Quando a Empatia sai de cena,
a perversidade toma conta
Quando era criança achava o máximo filmes de terror, onde o serial killer perseguia e atacava grupos, sempre vitimando os mais frágeis ou "bobinhos" na história. Isso parece um pouco contraditório para uma criança, que chorava ao ver os bichinhos do sítio serem abatidos, mas o fato é que, aquilo era pura ficção.
Hoje, aos meus 40 anos, não consigo passar perto de cenas como essa, meu coração aperta, bate a ansiedade e aquelas cenas parecem martelar no meu peito.
O que mudou? Meu entendimento sobre a vida.
E não, não vou vir com a conversinha fiada, de que naquela época as coisas não aconteciam, tudo que vivemos hoje já acontecia naquela época.
As mulheres eram violentadas, crianças eram mortas, a guerra já existia, estudante que desrespeitava professor também, sabe o que não existia? Acesso às informações.
Eu entendo a turma que diz que dar visibilidade à notícias desse tipo, geram mais casos, mais violência, mais pessoas aprendendo como fazer. Porém, não podemos esquecer que numa época onde existe um jogo onde matar a professora é objetivo, onde vídeos, áudios e imagens circulam livremente pelo whatsapp, onde a internet dá acesso a materiais dos mais diversos e perversos assuntos, ensinando e incitando nossos jovens, é indispensável alertar pais, responsáveis e até mesmo nossas crianças sobre o perigo que nos ronda.
As tragédias que tem amedrontado nossas escolas, deixaram de ser isoladas, deixaram de ser " coisa de americano", nos fazendo estremecer ao deixar nossos filhos saírem de casa.
Existem muitas especulações sobre as causas desses eventos. Jogos on LINE, movimento nazista e alguns que acreditam que isso é reflexo de uma geração mi mi mi. Essa última, me causa náuseas ao ouvir.
Continuo acreditando que isso vai além, é o adoecimento da alma.
A alma adoece quando deixamos que nossos filhos acreditem, que não são suficientes, que nada do que fizerem será satisfatório, diminuindo sempre seu valor.
A alma adoece, quando permitimos que atribuam aos outros suas frustrações, isentando de refletirem e assumirem suas responsabilidades sobre os fatos.
A alma adoece quando permitimos que eles sintam o abandono, a negligência por parte da família.
A alma adoece, quando permitimos pequenos furtos, por achar que isso, é coisa que toda criança faz.
A alma adoece, quando ensinamos nossos filhos que o 'Eu em primeiro lugar", deve ser regra, esquecendo de lhe ensinar sobre empatia. E esse talvez seja o pior… acredito que quando a Empatia falta, a perversidade aponta.
Somente uma alma perversa para tratar vidas da primeira infância como meta de um jogo. É difícil de acreditar que ninguém percebesse nada anormal nos autores desses crimes, mas aí lembro das causas da alma doente, concluindo novamente o abandono a negligência.
A prevenção da violência é um caso complexo e que deve ser visto com atenção por várias esferas.
Aos pais e família, cabe a base, a educação, ensinamentos de princípios e valores.
A escola, cabe o ensino curricular, mas também o reforço das regras de convívio e princípios que muitas vezes, será única base que o indivíduo vai ter
A saúde pública, o acolhimento, diagnóstico e pronto atendimento psicológico, evitando que as dores do indivíduo, ultrapassem o suportável
A sociedade, o entendimento de que cada um de nós carrega suas próprias lutas, que o pedido de socorro muitas vezes é silencioso, que não é por não ser meu filho, que não deva auxiliar. Lembra do abandono?
A única coisa que nenhum desses grupos pode se responsabilizar, é a segurança. Que isso fique claro, segurança é questão de poder público e não deve ser delegado a mais nenhum setor.
O engraçado é que mesmo diante do crescente número de incidentes, ainda tem quem acredite que tudo não passa de uma brincadeira de mal gosto. Essa negação dos fatos, além de não ajudar em nada, acaba fazendo com que a gente relaxe, esquecendo de instruir e observar nossos filhos, relaxando com os cuidados.
Estamos saindo de um ciclo, onde fomos condicionados achar normal crianças acusando professores de comunismo, onde perseguir o professor começava entre a classe política, onde foi propagado ódio dentro das igrejas, onde ensinaram nossas crianças levantarem arminhas como se fosse a coisa mais normal do mundo. Foi nesse mesmo ciclo, que tentaram apagar tudo que aprendemos sobre tortura, homenageando torturador da ditadura.
Não podemos negar o vínculo entre fatos.
Levaremos alguns anos para que se consiga reverter os efeitos desses últimos anos.
Então, se pudesse fazer um pedido hoje, seria que não descuidassem dos seus, que observassem de perto o que acontece com aquela criança quietinha no sofá, que não se sentissem invadindo espaço, mas percebessem que estão exercendo seus papéis de pais, que é vigiar e instruir.
A missão é minha, é tua, é de todos nós.
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