Cavalgando com Tex: UMA TARDE BONELLI,
DORIVAL VITOR LOPES
Chico (Carlos Ramalho) e Dorival |
Dia 30 de setembro está chegando e com ele mais Uma Tarde Bonelli , evento que ocorrerá em Porto Alegre/RS e que estará desta vez comemorando 75 anos de Tex , criação máxima dos fumetti (quadrinhos italianos). Tex é o maior herói do gênero quadrinhos de faroeste do mundo, criado por Giovanni Luigi Bonelli e Aurelio Gallepini em 1948, segue cavalgando firme até os dias de hoje, sendo publicado na Itália pela Sergio Bonelli Editore e no Brasil pela Mythos Editora.
Nós do ColetiveArts estamos realizando nossa terceira edição do Cavalgando com Tex, desta vez com uma série de publicações e ações que estará apoiando o evento presencial Uma tarde Bonelli que ocorrerá dias 30/09 e 01/10 na Biblioteca Pública do Estado, que fica na rua Riachuelo nº 1150, Porto Alegre/RS, horário: 13h às 19h com a entrada franca.
Tex começou sua história no Brasil com o nome de "Texas Kid" quando foi publicado pela primeira vez no Brasil em 1951, pela Revista Júnior da Editora Globo no número 28. Tex foi publicado nesta primeira encarnação até o número 263 , agosto de 1957. Após alguns anos de ausência retornou em fevereiro de 1971 pela saudosa Editora Vecchi, agora devidamente chamado pelo seu verdadeiro nome Tex. E ele voltou para nunca mais parar de ser publicado e nem sair do coração de seus leitores, leitores esses que se multiplicam cada vez mais, mesmo com o pard trocando de casa ao longo dos anos.
Tex foi publicado pela Vecchi até o número 164 em agosto de 1983, a Rio gráfica assumiu em outubro de 1983 com o número 165 e foi até dezembro de 1986 com o número 206, depois assumindo (ou reassumindo) a Globo em janeiro de 1987 com o número 207, ficando responsável até o número 350 que saiu em dezembro de 1998.Em janeiro de 1999, com o número 351, assumiu aquela que tem sido a casa editorial de Tex já há 24 anos, a Mythos Editora.
A Mythos é mais que um capítulo especial na vida do ranger e de seus leitores, pois ela deu todo o tratamento que os fãs desejavam a décadas, atendendo a pedidos como edições extras, edições anuais, criando novas coleções, sempre atraindo novos leitores e contemplando os fieis seguidores de anos. Claro que existem os inconformados com o tratamento dedicado a Tex, sempre existirão, afinal fãs são assim mesmo, apaixonados, e a paixão resulta muitas vezes em uma dicotomia de amor e ódio que é difícil de se entender. Mas a Mythos segue firme fazendo sempre o melhor pelo personagem, aliás ninguém tem tantos títulos publicados no Brasil e isso é um fenômeno editorial conseguido graças a um trabalho sério e dedicado.
E por trás deste trabalho na Mythos está um editor que é um verdadeiro fã ardoroso do pard, que é um ícone que todos os leitores tem um respeito e uma admiração que são gigantescas: Dorival Vitor Lopes. Dorival esteve em Chopinzinho/PR na comemoração dos dez anos do Clube Tex Brasil e estará em Porto Alegre abrilhantando Uma Tarde Bonelli, e nós do Arte e Cultura fomos conversar com essa lendária figura, confiram como foi a conversa!
DORIVAL VITOR LOPES
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JORGINHO - Como o Dorival se define?
DORIVAL VITOR LOPES - Sou uma pessoa feliz e realizada, tanto na vida privada como na profissional. Comecei a ler gibis com 11/12 anos e nunca mais parei. Naquela época havia poucas revistas: 3 ou 4 Disney, 2 ou 3 de faroeste da Rio Gráfica, Batman, Superman, Fantasma e Mandrake, pelo que me lembro. Desde os 13 anos eu trabalhava como office boy em um escritório e tinha muito tempo para ler. Como os gibis acabavam logo, passei a ler fotonovelas e livros. Li todos os clássicos brasileiros e portugueses: Machado de Assis, José de Alencar, Eça de Queiróz...
Com 19 anos fui trabalhar na Editora Abril, e logo estava na Redação Disney; primeiro, como coordenador de redação e, depois, como editor assistente. Depois de um tempo passei a Chefe de Redação. Em 1986 fui demitido da Abril e o Mauricio de Sousa me chamou pra trabalhar com ele. Fiquei lá dois anos, me demiti e abri o meu primeiro estúdio de produção de quadrinhos, produzindo para a Abril e logo também para a Globo, que se mudara para São Paulo. Era o ano de 1988, o ano em que conheci minha maior paixão nos quadrinhos... TEX.
Imagem: Tex Willer Blog |
JORGINHO - Como foi sua trajetória até entrar na Editora Abril?
DORIVAL VITOR LOPES - Foi bem curta. Com 13 anos fui trabalhar de office boy em um escritório de representação comercial da indústria têxtil no centro de São Paulo. Os patrões eram portugueses, e cedo aprendi a admirar nossos “patrícios”. Eu gostava muito deles, e eles de mim. Fiquei lá até os 18 anos quando passei para a Editora Abril.
JORGINHO - Como foi trabalhar na Abril? Com quais títulos você trabalhou e quais os que mais te marcaram?
DORIVAL VITOR LOPES - Na época, 1970, a Abril era o emprego dos sonhos. Ela estava em grande expansão, com as revistas Realidade, Veja, os fascículos, fotonovelas, a revista Placar, coleções de música brasileira... era uma época de fartura e pleno emprego, e eu surfei bem nessa onda, tendo tido várias promoções e bom salário. Com 20 anos comprei meu primeiro carro, com 22 casei com uma moça que conheci lá. Anos maravilhosos, cheios de aprendizado, excelentes amizades, aventuras e inocência. Sim, eram os anos da ditadura militar, mas pra mim o mundo era lindo. Eu curtia Beatles, Chico Buarque, Caetano, Gil, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Tom Jobim, Vinícius, Elis Regina, Roberto Carlos, Erasmo Carlos. Só mesmo quem viveu sabe que época fantástica foi aquela. Eu costumo dizer que nos últimos 50 anos 90% das revistas feitas no Brasil de alguma forma passaram pelas minhas mãos: ou diretamente, fazendo tradução, copy e revisão, ou como coordenador de equipe. Fiz Disney, Turma da Mônica, Flintstones, Jetsons, Manda-Chuva, Luluzinha, Bolinha, Gordo e Magro, Pica- Pau, Pererê, todas os personagens Marvel e DC, e alguns personagens italianos que saíam na revista Audaz, infelizmente com vida curta.
Dorival e Carlos Ramalho |
JORGINHO -- Como surgiu a ideia do estúdio Art & Comics?
DORIVAL VITOR LOPES - Em 1988 eu resolvi sair do Mauricio e fui pedir trabalho de freelancer na Abril. Para minha sorte a Abril estava começando a terceirizar a produção de seus quadrinhos. Fui o primeiro a fazer esse trabalho. Eu precisava abrir uma empresa, pois teria que dar nota fiscal para receber o pagamento. Abri o Estúdio Rarus e logo peguei vários títulos para produzir. Como a Abril tinha demitido muita gente para fazer a terceirização, eu passava bastante trabalho para o pessoal que estava desempregado, e a coisa funcionava muito bem. Sempre fui muito bom para coordenar equipes e conseguia fazer um ótimo trabalho.
Só que eu trabalhava como um louco, já tinha dois filhos em idade escolar e as despesas só aumentavam. Era comum eu ir deitar à meia-noite e colocar o despertador para as quatro horas da manhã, na verdade, da madrugada. Mas eu gostava, era jovem, e o mundo era lindo. Na época eu tinha uma moto e por duas vezes dormi em cima dela quanto pilotava. Por sorte não me machuquei muito nas duas quedas, mas percebi que precisava diminuir o ritmo. Mais uma vez o destino foi bom para mim, na verdade eu sempre tive muita sorte e coisas boas sempre acontecem comigo quando eu mais preciso. Nessa época, 1991, já havia um outro estúdio de produção de HQ. Era o Artecomix, dos meus amigos Helcio e João Paulo, que trabalharam comigo na Abril. Eles não eram muito bons de coordenação e resolveram me chamar para ajudá-los. Topei na hora e fundamos o Estúdio Art & Comics, juntando os dois estúdios. Depois o Art & Comics ficou mundialmente famoso quando começamos a agendar artistas brasileiros para desenhar para a Marvel, DC e outras editoras americanas. Mas essa é outra história.
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JORGINHO - Como surgiu a editora Mythos?
DORIVAL VITOR LOPES - Um dia, de repente, a Editora Abril nos comunicou que não ia mais trabalhar com estúdios mas sim diretamente com os colaboradores. Helcio e eu (o João Paulo já não estava conosco) nos vimos na rua da amargura. O que fazer? Bom, tínhamos muita experiência em editar revistas, por que não editar as nossas próprias revistas? Como tínhamos contato com muitas editoras americanas, compramos os direitos de alguns personagens e fundamos a mítica Mythos Editora. O resto é história.
JORGINHO - Fora os títulos da Bonelli, com que outros você mais gosta de trabalhar na Mythos?
DORIVAL VITOR LOPES - Na verdade, eu faço praticamente só os Bonelli... dos outros quem cuida é o Helcio. Mas para citar um, Conan... sempre gostei muito dele. Quando eu fazia Marvel e DC meus preferidos eram Justiceiro, Aranha e Batman.
JORGINHO - O que Tex representa para você?
DORIVAL VITOR LOPES -Tex é o homem que todos gostaríamos de ser, ou de ter por perto. Ele é honesto, justo, inteligente, forte, fiel, amigo, criativo, irônico e extremamente seguro de si. Sempre disposto a ajudar quem precisa e a mandar para a prisão, ou para o cemitério, quem abusa dos mais fracos. É o pai, o irmão, o amigo, o vizinho que todos sonham em ter.
Arte de Ana Pepper |
JORGINHO - Qual é o segredo para a longevidade e a pluralidade de edições de Tex no Brasil?
DORIVAL VITOR LOPES - Tex começou a ser publicado no Brasil em uma época em que a diversão da molecada eram as brincadeiras de rua, a matinê no cinema aos domingos e as revistas em quadrinhos. Com isso criou uma legião de fãs que são fieis até hoje. A qualidade das suas histórias e o fato de ser publicado ininterruptamente desde 1971 fez com que ninguém se esquecesse dele. Por ter atravessado gerações, é possível republicar suas histórias muitas vezes, e sempre haverá alguém que vai ler pela primeira vez. A qualidade de seus roteiros e arte também fideliza o leitor, que sabe que sempre vai ler uma ótima aventura. Tex não tem uma história nota 4 e outra nota 9. Para mim, que já li milhares de histórias dos mais variados personagens, todas as de Tex são nota 8 para cima. Acho que esse é o principal motivo do seu sucesso, a qualidade do roteiro e da arte.
Arte de João Amaral |
JORGINHO - Quais os desenhistas e roteiristas de Tex que você mais admira?
DORIVAL VITOR LOPES - O melhor desenhista sem dúvida é o Claudio Villa, mas o meu preferido é o Fabio Civitelli. Seu estilo limpo e preciso faz mais o meu gosto. Roteiristas, sem dúvida, é o G.L. Bonelli e o Claudio Nizzi. São fantásticos.
Arte: Claudio Villa |
JORGINHO - Quais os planos da Mythos para Tex nesse segundo semestre de 2023 e se já existe algo previsto para 2024?
DORIVAL VITOR LOPES - Infelizmente o momento não está nada bom para nós. A falta de bancas, de distribuição, de livrarias e de comic shops nos obriga a depender quase que só das vendas pela internet, e se conseguirmos manter o que temos já é um quase milagre.
Arte: Karen Suellen |
JORGINHO – Existe chance de o “tão sonhado álbum de figurinhas“ e a coleção das strisce/tiras (que resgatou edições no formato original de Tex serem publicadas?
DORIVAL VITOR LOPES - A esperança é a última que morre.... então, existe. Remota, mas existe. Já fizemos proposta para publicar o último álbum do Tex, mas como ele pertence à Bonelli e à Panini, não houve acordo. Mas ainda não jogamos a toalha.
GG Carsan e Dorival |
JORGINHO - Como foi para você, como editor de Tex, estar no meio de fãs do pard, como foi em Chopinzinho-PR na comemoração dos 10 anos do Fã Clube Tex Brasil? O que você espera do dia 30/09 em Porto Alegre, no evento “Uma Tarde Bonelli”?
DORIVAL VITOR LOPES - Claro que foi muitíssimo agradável. É gratificante ver o entusiasmo e a alegria dos fãs de Tex e sua gentileza comigo. Em Porto Alegre espero a mesma atmosfera contagiante de alegria e camaradagem. Só espero que não me ofereçam chimarrão... não curto, eh, eh, eh. Mas uma Faixa Azul vai muito bem.
Um abração a todos.
"Tex é o homem que todos gostaríamos de ser...É o pai, o irmão, o amigo, o vizinho que todos sonham em ter." - Dorival Vitor Lopes |
Jorginho |
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