LIBRAS – 22 ANOS NO SILÊNCIO
No dia 24 de abril comemoramos 22 anos da criação da Lei 10.436/2002 que reconhece LIBRAS como a segunda língua oficial do Brasil. Mas o que isso significa? Nada.
A lei existe apenas no papel, em 22 anos muito pouco ou nada foi feito para colocá-la em prática. Existem vários projetos de Lei como o 2403/22 que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) para incluir a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) nos currículos da educação básica, da pré-escola até o ensino médio, mas até hoje não tenho notícias de que tenha saído da câmara dos deputados, onde está para apreciação.
Em algumas escolas, quando tem aluno surdo na sala de aula, existe a presença do tradutor- intérprete, mas isso não é na totalidade das escolas e não é o suficiente. O aluno surdo tem o mesmo direito do aluno ouvinte e se sente inferiorizado com a presença de uma “babá” em sala de aula quando seria muito mais produtivo que o professor sinalizasse, tornando a comunicação inclusiva.
Todo o órgão público é obrigado a ter alguém capacitado para atender a comunidade surda, mas não vejo em nenhum local isso acontecer. Nem mesmo hospitais, clínicas ou consultórios dentários, ou seja, nem na necessidade básica o surdo é respeitado como cidadão brasileiro.
De acordo com o site www.mundoeducacao.uol.com.br podemos afirmar que “A comunicação por meio de uma língua de sinais é uma prática antiga na história da humanidade, e já na Grécia Antiga havia relatos de pessoas que se comunicavam por sinais. Historicamente, o surdo foi figura marginalizada e vítima de preconceito, mas, nos últimos anos, uma série de medidas de inclusão têm sido realizadas no nosso país.”
É claro que já tivemos algum avanço, mas ainda caminhamos a passos de tartaruga. Há relatos de que Dom Pedro II tinha um neto surdo, outros registros apontam apenas que era um parente próximo e por isso o imperador contratou o francês Ernest Huet , formado no Instituto Nacional de Surdos de Paris para ajudar a fundar um estabelecimento de educação capaz de atender ao surdo. Em 1857, então, foi fundado o IISM – Imperial Instituto dos Surdos-Mudos. A nomenclatura da escola teve várias alterações e hoje é conhecida como INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos. Hoje, 167 anos depois ainda estamos engatinhando na construção de um país inclusivo.
Ainda hoje existe muito preconceito e discriminação para com a comunidade surda. Todos concordam que é necessário implementar nas escolas, mas ninguém se propõe a buscar uma especialização. Quando eu fiz a pós em LIBRAS o meu TCC foi “O surdo na pandemia de Covid- 19 pela ótica do profissional de saúde” e fiquei surpresa, quando da pesquisa de campo eu constatei que em 60 entrevistas que ia desde recepcionistas, higienização, enfermeiros, médicos, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem apenas 1 recepcionista estava apta a atender um paciente surdo e que os demais não tinham intenção nenhuma de frequentar um curso para aprender o idioma. Alegaram que o surdo TEM QUE SABER ESCREVER ou deve levar acompanhante.
Sim, estamos falando de pessoas com deficiência, mas a deficiência não é da pessoa surda. A maior e mais prejudicial deficiência é a de quem não quer aprender a se comunicar com o seu irmão. Para que tu entendas o que estou falando, sugiro eu assistas no YouTube ao vídeo “E se o mundo fosse surdo?”
Se colocar no lugar do outro é um exercício que poucos sabem fazer.
Isab-El Cristina Soares |
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