ARTE E CULTURA


FABIO DA SILVA BARBOSA, a voz do Underground!



Fabio da Silva Barbosa é, caro leitor, para este que vos escreve, o maior escritor do underground brasileiro. Mas ele é muito mais que isso, ele é um pai de família lutador, um educador social que sempre foi comprometido com o seu trabalho, inclusive abrindo portas para o Coletive realizar ações sociais em abrigos que o mesmo atuava.

Fabio é daquelas figuras singulares, ao qual existem muitas poucas por aí. É um grande batalhador da cultura, editando durante muitos anos o fanzine Reboco Caído, verdadeiro farol de resistência da contra-cultura, é um dos idealizadores da Editora Merda na Mão, que realiza um trabalho mais que importante no cenário cultural, publicando os impublicáveis. É o escritor mais prolífico do Coletive, contribuindo com poesias, textos, vídeos, participando de saraus, tendo a sua coluna "Malditos Teclados Bailarinos"sendo publicada e reverberando no blog  Coletive em Movimento desde que este foi criado. 

Durante alguns anos eu tive um programa na Rádio Rota 220 do Rio de Janeiro, junto com Daniel Filósofo, com Walter Paz e com o segmento do Reboco Caído, que era bolado por ele, Fabio. Este amigo está presente em todos os momentos do Coletive e tem a sua arte espalhada pelo Brasil em todos os lugares em que atua.

E hoje estamos todos nós do ColetiveArts, todos nós que somos engajados com a cultura e em tentar fazer deste mundo um lugar menos insólito pedindo sua contribuição para ajudar Fabio da Silva Barbosa e sua família , pois ele mora em Porto Alegre/RS e como muitos está sofrendo com a enchente que devastou o estado gaúcho. Então, estamos pedindo humildemente qualquer contribuição para ajudá-lo neste momento tão difícil.

Contribuições para o Pix: elkhourisousa@gmail.com
* Fabio não tem pix, portanto foi necessário o pix do seu amigo Diego El Khouri Sousa que vai repassando para a conta do Fabio as contribuições que forem chegando.

Para você que não conhece o trabalho de Fabio da Siva Barbosa, aqui uma pequena amostra dele:

Malditos Teclados Bailarinos publicados no dia 01/08/2021


E os teclados cada vez bailam mais
enquanto a descarga elétrica dá a partida
e os dedos disparam os jorros pútridos da revolta explícita
pura e cristalina
como os sais queimando as vistas


Vídeo de Fabio da Silva Barbosa no canal do Coletive em 2021:



Texto de Fabio da Silva Barbosa com ilustração de Reginaldo Barbosa publicada no #temliteraturanarede do dia 22/05/2022

Notívago

Desbravando a madrugada, seguia pela rua deserta. As mãos nos bolsos tentavam fugir do frio cortante. As pernas bêbadas me faziam rir. Passou um ônibus com uma galera zoando na janela. Acho que me chamaram de bolo de merda ou algo do gênero. Logo após, passou um triciclo majestoso. Seu ronco foi sumindo nas minhas costas até voltar a ficar sozinho na agradável companhia do mundo, do universo noturno. A chuva começou a cair fina. Olhei para o alto e avistei A Santa. Estava quase chegando. Ouvi um barulho de ônibus vindo atrás de mim. O barulho sumiu e o ônibus não passou. Não havia ruas para ele entrar. Seria um ônibus fantasma? Ouvi um barulho de moto vindo da mesma direção. Desta vez, era mesmo uma moto. Passou em disparada. Cruzei com um grupo no ponto de ônibus. Pelas caras desanimadas, já deviam estar ali por muito tempo e não acreditavam que o transporte viria antes do amanhecer. Consegui mais um bom pedaço sem avistar ninguém. Só aquele silêncio aconchegante, cortado pelo zumbido do vento. Agora, já vislumbrava as torres da igreja. Faltava menos ainda. Mas a caminhada estava gostosa. Não tinha pressa de chegar ao meu destino. Uma mulher surgiu correndo e quase me atropelou. Deve ter saído da esquina. Olhei para dentro da rua (de onde acreditava que ela tinha saído) e vi um casal ao longe. Olhei para trás. Ela ia a passos rápidos. Mais passos pela solidão noturna daquela madrugada fria. Conhecia muito bem aquele trajeto. Já o tinha percorrido diversas vezes. A chuva começou a apertar, o vento soprou mais forte, raios e trovões pelo céu e meus passos continuavam desapressados e bêbados. Um carro encostou-se ao meio fio bem na minha frente. Percebi que estava caminhando pela calçada. Não me lembrava de ter saído do meio da rua (meu local preferido  para essas caminhadas). Achei o carro sinistro. Percebi uma música muito animada emanando de seu interior. Não era nada de mais. Ninguém que estivesse planejando fazer maldade contra um notívago estaria ouvindo aquele tipo de música. Comecei a ter impressão que era um cara com uma mulher dentro do carro. Quando passei por ele, avistei apenas o motorista, que parecia me olhar fixamente. Ao terminar de passar, o carro acelerou ao máximo e foi na direção de onde eu vinha. Fiquei cismado por um tempo, mas decidi que não era importante. Não iria deixar que um carro sinistro com seu motorista problemático estragasse minha caminhada perfeita. Depois de mais alguns passos, avistei uma rapaziada coletando lixo e atravessei a rua em frente a igreja. Segui pela escura lateral. Quando avistei minha janela e reparei na luz acesa, pude constatar que ela ainda estava acordada. Que bom.



 As palavras do Maldito

Entrevista dada em 27/01/2022, quando Fabio lançou o livro Fábrica de Cadáveres - Do forno ao moedor


Em um jogo de palavras, como se estivéssemos tomando uma cerveja preta, Fabio da Silva Barbosa reagiu as palavras propostas: 

JORGINHO: Patriotismo

FABIO DA SILVA BARBOSA: Mais uma arma do sistema apontada para a cabeça do povo.

JORGINHO: Partidos políticos

FABIO DA SILVA BARBOSA: Grupos de interesses que se digladiam, entre um abraço e um beijo quente. Revezam na administração da miséria do povo. Facções compostas por parasitas fantoches marionetes. Muito recomendado para os que gostam das eternas reprises.  

JORGINHO: Niterói/RJ

FABIO DA SILVA BARBOSA: Local onde passei a maior parte da minha vida e rolaram muitas loucuras. Coisas insólitas mesmo. 

JORGINHO: Porto Alegre/RS

FABIO DA SILVA BARBOSA: Uma nova etapa, também recheada de psicodelia. Até quando? Vai saber.

JORGINHO: Reboco Caído

FABIO DA SILVA BARBOSA: Zine que produzo há mais de dez anos e que terei de dar um tempo devido a falta de grana para impressão, correio... e tudo o mais que a coisa envolve. Sair apenas em formato digital? Isso não é uma opção. Mas assim que conseguir me organizar melhor, a coisa ressurge das trevas.

JORGINHO: Religião

FABIO DA SILVA BARBOSA: A pessoa ter uma espiritualidade, ou acreditar nisso e naquilo, é problema dela. Agora, quando falamos em religião, estamos falando de uma estrutura que desde sempre existe para manter o povo com medo, manso e submisso. 

JORGINHO: Família

FABIO DA SILVA BARBOSA: Depende do que você chama de família. Se for família enquanto instituição que compõe essa sociedade podre que nos cerca, está tão falida quanto todas as outras instituições. Mais uma tentativa de controle, de domesticação. Como todo o tecido social, não se sustenta.

JORGINHO: Racismo

FABIO DA SILVA BARBOSA: Ainda existir este tipo de coisa em pleno 2022 é, no mínimo, bizarro.

JORGINHO: Neo Nazistas

FABIO DA SILVA BARBOSA: Ainda existir este tipo de coisa em pleno 2022 é, no mínimo, bizarro.

JORGINHO: Cultura

FABIO DA SILVA BARBOSA: Uma palavra empregada de muitas formas e em várias definições. Como tudo o mais (a ciência, a medicina, a marreta...), é uma ferramenta que pode ser usada tanto para erguer uma casa, quanto para afundar um crânio. 

JORGINHO: Futuro

FABIO DA SILVA BARBOSA: Se não acontecer uma ruptura radical com o atual estado das coisas, não será dos melhores.

JORGINHO: Fabio da Silva Barbosa

FABIO DA SILVA BARBOSA: Se descobrir, me explica.

Para comprar a obra Fábrica de Cadáveres - Do Forno ao moedor:

fsb1975@yahoo.com.br  

Entrevista dada em 21/05/2023 quando Fabio lançou o livro: A DOR DOS QUE SENTEM - Diário dos abandonados pela felicidade . Fabio havia acabado de sair de uma internação.


JORGINHO - O que levou você a escrever sobre sua internação?

FABIO DA SILVA BARBOSA - Na verdade, esse processo de criação foi algo diferente, totalmente espontâneo. Brotou como o suor nasce dos poros. Foi para não morrer de tédio e com isso enlouquecer mais ao invés de me curar. Não me interessava pelo que era oferecido, então busquei uma alternativa. Pedi um lápis e papel. Era sempre uma burocracia para conseguir o lápis. De fato, ainda mais quando vinha com a ponta bem feita, dava pra promover um prejuízo. Mas o caso é que a todo momento que me vinha algo, pedia papel e lápis. Usava e devolvia o lápis. Os papéis ficavam comigo, mas eu nem sabia o que estava fazendo. Nem tinha concebido “A Dor dos que Sentem – Diário dos abandonados pela felicidade”. Eu apenas estava tapando buracos, buscando algum sentido para as coisas, entender minha colcha de retalhos. Encontrei nessa atividade que exerço há tanto tempo, uma forma de equilíbrio. Daí começo a registrar tudo.

Uma cena que está acontecendo diante dos meus olhos, detalhes que de tanto se repetirem e serem comparados com o nada que nos envolve, tomaram  proporções de acontecimentos, reflexões, pensamentos descartáveis, devaneios... Vai tudo para o papel. Mas comecei a fazer isso depois de uns dias. Nos primeiros levantava da cama só quando não tinha jeito. Daí comecei a levantar mais vezes e a rotina se apresentou de forma massacrante. Se não arrumasse nada do meu interesse para me ocupar... E aí comecei a escrever. Embora tenha usado a palavra “Diário” abrindo o subtítulo, agora acho que está mais para um caderno de recortes. São recortes mentais, perceptivos e psíquicos. Isso também se deve ao meu cérebro estar funcionando de forma totalmente desorganizada. Quando fui transcrever, passar a coisa para o computador, tiveram partes que não consegui ler devido as letras terem virado verdadeiras paisagens de garranchos atômicos. Tinham frases escritas por cima de frases. Devido a beleza de todo aquele caos no papel, até guardei esse manuscrito. Já existe a ideia da Editora Merda na Mão lançar também em formato impresso. Daí, de repente, colocamos uns bônus com fragmentos do manuscrito ou algo do tipo. Mais isso está por vir. Ainda se tem muito chão pra caminhar.

Mas voltando a pergunta: Lá para o final da internação, comecei a perceber que aquela coisa posta pra fora, sem buscar um sentido maior, sem a menor preocupação com objetivo, além de preencher meu tempo e me organizar internamente, poderia ser um livro. Folheei-o e achei que tinha em mãos um diário. Um documento de como funciona a cabeça de uma pessoa em tratamento de saúde mental. Aí, o que aconteceu, acho não ter sido resolver escrever sobre, mas resolver que escreveu sobre. 

Então poderia concluir que: O que me levou a escrever sobre minha internação foi a própria internação. Além da loucura que estava em mim, claro.

JORGINHO - Como é para você sair do tratamento e voltar para esta realidade brutal em que vivemos?

FABIO DA SILVA BARBOSA - Como de hábito, o início é sempre um problema. Quando iniciamos o  tratamento, é bem ruim, quando terminamos ele e voltamos para a rua, é muito difícil. Os primeiros dias são igualmente difíceis, mas de outro jeito. Isso foi assim para mim, não quer dizer que seja assim pra todo mundo. Inclusive essa experiência que compartilho são as minhas experiências, vivências, percepções... É algo muito pessoal e intransferível. Até, a princípio, pensei se devia lançar, porque tem muito pau no cu que não merece que eu compartilhe  minha vida. Mas não tive muita opção. A coisa já estava nas minhas mãos, eu estava nos primeiros dias fora, precisando me ocupar... Pareceu perfeito dedicar este tempo decifrando o que eu mesmo tinha escrito em um estado outro e digitar tudo.

Agora já estou tranquilo. Completamente readaptado. Foi uma experiência muito benéfica e que só acrescentou. Mas é o que volto a destacar: Essa foi a minha experiência. Já ouvi vários tipos de relatos, mas, de acordo com a minha experiência, posso falar que vale a pena todo mundo que está precisando, buscar o serviço de saúde adequado. Como qualquer problema, quanto antes tratar, melhor, pois é mais fácil resolver e se evitam perdas desnecessárias. 

JORGINHO  - Em quais novos projetos está trabalhando?

FABIO DA SILVA BARBOSA - A maioria dos projetos em que estou trabalhando, são velhos projetos que estão parados e não quero que morram porque são boas ideias. Tem três livros em que estou tentando dividir meu tempo. 

Vidas Mortas – Serão três histórias que vão se encontrar e virar uma. Um ambiente bem urbano revelando suas dores e mazelas. Abandono, tristeza, miséria... É uma história sofrida 

A Saga da Corta Cabeças – Futuro apocalíptico onde a personagem vaga tentando sobreviver, enquanto dá topadas em situações que, por vezes, se envolve mais que gostaria.

A Pecadora Feliz – Dos três, esse é o mais recente. Tive a ideia neste ano de 2023. É a história de vida de uma mulher que passa por muitas situações que infelizmente são rotineiras. É baseada em uma história real. 

Por enquanto ainda estou tentando me organizar para dar conta de tudo. Porque fora estes projetos extras, tem o que faz parte da rotina. É o programa de Rádio Aleluia Nunca Mais, são as colunas que tenho em blogs e sites, tem as coisas da Editora Merda na Mão, tem o meu zine, o Reboco Caído, novas poesias... Fora trabalhar e os problemas cotidianos que todos temos. Ainda tem outras coisas que preciso fazer e nem comecei a mexer por saber que não tem como encaixar mais em um dia de vinte e quatro horas.

JORGINHO - O Coletive está completando cinco anos hoje, o que representa para você?

FABIO DA SILVA BARBOSA - Porra... Parece que foi outro dia que a criança tava nascendo. Acho que um coletivo de artistas ativos e producentes nos tempos medíocres em que vivemos, é querer resistir a burrice, sobreviver a este tsunami de ignorância e alienação que tenta nos soterrar a cada dia. Este tipo de reunião que funciona de forma tão produtiva, é um ato de coragem. Ser revolucionário é ser louco em tempos caretas.

JORGINHO Defina para o leitor os Malditos Teclados Bailarinos.

FABIO DA SILVA BARBOSA - O MTB é aquela navalha que corta a alma e passados alguns dias pode ter se transformado no bisturi que irá tirar alguns bifes de seu fígado. É a prisão de ventre que incha a barriga e aquilo que escorre da doença venérea.

 Maldito Quizz, em no máximo três palavras responda:

JORGINHO – Política

FABIO DA SILVA BARBOSA - Uma ideia distorcida

JORGINHO Polícia

FABIO DA SILVA BARBOSA - Mais uma engrenagem

JORGINHO - Reboco Caído

FABIO DA SILVA BARBOSA - Zine resistente experimental

JORGINHO Família Bolsonaro

FABIO DA SILVA BARBOSA - Vômito

JORGINHO  Fé

FABIO DA SILVA BARBOSA - É de beber?

JORGINHO – Arte

FABIO DA SILVA BARBOSA - Trazer outra dimensão

JORGINHO – Punk

FABIO DA SILVA BARBOSA - Questionamento afrontoso desconfortável

JORGINHO – Futuro

FABIO DA SILVA BARBOSA - Passa no sovaco?

JORGINHO: Deixe uma mensagem para o leitor do blog do Coletive:

FABIO DA SILVA BARBOSA Um grande salve aí pra toda galera do Coletive. Nunca deixem de acreditar e produzir pensamentos, questionamentos, desconfortos... Vocês podem muito mais que se adequar a uma rotina escrava e alienante. Produzam destruidores de fronteiras. Esse nome "arte", por vezes é muito elitizado. Então produzamos ideias, reflexões, gozos...

Cuidado com as armadilhas, heim... Os parasitas adoram espalhar estas merdas pelo caminho.

E para os leitores do Coletive fica a dica: Continua acompanhando aí, rapá, que o negócio é cabuloso.

Para ler a obra A DOR DOS QUE SENTEM - Diário dos abandonados pela felicidade na íntegra gratuitamente, clique AQUI


Para ajudar Fabio da Silva Barbosa:


* Fabio não tem pix, portanto foi necessário o pix do seu amigo Diego El Khouri Sousa que vai repassando para a conta do Fabio as contribuições que forem chegando.



Uma cena que está acontecendo diante dos meus olhos, detalhes que de tanto se repetirem e serem comparados com o nada que nos envolve, tomaram  proporções de acontecimentos, reflexões, pensamentos descartáveis, devaneios... Vai tudo para o papel.
- Fabio da Silva Barbosa

Jorginho

Jorginho é Pedagogo, Filósofo, graduando em Artes, com pós graduação em Artes na Educação Infantil, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A voz da arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rol e cinema. É ativista pela Doação de Órgãos e luta contra a Alienação Parental.

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

CINCO ANOS DE COLETIVEARTS,
CONTANDO HISTÓRIAS, CRIANDO MUNDOS!
O Coletive está de Luto!


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