TECITURA

 

A peça que falta

Sempre falta uma peça
para completar o quebra-cabeça da vida.
Sempre tem uma peça perdida.
Seja esta peça qual for:
beleza, dinheiro, amor.

Ninguém sentiu falta dela
até que fosse a última lembrada.
Não menos importante,
Apesar de ter sofrido bastante.
Hoje um pouco amassada.

Resolveu ser independente, ser feliz.
Faria tudo o que sempre quis.
Na seria mais parte daquele quebra-cabeça
Não importa o que aconteça.

As peças se juntaram e foram à procura
da última peça para completar a imagem.
Ela foi encontrada rindo, cantando,
quase embarcando para viagem.
Era a peça da cultura.


Autor: Rodrigo Feio Dias

Publicado no dia 09/06/2022 na coluna Entrelinhas do Blog ColetiveArts, este texto chamou minha atenção. A beleza e métrica de um poema tão bem escrito me fez refletir; estávamos ainda às vésperas da 8ª Conferência de Cultura de Gravataí e eu, um dos organizadores do evento, estava apreensivo, inquieto, ansioso para que tudo ocorresse bem. E Cultura era uma palavra que não saía, naquele momento, de minha cabeça. Acordava, trabalhava e dormia pensando nos fazeres culturais, nos diversos segmentos que existem em minha cidade, Gravataí - RS, em dar o meu melhor para que os agentes culturais e artistas tivessem o melhor possível, afinal esta Conferência estava para escolher os representantes da Sociedade Civil para a Gestão 2022-2024. Enfim, Cultura, Cultura, Cultura!!!! E assim me deparei com este poema de Rodrigo Feio Dias.

Ao ler e reler algumas vezes este belo texto, entrei em contato com Jorginho, da Coletive, para mediar uma interação minha com o autor do texto, o jovem poeta Rodrigo. Eu queria escrever sobre este poema, tecer uma crônica, dissertar, quem sabe um conto, criar em cima de um trabalho tão inspirador. Inúmeras possibilidades, e Jorginho retornou com o aval do criador. Faltava o melhor momento, a hora certa para sentar e criar, e eu estava com muito trabalho! Enfim, passou a tal Conferência, que diga-se de passagem, foi muito boa, um sucesso por assim dizer, pois atingimos os objetivos, com boa interação da Sociedade Civil (digo pois sou membro do governo, indicado pela Secretaria de Cultura da cidade), culminando com a eleição de Conselheiros e Conselheiras fortes, capazes, atuantes, que têm muito a ofertar em matéria de qualidade e conhecimento, agregando valores. Deixei de lado por um período, até esquecer do tema. Pois hoje, 30 de agosto de 2022, retorno de mais um dia de trabalho e um turbilhão de ideias conjugam com memórias diversas, um certo grau de euforia talvez, tudo isso tendo como gatilho o dia de hoje, pois a Secretaria em que trabalho esteve representada no evento Expointer, na cidade de Esteio, em conjunto com a Secretaria de Educação, no Estande de Gravataí, onde fomos chamados em cima da hora, porém nosso secretário Leandro Ferreira conseguiu montar uma equipe competente e levar boas atrações ao evento, onde as Culturas, ou algumas manifestações culturais e esportivas do município estiveram presentes, atraindo em momentos distintos um bom público ao espaço reservado a nós. E voltei ao tema: Cultura!

Pois bem, o poema “A peça que falta” apresenta-se perfeitamente como um bom início para este texto. Gosto de brincar com os estilos e gêneros, contando uma história ou algumas histórias, informando, argumentando. Nada melhor que iniciar por uma poesia, criar uma crônica em cima dela, para depois dissertar sobre os textos. Então, vamos lá, com uma pergunta. Afinal, o que é Cultura?

“Todos os povos, mesmo os mais primitivos, tiveram e têm uma cultura, transmitida no tempo, de geração a geração. Mitos, lendas, costumes, crenças religiosas, sistemas jurídicos e valores éticos refletem as formas de agir, sentir e pensar de um povo e compõem seu patrimônio cultural. Em antropologia, a palavra cultura tem muitas definições. Coube ao antropólogo inglês Edward Burnett Tylor (1871: A cultura primitiva) oferecer pela primeira vez uma definição formal e explícita do conceito: Cultura é o complexo no qual estão incluídos conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade.”

A história da utilização antropológica do conceito de cultura tem origem nessa famosa definição de Tylor, que ensejou a oposição clássica entre natureza e cultura, na medida em que ele procurou definir as características diferenciadoras entre o homem e o animal a partir dos costumes, crenças e instituições, encarados como técnicas que possibilitam a vida social.

Só o homem é portador de cultura; por isso, só ele a cria, a possui e a transmite. É um complexo, porque formam um conjunto de elementos inter relacionados e independentes, que funcionam em harmonia na sociedade. Os hábitos, ideias, técnicas, compõem um conjunto, dentro do qual os diferentes membros de uma sociedade convivem e se relacionam, sendo uma herança que o homem recebe ao nascer. Desde o momento em que é posta no mundo, a criança começa a receber uma série de influências do grupo em que nasceu: as maneiras de alimentar-se, o vestuário, a cama, a língua falada, a identificação de um pai ou de uma mãe, e assim por diante.

Esses elementos, que compõem o conceito de cultura, permitem mostrar que ela está ligada à vida do homem, de um lado, e em outro, se encontra em estado dinâmico, não sendo estática sua permanência no grupo. A cultura se aperfeiçoa, se desenvolve, se modifica continuamente, nem sempre de maneira perceptível pelos membros do próprio grupo. É justamente isso que contribui para seu enriquecimento constante, por meio de novas criações da própria sociedade e ainda do que é adquirido de outros grupos.

Exemplos são diversos, vamos citar os hieróglifos egípcios. O surgimento dos meios de expressão escrita foram fundamentais para a fixação dos hábitos culturais.

Cultura. Há muito o que se tenha a dizer sobre; teses, dissertações, livros. Duas certezas tenho: de que, ao nascermos, passamos a fazer parte da história da humanidade, somos seres históricos, e também seres culturais. Criamos, inventamos, fazemos, transmitimos nossas histórias e nossas culturas, nossas tecnologias. E nem sempre as culturas são positivas, elementos associados à ética, esta que não necessariamente significa moral. A cultura está ligada, associada ao homem de forma plena e contínua, mutável, evolutiva.

Pois então, quanta coisa pra pensar, não? Pensem nas diversas formas de cultura às quais estão inseridos, nos ambientes em que estão e de que forma modificam seus pensares, nas diversas representações artísticas, culturais, literárias e afins, que buscam representar formas de pensamento, visões de mundo, buscando influenciar e inspirar pensamentos. Que exercício formidável!

fontes:
coluna Entrelinhas, ColetiveArts.blogspot.com, autor Rodrigo Feio Dias; Enciclopédia Barsa, 2004, vol. 5.



Para ler ENTRELINHAS, clique AQUI


Sandro Gomes

Sandro Ferreira Gomes, Professor de Língua Portuguesa, Conselheiro Municipal de Políticas Culturais em Gravataí/RS, Servidor Público, Porto Alegrense, admirador das belas artes, do texto bem escrito e das variedades de pensamento. 

Confiram podcast gravado com Sandro Gomes clicando Aqui


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4 Comentários

  1. Excelente esta matéria-aula.

    Saudades teus pensar.

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  2. Obrigado, amigo. Gostei de escrever este texto, fui amadurecendo-o aos poucos ...

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  3. Oi Sandro. Aqui é o Rodrigo do posto no entrelinhas. Fico feliz que minha poesia inspirou seu texto. Curti e aprendi bastante. Um grande abraço

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    1. Obrigado pelo feedback, Rodrigo. Fico feliz que tenha gostado! Foi um excelente texto o seu! Abraços!

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