NAVALHAS AO VENTO

 

BOZOLÓIDES ROUBAM A CENA
 DOS COMEDIANTES

Ouve-se a boca pequena que o Sindicato dos Comediantes está muito magoado com os eleitores do Bolsonaro. Assim como toda profissão, um bom profissional do humor precisa de estudo para evoluir. É importante saber a teoria da comédia, a fórmula universal da piada e conhecer outros comediantes para servirem de referência. Engana-se quem pensa que basta ser engraçado para se ter sucesso no humor.

Antigamente para ter sucesso como comediante o candidato deveria procurar desenvolver as habilidades como ator e como ator de comédia. Para além do curso de teatro e dramaturgia, também deveria procurar workshops, cursos de comédia, humor e stand-up. De acordo com o Google a duração média para uma pessoa se formar como ator é de quatro anos, com currículo variado, mesclando aulas teóricas, como antropologia e história do teatro, canto, interpretação e respiração. Mas nos últimos quatro anos o comediante passou a estudar pelo Watts App e outras redes sociais e fazer pós-graduação nas fake news e isso está sendo injusto com os profissionais mais antigos.

Como competir com o teatro de rua oferecido gratuitamente à população nos últimos 4 anos? Desde o dia 30 de outubro a concorrência tem se elevado a níveis assustadores. Profissionais do humor com anos de estrada têm dificuldade de aparecer na telinha do plin-plin, principalmente no horário nobre e os comediantes de verde e amarelo estão roubando o espaço de quem muito estudou. Vamos lembrar dos melhores momentos? Quem não viu o "Patriota do caminhão", comerciante bolsonarista que viajou no dia 4 de outubro por vários quilômetros agarrado no para-brisa de um caminhão em plena rodovia?

Mesmo que as redes sociais estejam recheadas de pedidos de interdição, A Meta, controladora do Facebook e do Instagram, diz que começou a remover publicações de usuários com pedidos de intervenção militar. Aliás, no G1 também é possível ver uma moça pedindo intervenção militar e quando o policial bate no rosto dela e joga spray de pimenta a mesma começa a chorar, gritando que o policial não poderia fazer isso com ela. A imagem da seita bolsonarista cantando o hino para um pneu é surreal, enquanto Cássia Kiss, ajoelhada, reza para o pneu com um terço na mão. O hino foi reinventado e reescrito por cada um, o gado canta o hino como quer, todo errado, mas com a mão posta como uma saudação nazista. O idiota de bermuda marchando sozinho no meio da rua batendo continência para o nada foi impagável... Mas o pedido de intervenção militar ao som de "Pra não dizer que não falei de
flores", hino de resistência à ditadura, foi hous concours...

O púlpito de algumas igrejas viraram palco de stand-up. Uma pastora, inflamada, informa que a partir de 30 de outubro os gays poderão fazer sexo pelas esquinas, que ela mesma já vu dois homens na esquina da casa dela. Outro pastor informa que nas escolas todas as crianças a partir de 6 anos deverão ser bissexuais e se beijarem na boca. Outra pastora larga a bíblia para fazer sinal de arma com ambas as mãos e grita que temos que eliminar o comunismo que assola o país e será abaixo de bala (desde quando temos comunismo no Brasil?).

Mas, o que dizer quando o professor destes comediantes corre atrás de uma ema com uma  caixa de cloroquina nas mãos?

São muitas piadas, tantos stand-ups que os comediantes estão perdendo espaço para os bozolóides. Será difícil para o Lula, o país deverá voltar a sobriedade. O povo precisa de "comida, diversão e arte", mas não precisa de histórias de Jesus na goiabeira nem mamadeira de piroca ou kit gay (que, aliás, desde 2018 eu procuro e não encontro). Aliás essa gente tem uma fixação por sexo... será falta?

Isab-El Cristina Soares

Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.

Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.


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