CONTRAPONTO

 Feminina

Ser mulher e vibrar nessa energia ainda é um tema polêmico. Na tentativa de nos reafirmarmos como seres humanos livres e merecedoras de respeito, foi instaurada uma guerra contra os homens e cada lado tem a sua trajetória machucada. Com as práticas holísticas e a Constelação Sistêmica, fui entendendo que todos - homem e mulheres - temos energia feminina e masculina interna - ambas feridas. A energia feminina é aquela que sente, nutre, acolhe, conforta, conectada a mãe terra e a natureza. A energia masculina é aquela que vai para a vida, conquista os sonhos, tem força para sair do lugar, para expandir, para comunicar e fazer a presença ser sentida. Não há um homem e uma mulher que não tenha um tanto de cada uma dessas energias (Jung se refere a elas como Animus e Anima), porém vou falar do que sinto e aprendo enquanto mulher.

Essa semana, estava em mais uma vivência de Constelação Sistêmica em grupo representando uma pessoa no seu próprio campo, uma mulher. A prática já estava quase se encerrando quando, de repente, uma energia maravilhosa entra no sistema (a vida), olhando fixamente para outro símbolo maravilhoso: Ganesha. A pessoa representando a vida colocou uma música e eu, no estado de peão daquela constelação, senti uma imensa vontade de dançar. No entanto eu, como Míriam, fiquei insegura, pois não danço e sempre senti que era incapaz de fazer algum movimento decente (me julgava um pato feio e desajeitado dançando), fora que haviam dois homens no grupo imenso de mulheres e isso me deixou mais bloqueada - o que o lado racional daqueles homens poderia dizer daquela minha “loucura”?

Por fim, dei de ombros e me entreguei. Confiei no que estava sentindo, me atirei na melodia de Ganesha e dancei. Me senti plena, feliz e identificada com aquela dança tanto quanto me identifiquei com quem representei no campo - histórias parecidas. No final, quando conversávamos sobre a Constelação, eu contei que não danço e me senti mega insegura com os movimentos. Para a minha surpresa, todos disseram que não era o que parecia, pois eu dancei como uma pessoa acostumada. Me surpreendi e logo entendi.

Historicamente, as mulheres dançavam de pés descalços, às vezes nuas, nas florestas ou nas tribos, nutrindo-se da energia da natureza, que também vibrava nelas. Quando as perseguições e castrações religiosas iniciaram, devastando e aprisionando a natureza feminina, as mulheres eram assassinadas, estupradas e mutiladas como bruxas, para exemplificar o que as demais não poderiam fazer. No nosso DNA está gravado o medo e os julgamentos. Não é culpa dos “homens”, mas culpa de uma crença antiga nascida pela má interpretação da fé.

Hoje em dia, lutamos para nos defender de qualquer julgamento vestindo calças, nos transfigurando de atitudes agressivas, endurecemos nossos corpos, firmando nossos pés nos deveres e nos mantendo sempre sóbrias na "razão" - que razão é essa? Achamos que isso tudo é ser mulher, mulher bem resolvida, mulher dona de si, mulher forte, mulher independente e capaz de fazer tudo que um homem faz. Ou vamos para o oposto, sendo submissas ao lar, ao marido, aos filhos e ao conforto do que aprendemos religiosamente para não precisarmos nos sentir milicos na guerra. Mas nada disso está conectado com a verdadeira energia feminina. E não vamos esquecer que essa mesma repressão também reprime parte dos homens, portanto a dor não é apenas nossa ("homem não chora", "não sente", "homem só é culpado", "homens são estupradores em potencial", etc.).

A potência feminina saudável é suave, é leve, é movimento, é onda, é sinergia. Somos intuitivas, sensíveis, sensuais, compreensivas, farejadoras, conhecedoras do invisível, defensoras da criação, dos demais seres vivos, somos holísticas, nos conectamos com o horóscopo (muito julgado pelos racionais convictos e rasos) e DANÇARMOS.

Entendi que o início do mergulho na energia feminina, tão poderosa e necessária quanto a masculina, é se entregar a tudo aquilo que nosso masculino adoecido quer bloquear. Nossa sensualidade não é motivo de vergonha, é parte da natureza. Ser mulher (é homem também) é se entregar ao sentimento, à dança, à vibração, é colocar os pés no chão, rodopiar, ser chamada de louca, ser incompreendida, ser renovada a cada mudança de lua ou fim de ciclo, estamos atreladas à fluidez da vida e TEMOS A NOSSA LÓGICA. Amei e entendi um pouco mais do que é a energia feminina e desejo mais dela nesse mundo, para curar o bélico que paira em todos os nossos problemas cotidianos. O bélico é o masculino adoecido, junto do feminino aprisionado. Vamos curar nosso masculino e abrir as portas da prisão do feminino, para - juntos, homens e mulheres - caminhar de forma saudável no mundo que precisamos curar.


Miriam Coelho

Miriam Coelho é artista das imagens e das palavras.

CINCO ANOS DE COLETIVEARTS,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
CRIANDO MUNDOS!
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