ARTE E CULTURA


O GRANDE STEFANO BIGLIA


Continuando as comemorações aos 76 anos de vida de Tex fomos conversar com um dos desenhistas de Tex que além de uma simpatia em pessoa, traz como sua marca pessoal  a magia de fazer do seu traço pura poesia. Sou suspeito por falar de Stefano, sou muito fã dele. Confiram abaixo a entrevista que realizei com ele.

STEFANO BIGLIA

JORGINHO: Como Stefano Biglia se define?

STEFANO BIGLIA: Uma pessoa curiosa que usa a sua paixão e atividade profissional como ponto de partida para enriquecer seu conhecimento profissional e pessoal.

JORGINHO: Como a leitura e os quadrinhos entraram na sua vida? O que você costumava ler quando era criança?

STEFANO BIGLIA: A leitura rapidamente se tornou um dos meus passatempos quando eu era criança. Eu era muito pequeno quando a mamãe fez eu me apaixonar pelo poema épico "Odisséia" e papai, por Tex e Mister No e alguns Ken Parker. No meu imaginário infantil não encontrei diferenças, eram histórias de aventura e homens corajosos. Os romances de aventura para crianças eram então um caminho natural: Histórias de Salgari, Robinson Crusoé, Caninos Brancos, Moby Dick, O Último dos Moicanos, A Ilha do Tesouro. Preferi os textos acompanhados de ilustrações. Isso alimentou muito o meu imaginário e o interesse por imagens desenhadas.

JORGINHO: Quais são as tuas maiores influências como artista de quadrinhos?

STEFANO BIGLIA: Trabalhar no ateliê de Renzo Calegari me levou a amar e a estudar autores clássicos. Milton Cannif, Alex Raymond, Alex Toth, Arturo del Castillo, João Luis Solinas, João Mottini. Ilustradores da era de ouro, como Austin Briggs, Noel Sickles, Robert Fawcett  permanecem ainda entre meus pontos de referência.

JORGINHO: Como funciona o teu processo criativo?

STEFANO BIGLIA: Muito livre na fase do storyboard, quando após uma primeira leitura faço o contorno da página nos cadernos em branco no formato Bonelli. Nesta fase também estudo as expressões, os movimentos e as luzes, bem como "movimentos de câmera". Para mim é o momento mais criativo e absoluto porque é um fluxo entre leitura, imaginação e desenho. Então eu passo para o desenho real, precisamente a lápis e depois eu passo a tinta. Há alguns anos também desenho com a mesa digitalizadora, é uma ferramenta que me ajuda muito na fase de revisão, e não me tirou o prazer de desenhar.

JORGINHO: Quando Tex entrou em sua vida?

STEFANO BIGLIA: Nas minhas leituras de infância, como dizia há pouco e depois profissionalmente com “A Balada de Zeke Colter”, desenhado com Renzo Calegari e Luigi Copello. Eu tinha vinte e poucos anos.

JORGINHO: Na sua opinião, o que Tex representa para os quadrinhos na Itália e no mundo?

STEFANO BIGLIA: Tex é uma bela cópia da vida: o mal é mais punido, o bem é mais recompensado, o amor é eterno e a morte é falsa. Foi o que disse Franca Valeri quando se referiu ao teatro, e também pode aplicar-se muito bem ao nosso herói porque se tratam dos valores universais de fraternidade, honestidade e justiça, e atua como porta-voz dos direitos dos mais fracos, combatendo malfeitores de todos os tipos e origens, com uma boa dose de aventura e leveza. Uma leitura adequada para adultos e crianças.

JORGINHO: Qual dos seus trabalhos com Tex te deixou mais orgulhoso?

STEFANO BIGLIA: Não sei, eu nunca estou completamente satisfeito com meus trabalhos, sempre vejo defeitos neles e coisas para melhorar; mas hoje estou muito feliz com o resultado de “Guatemala”, uma bela história de 390 páginas com roteiro de Pasquale Ruju. Desafiador em tamanho, ambientes e quantidade de personagens para encenar. Depois há os covers de “Super Tex”, para mim uma bela vitrine e também um prazer desenhá-los. Então, há uma coisa que estou mantendo em minha mente e coração, que eu ainda não entendo como eu consegui, que é o mega desenho de Águia da Noite e seus pares entrando no acampamento Navajo recebidos por amigos e aliados de 70 anos de histórias.


JORGINHO: Quais outros artistas do Tex você admira?

STEFANO BIGLIA: Sempre fui fascinado pelos desenhos de Giovanni Ticci e Enio Niccolò, mas hoje encontro outros a quem admiro, como o Tex de Claudio Villa e Maurizio Dotti, que é muito intenso. Também gosto muito do Bruno Brindisi e  Roberto De Angelis, que apesar de virem de gêneros diferentes, conseguiram deixar a sua marca pessoal e um frescor para a série “Tex Willer”.

JORGINHO: Quais são os teus projetos para o futuro?

STEFANO BIGLIA: Continuar a estrada com o nosso Ranger ainda me dá vários estímulos, mas confesso que entre os meus desejos sempre esteve o de me testar em uma história escrita e roteirizada por mim.

JORGINHO: Deixe seu recado para o leitor brasileiro que admira e ama tanto o teu trabalho.

STEFANO BIGLIA: Meu desejo ao leitor brasileiro é que sempre deixe espaço, em sua vida, à imaginação e à criatividade, qualidades raras e preciosas!


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"...também estudo as expressões, os movimentos e as luzes, bem como "movimentos de câmera". Para mim é o momento mais criativo e absoluto porque
é um fluxo entre leitura, imaginação e desenho."
- Stefano Biglia

Jorginho

Jorginho é Pedagogo, Filósofo, graduando em Artes, com pós graduação em Artes na Educação Infantil, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A voz da arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rol e cinema. É ativista pela Doação de Órgãos e luta contra a Alienação Parental.

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

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1 Comentários

  1. O homem é cheio de técnicas. Aprenderam?
    Obrigado ao Biglia por participar do IV CAVALGANDO COM TEX 2024.

    G. G. CARSAN

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