NAVALHAS AO VENTO

 

O VERDADEIRO SENTIMENTO NATALINO

Para mim todo ano a época do Natal é uma tristeza por não conseguir entender o verdadeiro sentimento natalino.

É confuso ver as pessoas que passam o ano todo endividadas, estou inclusa neste grupo, ficarem enlouquecidas com a chegada do décimo terceiro. Mas para muitos não é para pagar as contas, muitos “torram” este dinheiro de maneira desordenada em nome do Natal. Mas o que significa o Natal?

Desde pequena eu questiono as músicas. Oras, tem uma, muito cantada em festas familiares que me deprimia quando eu era criança. Ela diz mais ou menos assim: “eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel... Já faz tempo que eu pedi/ Mas o meu Papai Noel não vem/ Com certeza já morreu/ Ou então felicidade / É brinquedo que não tem...” Pelo amor de Deus, isso é deprimente. Somado a isto, temos pais e mães que economizam tudo o que podem, tiram até da mesa para comprar o brinquedo mais caro e esquecem de dar carinho e amor... E quem ganha a fama de ter dado aquele brinquedo é um cara que nem existe, uma criação da Coca-Cola, em 1931, usando o personagem lendário originário da cultura cristã chamado São Nicolau ou Santa Claus, um babaca de roupa vermelha, suando, em pleno país tropical, que fica nas lojas induzindo ao consumismo.

Como professora eu já presenciei fatos bem significativos como o de um menino que era excelente aluno, comportado, educado, participativo, uma criança que todo professor gosta de ter, o pedido dele para o “bom velhinho” era ganhar uma bicicleta. Antes do natal ele veio todo feliz me contar que tinha certeza que ganharia, pois tinha sido tudo o que os pais desejavam dele. Na mesma turma eu tinha um “capeta”, sabe aquelas crianças sem limites? Algum tempo depois encontrei o primeiro menino na rua, cabecinha baixa, visivelmente triste, estava com a avó, perguntei porque estava triste e ele contou que o Papai Noel havia trazido só um carrinho de plástico para ele e para o outro menino ele trouxera a bicicleta. E doeu quando ele disse: “- Prô, no outro ano eu não me esforçarei para ser educado. O Papai Noel não gosta de mim.” Eu tentei amenizar, disse que com certeza havia acontecido alguma confusão nos endereços ou, quem sabe, o outro menino estava pedindo há muito mais tempo. A triste realidade é que os pais do primeiro menino eram bem pobres e o segundo de família abastada, mas o que isso importaria se fosse o Papai Noel? Acredito que isso possa impactar negativamente uma criança, mas será que só eu penso assim?

Os presentes estão em primeiro lugar, ninguém lembra do aniversariante, só ficam no aguardo do SEU presente, da SUA roupa nova, da SUA ceia. Ao passar por alguém em situação de rua, são poucos os que oferecem alguma coisa para esse ser humano matar a fome ou a sede. Preferem ostentar o que não têm e fazem fotos para se exibirem nas redes sociais. Cada qual quer mostrar a mesa mais bonita, a churrasqueira mais farta, a maior árvore... e em janeiro já estão novamente endividados... E o aniversariante nem parabéns recebeu...

Outra coisa que eu fico p. da vida é com a mania dos fogos de artifício... Meu jesusinhocristinhoamadomestre, que gosto mais estranho ficar olhando para cima enquanto uma barulheira dos infernos incomoda bebês, idosos, crianças, autistas, cães, gatos e outros animais e até mata pássaros em pleno voo. Eu não consigo entender... Quando eu vi uma criança autista em crise por causa dos malditos fogos de artifício, eu chorei junto, eu sofri junto. Eu senti o desespero daquela criança e daquela mãe...

Eu não tenho a pretensão de mudar o mundo. Mas como diria Frida Kahlo: “Não quero que pense como eu, só quero que pense.”

Isab-El Cristina Soares
Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras.

Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.

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