CONTRAPONTO

 

O curioso caso da inveja

A inveja é um sentimento inerente ao ser humano. Todos temos ou já tivemos inveja em algum momento da vida. Até o ser mais bem trabalhado moralmente já teve inveja, nem que fosse na tenra infância. Mas ela nem sempre vem igual à da novela das 20h, quando a pessoa declara que quer passar a perna no outro ser humano, porque conseguiu o que ela tanto desejava. A inveja tem muitos rostos, formas, camadas e - na maioria das vezes - nem percebemos (ou não queremos perceber!).

Nós aprendemos socialmente a negar, reprimir e punir esse sentimento, porém, tudo que tentamos ignorar, silenciar e esconder nos consome aos poucos, de forma velada e ressurge novamente, com toda a potência e controle, já que vinha consumindo todos os demais segmentos, que pareciam impedir a sua passagem. Portanto, negar a inveja é o melhor caminho para se descontrolar e viver a serviço dela.

Sentir dor de cotovelo da situação de alguém nem sempre nos faz colocar o famoso “mal olhado” que magicamente azara toda a vida do nosso alvo. Muitas vezes agimos de forma ignorante, cobrando, negando e dificultando a vida das pessoas usando as seguintes falas: “não é justo fulano ter essa situação, se eu vivo em miséria!”, “não é certo eles terem esses direitos e eu não ter nada”, “é injusto fulano assumir tal posição, se eu cheguei antes e não consegui!”. O caso mais comum disso são aqueles grupos de pessoas indignadas com quem está lutando por um aumento de vale alimentação, se esses grupos não têm nem o vale.

Não estou falando aqui de desnivelamento social. Essa batalha é justa e deve ser sempre realizada (de forma correta). Falo de ações e falas que desmerecem a situação de alguns, apenas porque outros não têm o que acham que merecem - sendo que, na verdade, vivem de braços cruzados, beiços espichados e com o check-list de desculpas para não levantar da cadeira e agir por si.

Vítima, na nossa teoria, todos já fomos. Mas a vida não se resume e se justifica pelo que fizeram conosco. Isso é se aprisionar na jaula do coitadismo, abrir mão da liberdade e da própria vida para se lamentar eternamente. A existência se trata do que somos capazes de fazer e o quanto somos capazes de levantar, mesmo diante de tantos tropeços. Tem até um vídeo famosíssimo do Rock Balboa dando essa lição para o filho, que morre de inveja do pai. Uma lição belíssima e inesquecível. Se formos buscar a história de vida de grandes personalidades atuais, muitas viveram na miséria, em situações deploráveis, piores do que a nossa e o que fizeram? Desistiram? Reclamaram das conquistas do vizinho e que eram injustas, já que eles não as tinham? Se encheram de desculpas, lamentando o quanto têm limitações de saúde e financeiras? Não! Se levantaram e foram trabalhar para merecerem a mesma vida que outras pessoas tinham.

A inveja tem duas faces, a da raiva e a da admiração. A raiva está no campo da nossa falta de  conhecimento. Quando não assumimos a responsabilidade por nós mesmos, desconhecemos tudo que nos chega, afinal, quem sabe das escolhas que caem no nosso colo é o "destino" né? Ele quem nos traz os resultados. Nós somos só os receptores e só. Então vem a raiva, porque não entendemos os motivos da vida nos trazer tantas coisas desagradáveis. Já a admiração está no campo da responsabilidade e da ação. Observamos uma realidade que também queremos, achamos a pessoa incrível por conseguir e isso nos serve de alavanca motivadora, pois se ela conseguiu, nós também vamos!

A forma como iremos reagir aos nossos sentimentos depende apenas de nós mesmos. Se queremos continuar sendo um estorvo para a sociedade, dizendo besteiras que não entendemos na propriedade de bons entendedores de coisa alguma, ou se assumiremos nossa vida como nossa mesmo, nos apropriando da capacidade e do merecimento relativos às nossas atitudes.


Miriam Coelho

Miriam Coelho é artista das imagens e das palavras.

CINCO ANOS DE COLETIVEARTS,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
CRIANDO MUNDOS!

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2 Comentários

  1. Só consigo ter inveja branca. Aquela que não dói e não corrói. Hehehe.

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  2. Só consigo ter inveja branca. Aquela que não dói e não corrói.

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