NAVALHAS AO VENTO

 

BOMBARDEIO EM GRAVATAÍ

NO 11 DE SETEMBRO

Lembro de um certo dia 11 de setembro, o ano era 2001. Na manhã daquele dia, dezenove terroristas sequestraram quatro aviões comerciais de passageiros. Os sequestradores colidiram intencionalmente dois dos aviões contra as Torres Gêmeas do complexo empresarial do World Trade Center, na cidade de Nova Iorque, matando todos a bordo e muitas das pessoas que trabalhavam naquele momento nos edifícios atingidos. 

Em 2002 a extinta Associação Literária de Gravataí, recebeu uma correspondência do professor de literatura, o italiano Lorenzo Tomazzo. Lembro que a carta veio de uma cidadezinha da Itália, não lembro mais o nome, endereçada a Associação aos cuidados da presidente Zulair Maria de Souza que veio a minha procura, eu era a vice. Pedimos ajuda ao oficineiro da FUNDARC, Carlos José, para que levasse até um professor de italiano para traduzir o documento. Nele o professor Lorenzo nos convidava para fazer parte de um bombardeio literário, para lembrar os mortos do ataque as Torres Gêmeas de uma forma poética. O bombardeio consistia em bombardear nossa cidade com livros deixados nas calçadas, nas praças, em qualquer local público com uma dedicatória explicando o intuito e convidando as outras pessoas que fizessem o mesmo. 

O professor Lorenzo nos contou que havia mandado esta correspondência a várias cidades de vários países e poucas foram as cidades que responderam. Convidamos o Clube Literário de Gravataí para juntos realizarmos um evento muito bonito e assim aconteceu. Dia 11 de setembro de 2002 Gravataí amanheceu “bombardeada de livros”.

A iniciativa foi morrendo aos poucos, como acontece em várias ações ligadas a arte e cultura. Tentei parceria com várias pessoas, entidades, biblioteca pública, mas tudo ficava na promessa de pensar para o próximo ano. O professor Lorenzo já faleceu, assim como a presidente da Associação e a própria Associação. Mas a ação continua através do filho do professor Lorenzo, o também professor de literatura Andrea Tomazzo e eu. Depois de 22 anos os outros países e as outras cidades abandonaram a ação. Hoje recebi uma mensagem no meu celular, era Andrea falando que bombardeou um bairro na cidade de Bari, mas estava sozinho. Eu lhe acalmei dizendo que havia bombardeado o bairro Nossa Chácara em Gravataí. Ele dispensou mais de 100 livros, eu não tinha um acervo tão numeroso, foram apenas 20 livros. Mas o que importa não é o número de livros e sim a intenção. Se cada um de nós deixássemos 1 livro, já faríamos a diferença. A iniciativa do professor não pode morrer e o Andrea e eu fizemos este pacto de não deixar de lembrar do professor e de cada pessoa que morreu naquele ato, enquanto distribuímos literatura pela cidade. 

Andrea ficou triste ao saber que a Zulair faleceu este ano. E combinamos que ele honrará a ideia do pai dele e eu honrarei a promessa da minha amiga Zulair de não deixar de participar. 

Alguém pode dizer que foram só 20 livros, pois eu digo que foram 20 livros que saíram do meu bolso. Outros dirão que estamos homenageando pessoas de outro país, nós entendemos que estamos seguindo o sonho de um poeta sonhador e de uma seguidora poeta sonhadora. 

Andrea não deixará de bombardear Bari, onde mora, e eu não deixarei de bombardear Gravataí, mesmo que ninguém nos apoie, pois temos um sonho que é distribuir literatura a quem quiser receber. 

Andrea, estamos juntos, querido. Teu pai e minha amiga estarão representados enquanto estivermos aqui. E depois...?


Isab-El Cristina Soares


Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras, é Diretora Cultural do ColetiveArts.

Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.

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7 Comentários

  1. Não conhecia esta campanha conheço a campanha das geladeiras literárias, uso a do Quiosque. Gostei do texto, parabéns.

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    1. Oi, Sou a Isab. Venho divulgando desde sempre, mas sem nenhum interesse por parte da cultura, fica difícil para uma pessoa apenas. Mas não desisti. KKk. Obrigada pelo retorno.

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  2. Não conhecia esta campanha conheço a campanha das geladeiras literárias, uso a do Quiosque. Gostei do texto, parabéns.

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  3. Muito bom. Não conhecia a iniciativa. Mas podemos contribuir nas próximas. 😘

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    1. Oi, Marli, Sou a Isab. Venho tentando emplacar desde o início, mas nunca recebi apoio, principalmente da literatura. Obrigada pelo retorno e pelo apoio. Em 2025 estaremos juntas. Bju

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  4. Não conhecia. Que beleza!!

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    1. Oi, Sou a Isab. Sempre ouvi que uma andorinha não faz verão. Nossa literatura local nunca se interessou em me apoiar, faço meu verão sozinha kkkk. Obrigada pelo retorno.

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