor, dramaturgo e roteirista atuando nas áreas do Teatro e do Audiovisual (cinema, TV e web) há mais de trinta anos. Desde 2011 faz parte do corpo docente do Studio Clio – Instituto de Artes e Humanismo, uma instituição prestigiosa na cultura porto-alegrense, onde ministra cursos e oficinas de roteiro. Há três anos ministra as suas oficinas de modo on-line, contribuindo para a formação de novos roteiristas para o mercado.


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