NAVALHAS AO VENTO

 


A BELEZA DO NU

Os humanos começaram a usar roupas na Era do Gelo, há cerca de 170 mil anos, segundo estudo da Universidade da Flórida. Com o predomínio da caça e pesca o homem passou a usar roupas feitas de couro de animais. A primeira explicação para o homem usar roupas foi para proteger-se do frio ao migrarem para regiões mais frias em busca de alimento. Logo começou a diferenciação: bons caçadores tinham peles perfeitas e maus caçadores não. Conforme Umberto Eco, semiólogo italiano que estudou a utilização das roupas como forma de comunicação, seja qual tenha sido sua utilização original, as roupas logo se tornaram símbolos de poder.

E assim entramos no erro de julgar até o caráter de uma pessoa pela sua roupa. A quem e porque foi dado o poder de ditar a moda, julgar que uma roupa é bonita ou não? Se é apropriada para a ocasião ou não? E o que é moda? Será moda gastar uma fatia significativa do salário para cobrir o corpo num país tropical? Quantas vezes nos afastamos de alguém na rua por estar mal vestido e fomos enganados ou assaltados por pessoas bem trajadas?

A religião veio na carona pregando o pudor em tapar o corpo, como se o corpo humano não fosse igual. Existe o corpo masculino e feminino e só. Então porque a nudez é considerada crime? Crime é não ter roupa para se aquecer no frio. Não cabe nem a desculpa de que a nudez incentiva ao estupro porque se assim fosse ninguém seria estuprado pois usamos roupas.

Despida de qualquer “pré conceito” retrógrado, afirmo que eu vejo beleza no nu, na criação divina. Nada existe de impuro ou pecaminoso a não ser o falso moralismo travestido de pecado. A vestimenta mais bonita de uma pessoa é o seu caráter.

A Maja Nua, de Francisco de Goya (1790)

O Pescador de Falcões, Jean Frederic Bazille (1868)

Mulher Nua Dormindo de Gustavo Coubert (1862)

Isab-El Cristina Soares

Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.


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10 Comentários

  1. Muito bem, Isab-El. Concordo. Sou um admirador da obra do Umberto Eco, sobretudo a ensaística. Nós vivemos entre esses dois extremos, a ditadura da moda que tenta nos regrar na maneira de vestir e a ditadura visual do corpos nus perfeitos. Basta constatar que os quadros de nús de pintores famosos do século XIX, retratam a beleza de mulheres que fogem totalmente do padrão imposto atual. Tive a experiência por duas vezes, há bastante tempo, de ir à uma praia em que se praticava o naturismo. De início é difícil, mas depois que começamos a expurgar as culpas introjetadas, é muito libertador ficar nu entre todo o tipo de pessoas. E tudo com muito respeito. Abraço

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    1. João Luís concordo, é muito difícil viver entre a ditadura da moda e a ditadura do corpo perfeito. É cansativo e frustrante. Eu adoraria ir numa praia de nudismo, deve ser libertador. Umberto Eco é maravilhoso, também sou fã.

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  2. Magnífico! Texto sucinto, preciso e fundamentado. A escolha das ilustrações foi perfeita, pertinentes ainda mais Courbet q é o autor do Nu mais famoso A Origem do Mundo.

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  3. Ótima reflexão sobre o nu, ele que nos iguala, que diminui o preconceito social sobre quem aparenta mais poder em forma de vestimenta. Eu acho um absurdo sem tamanho no verão na praia é normal usarmos biquíni, lá não é alvo de assédio nem críticas, mas na cidade é. Homens sem camisa são respeitados, mas nós mulheres jamais podemos tirar a blusa. Fora a discriminação de quem se veste de forma mais simples ainda existe a descriminação a mulher mais uma vez e seu corpo. Como disseste não cabe a desculpa de que a nudez incentiva o estupro, é mais uma forma de repreender nós mulheres

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    1. Sempre a mulher será alvo de retalhacões. Não se vê notícia de mulher agarrar homem pq estava sem camisa kkkk.

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  4. Estou cada vez mais ausente na internet, mas sempre que passo por aqui leio esta excelente coluna, sempre instigante e provocatica.

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  5. Amei teu texto. Vivemos em uma sociedade torta e cheia de preconceitos tolos, os quais nos frustam... Tudo tem uma "caixinha perfeita" que nos subjuga, seja a altura, as medidas, os cabelos etc. Quem não couber nela, é tido como feio, indesejado... O que vale é a casca, o interior não interessa.

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