ESSE ESTRANHO NOVO MUNDO

 

ARMAS NESSE ESTRANHO NOVO MUNDO

Em seu tributo à John Lennon, Belchior canta: “ John, eu não esqueço (oh no, oh no!) a felicidade é uma arma quente, quente, quente”.

Mas a metáfora filosófico-poética do brilhante compositor cearense em sua clássica canção “Comentário a respeito de John”, fica esmaecida diante da quantidade literal de armamentos que está ocupando as ruas do nosso país.

Embora o país esteja sofrendo com uma inflação alta que afeta o preços de todos os produtos da cesta básica e muitos outros e segundo dados atualizados está entre as maiores inflações do mundo, há um produto que não sofreu aumento, a não ser de vendas, o fuzil.

Há dados que atestam que o preço desse tipo de arma era entre 50 e 40 mil reais em há alguns anos. Mas depois de novas regras impostas por decretos do atual presidente, o valor caiu para 20 mil reais.

Assim quem comprava no mercado ilegal, agora não precisa se arriscar para ter “um fuzil para chamar de seu” e ainda com um precinho especial.

Um detalhe: a quem deveria se destinar o uso de fuzis senão às forças de segurança pública ou forças armadas? O que cidadãos comuns, que não são policiais, querem com um fuzis?

Antes dos decretos presidenciais, um cidadão comum que quisesse ter um fuzil precisaria ser castrado junto ao Exército e só poderia acessar modelos do armamento com 70 anos ou mais da fabricação. Assim esses fuzis eram vendidos à colecionadores.

Desde fevereiro de 2021, quando esses decretos foram publicados na surdina, caçadores e atiradores passaram a ter acesso aos fuzis, desde que tenham dinheiro para isso, o que não parece ser problema. Agora os caçadores (que antes não podiam ter nenhum) podem adquirir até 15 unidades. Atiradores que não poderiam ter essa arma, agora só precisam se restringir a não ter mais de 30 fuzis!

Que fique bem evidente: esses decretos não visam melhorar a segurança pública. Todos os países que facilitaram o acesso da população às armas, se deram mal e só aumentaram os índices de violência.

Esses decretos serviram para incentivar a criação de milícias privadas compostas por gente endinheirada que agora constituem seus CACs – clubes de caçadores, atiradores e colecionadores. Até quando esse tipo de gente vai se contentar a ficar apenas atirando em stands e animais?

Outro efeito deletério dos decretos se refletiu na semana passada, com a enorme apreensão de armamento pesado pela polícia de SP. Detalhe que causou espanto aos policiais: o armamento era todo legalizado. A apreensão só ocorreu porque as armas foram compradas com dinheiro do tráfico de drogas.

A ilusão de que ao comprar uma arma estaremos protegendo a nossa vida e as dos nossos entes queridos, bem como o nosso patrimônio, cai por terra diante das estatísticas de acidentes e violência doméstica com armas.

Não podemos jamais esquecer que qualquer arma de fogo se destina exclusivamente a ferir e/ou matar outros seres vivos, incluindo os humanos.

“A minha alma ‘tá armada’ e apontada para a cara do sossego, pois paz sem voz, pois paz sem voz, não é paz é medo”.

De Belchior à O Rappa em sua “A Minha Alma (A Paz Que Não Quero)”, temos belas e poderosas metáforas sobre armas, pois o que nos resta é o apego às artes, à poesia, à cultura em geral, enquanto oramos para que nesse estranho novo mundo não sejamos alvos.

BELCHIOR:


O RAPPA:





João Luís Martínez 

João Luís Martínez é ator, escritor, diretor, dramaturgo e roteirista atuando nas áreas do Teatro e do Audiovisual (cinema, TV e web) há mais de trinta anos. Desde 2011 faz parte do corpo docente do Studio Clio – Instituto de Artes e Humanismo, uma instituição prestigiosa na cultura porto-alegrense, onde ministra cursos e oficinas de roteiro. Há três anos ministra as suas oficinas de modo on-line, contribuindo para a formação de novos roteiristas para o mercado.


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3 Comentários

  1. ERRATA: onde se lê "em há alguns anos" é "há alguns anos". "com um fuzis?" é "com um fuzil?. Onde se lê "castrado" é "cadastrado".

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  2. E não podemos diminuir a caça de animais por diversão, muitas vezes são não contentam apenas em matar animais que são permitindo-se a caça, mas também matam animais em extinção.

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    1. É verdade, Lais. Alguns são mais assassinos do que caçadores. Abraço

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