FALÊNCIA ALIMENTAR NESSE ESTRANHO
NOVO MUNDO
Vitor Ramil já poetizou uma mazela em “Joquim”, sua homenagem à Bob Dylan, em que uma parte da letra diz: “... não há nada mais triste que um homem morrer de frio”.
E eu acrescento outra: não há nada mais indigno que milhões de pessoas passem fome.
Essa triste constatação se espalha por esse estranho novo mundo de famélicos.
Mas vamos tratar das nossas chagas nacionais.
De acordo com dados recentes da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) 58,7% da população brasileira vive em insegurança alimentar. São um total de 125 milhões de brasileiros que vivem em insegurança alimentar.
Nos últimos dois anos houve um acréscimo de 14 milhões de brasileiros que não tem o que comer todo o dia, num total de 34 milhões de pessoas no país que passam a maior parte do dia sem ter o que comer.
E esse estudo também comprova o que já sabíamos, a fome tem cor. Afinal a segurança alimentar está presente em 53,2% dos domicílios de pessoas autodeclaradas brancas, enquanto que esse número desaba para 35% em domicílios de pessoas pardas ou negras.
Podemos compreender que o agravo da situação socioeconômica causada por uma pandemia em nível mundial, tenha contribuído para isso. Afinal, dados do 2º Inquérito Nacional de Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19, divulgado no último dia 08 de junho, revelou que apenas quatro entre dez famílias brasileiras conseguiu pleno acesso à alimentação durante o auge da pandemia.
Mas não há como isentar de responsabilidade o atual governo pelo desmonte das políticas públicas e o consequente acirramento das desigualdades sociais.
Segundo Ana Maria Segall, médica e pesquisadora da Rede PENSSAN: “A pandemia surge nesse contexto de aumento da pobreza e da miséria, e traz ainda mais desamparo e sofrimento. Os caminhos escolhidos pela política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social
e da fome em nosso país”.
Para quem não sabe o atual governo federal promoveu o desmonte proposital da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que deixou de estocar alimentos e de atender centenas de milhares de famílias agricultoras, jogando milhões de pessoas em insegurança alimentar e nutricional.
Para quem não sabe o atual governo federal promoveu o desmonte proposital da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), que deixou de estocar alimentos e de atender centenas de milhares de famílias agricultoras, jogando milhões de pessoas em insegurança alimentar e nutricional.
Além disso, houve a desconstrução do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) e de um conjunto de programas de fortalecimento da agricultura familiar camponesa, tais como, programas de infraestrutura hídrica.
Essa é a lógica perversa de um governo que apenas faz benemerências ao agrobusiness, para agradar a bancada rural do Congresso (sem falar do aumento no desmatamento na Amazônia, outro tópico candente), ignorando as dificuldades das milhares de famílias que vivem da agricultura familiar e que produzem alimentos para milhões de moradores das cidades.
Vivemos num sistema econômico que transforma alimentos em commodities, que servem mais à bolsa de valores do que para alimentar barrigas vazias.
Enquanto escrevia sobre esses dados desastrosos, o presidente do país estava dando tapinhas nas costas do presidente dos EUA e destacando que o Brasil produz alimentos para 1 bilhão de pessoas. Como assim, cara-pálida? Que produção de alimentos é essa que deixa milhões de cidadãos brasileiros passando fome???
Os atuais números de famélicos em nosso país nos fazem retroceder aos números de 1990.
Um dos maiores clássicos dos Titãs do emblemático álbum “Cabeça Dinossauro” diz em sua letra:
“ A gente não quer só comer, a gente quer comer e fazer amor / A gente não quer só comer, a gente quer prazer para aliviar a dor”.
Mas na situação atual só há uma resposta válida à questão: “Você tem fome de quê?”
TITÃS, COMIDA:
João Luís Martínez |
João Luís Martínez é ator, escritor, diretor, dramaturgo e roteirista atuando nas áreas do Teatro e do Audiovisual (cinema, TV e web) há mais de trinta anos. Desde 2011 faz parte do corpo docente do Studio Clio – Instituto de Artes e Humanismo, uma instituição prestigiosa na cultura porto-alegrense, onde ministra cursos e oficinas de roteiro. Há três anos ministra as suas oficinas de modo on-line, contribuindo para a formação de novos roteiristas para o mercado.
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2 Comentários
A pandemia atingiu o mundo todo, mas só o Brasil teve a desgraça de ter q passar pela pandemia tendo um governo que quer matar a população carente de fome. O carrinho do mercado já foi substituído pelo cestinho e o dinheiro já não compra o mínimo necessário. Está muito difícil...e tem gente que fecha os olhos...
ResponderExcluirÉ a nossa triste realidad Isab-El. Mas vou te dar um alento, estive lendo a pouco um estudo apurado que resultou no livro escrito por um cientista político e por um geógrafo, que se chama "A Mão e A Luva: o que elege um presidente". E a conclusão inequívoca dos autores, a partir de dados analisados de todas as eleições após a Constituição Cidadã, é que os eleitores não se importam com corrupção, questões morais ou éticas, mas tão somente com a comida no prato e os empregos. Ou seja, quando isso vai mal, o governo é trocado. Mais um motivo para acreditarmos que esse imbecil vai ser varrido do poder e ainda acabar preso.
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