NAVALHAS AO VENTO


MULHERES: O ÚNICO PORTAL DA VIDA

Chegou mais um dia 8 de março e mais uma vez eu recito "A força chamada mulher" , de minha autoria, num recital do Clube Literário de Gravataí. Mais uma vez ouço poesias e músicas enaltecendo as mulheres, sua força, garra e coragem. Mas ao ligar a TV continuo recebendo notícias de feminicídios...

No site brasildedireitos.org.br encontramos uma declaração dúbia: "Quase quatro a cada 10 mulheres brasileiras (ou 36%, mais exatamente) já sofreram algum tipo de violência doméstica. São agressões físicas, violência sexual, de ordem psicológica ou patrimonial. O problema é frequente e os brasileiros sabem disso: metade da população conhece uma mulher que já foi agredida. Na ponta oposta, apenas 6% dos homens brasileiros admitem já ter agredido as parceiras." Para a maioria dos homens, um grito, um empurrão, chamar a mulher de burra ou outra ofensa, pegar seus documentos ou dinheiro não é agressão. Outros insistem que manter a mulher presa sem poder trabalhar ou estudar é uma demonstração de ciúmes de quem ama.

Esta semana provoquei uma "treta" no ônibus que eu estava, um homem disse para a mulher que estava ao seu lado: "- Porque tenho que te dar presente no dia da mulher? Tu só existe porque saiu da minha costela." Na mesma hora fiquei de pé e gritei: -Não mesmo, filho da puta, a mulher não saiu da tua costela, tu que saiu do útero de uma mulher." A mulherada começou a bater palmas e o idiota, constrangido, desceu do ônibus. A moça, visivelmente nervosa, me disse que apanharia quando chegasse em casa. Até quando teremos que viver este terror? Desde quando mulher foi feita para apanhar ou para morrer? Estamos quase a 1/4 do século XXI e ainda existem homens que não aceitam que podemos qualquer coisa?

Quando um homem "pega todas" não é julgado, então porque a sociedade julga a mulher que "pega todos"? Porque o "solteirão convicto" pode "se divertir" e a solteirona convicta é taxada de "encalhada"? Particularmente eu tenho pena das mulheres que "precisam" de um "marido ou companheiro", eu prefiro viver sozinha a ter outro machista ao meu lado. Pego quem eu quero, quando eu quero, sem ter que dar explicações a ninguém e isso causa desconforto em algumas rodas de amigos (e eu estou cagando para a opinião dos outros). Já passou o tempo em que a mulher saia do domínio do pai para o domínio do marido, só saia deste domínio ao viuvar e continuava casta até o fim da vida. Fico estarrecida ao ver meninas e até mulheres mais velhas indo morar com um "traste" logo após conhecê-lo. O período que constitui o namoro e noivado não existe mais e isso só fez retroceder as nossas conquistas. Toda e qualquer mulher consegue viver sozinha até encontrar aquela pessoa que irá somar para viverem uma vida a dois com respeito e amor. Se a mulher reagisse ao primeiro grito, a primeira imposição, diminuiriam os feminicídios. Tudo começa com um grito, uma ofensa, um empurrão, uma ameaça, até chegar aos tapas, socos e morte. Sempre é um crescente e o homem prometendo que não fará novamente.

Antigamente casávamos para sair de casa, eu mesma casei com um traste, isso foi no ano de 1981, para me ver livre do inferno que vivia em casa e me arrependi logo no primeiro ano. Mas naquela época não existia a Lei Maria da Penha, Lei n. 11.340, sancionada em 7 de agosto de 2006. Durante o casamento fui proibida de estudar e de trabalhar, tudo o que conquistei foi abaixo de brigas, ofensas e ameaças, mas nunca abri mão do que eu queria. Perdi a conta de quantas vezes fui chamada de "burra, puta e vagabunda" que queria ir para a faculdade, para o trabalho ou para os recitais literários para "dar para qualquer um". Ele não admitia que eu pudesse crescer, via a arte como um rival ... até que recorri a referida lei e finalmente pude tomar as rédeas da minha vida. Meu único arrependimento é de não ter feito isso antes...

Estupros também são uma violência. Quando a mulher diz NÃO ela quer dizer isso mesmo. E o estupro pode ser cometido até pelo namorado, marido ou companheiro. Se a mulher não quer "transar" é crime, é estupro e a mulher não deve ter vergonha de denunciar na Delegacia da Mulher mais próxima. A culpa nunca é da vítima, mesmo se a mulher andar pelada na rua, é dever do homem respeitar a sua vontade 

Sim, a mulher é forte, é guerreira porque tem que provar a todo momento que é capaz. Até quando teremos que lutar? Já conquistamos muito e ao mesmo tempo ainda é muito pouco. As mulheres conquistam cada dia mais espaços e  alguns homens continuam usando da força bruta para nos subjugar.

Não queremos rosas, mas não precisa nos dar espinhos. Não queremos poesias ou músicas  nos chamando de lindas nem de fortes, não queremos demagogia, só queremos teu respeito, afinal  somos o único portal por onde tu chegas a este mundo.

E, aproveitando a data, desde o dia 14 de março de 2018 eu faço a mesma pergunta: 

-  Quem mandou matar Marielle Franco?



Isab-El Cristina Soares
Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.

Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.


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