NAVALHAS AO VENTO

 

CÂMARA DE GÁS TUPINIQUIM


Eu ainda me pergunto em que realidade maligna o homem está vivendo. Quando assisti Olga, filme que tem como pano de fundo as atrocidades cometidas pelo nazifascismo, fiquei horrorizada com a cena onde colocavam vários judeus na carroceria de um caminhão e jogavam gás com o intuito de exterminá-los. Era a segunda guerra mundial e os assassinatos se justificavam em nome da guerra.

Mais de setenta anos após deparo-me com a notícia abominável de mais um assassinato, este por inalação de gás num país sem guerra. Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, foi abordado por três policiais rodoviários por não estar usando capacete enquanto dirigia moto. Durante a revista foi encontrada uma cartela de remédio para controle de esquizofrenia. Nervoso, Genivaldo passava as mãos pelos bolsos e cintura e não entendia ordens e por isso foi imobilizado, algemado, os pés foram amarrados. Na sequência foi jogado no porta-malas da viatura da PRF onde os policiais jogaram gás lacrimogênio e forçavam o compartimento para fechar a tampa. Genivaldo se debate com as pernas para fora do carro e seu pedido de socorro não é atendido. No boletim de ocorrência consta “mal súbito” no trajeto para a delegacia. O laudo do IML apontou morte por asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda. A PRF diz que Genivaldo teria "resistido ativamente à abordagem" e que os agentes utilizaram técnicas de "menor potencial ofensivo", fico pensando qual seria o de "maior potencial ofensivo".

Não existe outro nome a não ser homicídio qualificado. Mais uma vez um trabalhador e pai de família é exterminado por quem deveria protegê-lo, a polícia. Mais uma vez uma farda truculenta, sem moral e racista mata uma pessoa desarmada e desprotegida. Ele morreu porque cometeu o crime de não usar capacete ou de ser esquizofrênico e se assustar com a  abordagem? Não. Ele morreu por ser pobre e negro. Enquanto a polícia federal mata numa câmara de gás um cidadão brasileiro doente e assustado pelo crime de estar sem capacete, o presidente da república desfila sem a proteção, tendo o papagaio da Havan na carona. São dois pesos e duas medidas para o mesmo “crime”.

As imagens e vídeos são assustadores. A mídia internacional está chocada com o que vem acontecendo no país. A fumaça saindo do carro é chocante. Qualquer semelhança com as câmaras de gás de Auschwitz não é mera coincidência. A PRF informa que os envolvidos serão afastados e o que isso importa? O cara já está morto.

O que acontece a um país onde o cidadão trabalhador passa a ter medo da polícia? Essa é a realidade da política que vivemos: um país devastado pelo ódio. E o pior é que ainda tem quem defenda.


Isab-El Cristina Soares

Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.

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2 Comentários

  1. Uma tragédia causada por um compêndio de preconceitos dos homicidas. Desde a proclamação da atual Constituição em 1988 há um esforço para humanizar as forças de segurança moldadas por anos 30 anos de ditadura militar. Já houve sinal de avanços, mas parece que a atual gestão desse presidente, além de legitimar um retrocesso, abriu "a caixa de Pandora" e tudo de ruim em nossa sociedade veio à tona. Dos arrastões num evento cultural em SP, à chacina numa comunidade carioca pela polícia, passando por esse assassinato torpe do Genivaldo.

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