Estupro
O estupro físico é aquele em que uma pessoa empele força física sobre a outra para conseguir prazer próprio e sem consentimento do alvo. Atualmente também as dores de quem passa por isso com a mesma raiva e indignação como se fosse conosco - uma atitude correta e justa, não podemos aceitar esse tipo de ato em pleno século XXI! Mas por que ninguém reage com a mesma revolta quando nos estupram moralmente? O prazer da língua venenosa lambendo e expelindo uma distorção é o mesmo prazer recriminado no estuprador, mas a fofoca é tão bem aceita socialmente, que equivale ao cigarro, uma droga tão devastadora quanto a cocaína, mas permitida socialmente, enquanto a outra é combatida.
Quem já foi alvo de calúnias e mentiras assim como já sofreu violência sexual, se sente da mesma forma. Alguém enfia - a força - uma grande e verruga língua no teu orifício anal ou vaginal, enquanto o resto do mundo ri, aplaude, incentiva e ainda te chuta por ser a vítima da vez: “mereceu”, alguns dizem, “é um nojento mesmo, toma essa!”, aplaudem outros, “isso, fala mais dela…”, gemem de prazer outras pessoas. Já parou para olhar a sua contribuição nesse estupro? Até quando vai continuar estuprando os outros ou aplaudindo o ato na plateia, como um bom doente social? Até quando vai continuar mentindo para si mesmo que a história ouvida é verdade absoluta, para alimentar o seu desejo recalcado por estuprar os demais?
Pior ainda quando a violência vem dos mais próximos, daquelas pessoas que abrimos a nossa vida, às recebemos de braços abertos, entregamos nossa confiança e jamais imaginaríamos ser violentados de surpresa. De repente, vem o choque! Você se pega na cena nunca imaginada. Seu espírito parece sair do corpo, enquanto tudo se desenrola (a violência sexual ou lingual) e, quando volta a si, está num canto, tentando entender como não percebeu os sinais antes, qual das suas atitudes podem ter causado o mal entendido da outra, por que não teve forças para se defender na hora, por que mereceu passar por isso. Já o violentador (sexual ou lingual) permanece no seu pedestal, dizendo que você causou tudo isso, a culpa é apenas sua e qualquer atitude de reação sua será devolvida em dobro. O estuprador nunca desce do seu pedestal e os estupradores da moral alheia tem secretários, carteiros, ajudantes, plateia e todo um sistema aplaudindo e alimentando com regozijo depravado essa violência bem aceita socialmente. Qual dos papéis nós exercemos nesse estupro aceito?
Miriam Coelho |
1 Comentários
Inferno...
ResponderExcluirA humanidade sempre foi baseada no poder e na maldade. Há sempre alguém escravizando outrem.
O perverso usa o mal dos outros para se retroalimentar.
Tudo vai mal e ele pode agir.
E existe uma resistência...
G.G. Carsan