ULBRA E A PREFEITURA DE GRAVATAÍ/RS
Lembro de um longínquo inverno de 2001. Muito dolorida, entrei com uma ação judicial contra a Universidade Luterana do Brasil – Ulbra, por ter sido discriminada em sala de aula pela minha condição de tartamuda, gaga para os leigos.
Uma professora, psicóloga, doutora em psicologia não deixou que eu falasse mais em sala de aula porque sou gaga, se referiu aos surdos como idiotas, aos cegos como imbecis e ainda imitou uma pessoa com Síndrome de Down. Na ação eu pedia apenas retratação pública e adaptação da universidade a toda e qualquer deficiência. Ganhei a causa, não recebi a retratação, apenas cem salários mínimos que doei para uma instituição e a correção de toda a arquitetura inadequada da universidade. Houve a instalação do elevador, rampas de acesso, bem como a liberação da entrada lateral, ao lado do estacionamento, para cadeirantes. Minha missão foi cumprida com êxito.
Estamos em 2024. A sede da prefeitura foi transferida para a antiga Ulbra. A prefeitura serve a população e deveria ser um espaço inclusivo e de fácil acesso. Dia desses tive que ir a prefeitura. Como estava com o pé engessado, pedi para o motorista do Uber entrar no estacionamento, pois usaria a porta lateral, a destinada a cadeirantes, evitando a longa escadaria da frente. O guarda municipal gritou que a porta estava fechada e que eu deveria seguir pela lateral do prédio até a porta da frente. Segui por um caminho muito difícil para um pé engessado, desníveis aumentavam a insegurança de cair do barranco. Antes de chegar na porta principal dou de cara com alguns degraus, ou seja, um cadeirante não teria como entrar, mesmo passando pela trilha lateral ao prédio ainda teria a escada como empecilho.
Entrei no prédio, sentei e descansei um pouco. Estava exausta do esforço físico. Meu destino era o auditório, então me posicionei em frente ao elevador, aquele mesmo elevador que me orgulho de ter sido o instrumento para sua instalação. Outro guarda municipal chega perto e me informa que o elevador não funciona e ainda diz que nunca funcionou, nem quando era Ulbra, o que é uma grande mentira para justificar a falha.
Oras, a prefeitura não teria que ser um espaço democrático, com acesso para todos? Idosos, cadeirantes, cegos ou baixa visão, pessoas com muletas e/ou outras deficiências não têm o direito de ir à prefeitura?
O cidadão não está sendo representado por um governo que não o quer na sede da prefeitura. Nas calçadas quebradas e escorregadias que são um perigo para este nicho da população. Muito menos na Rua Privada que nos priva de transitar ou nas praças sem árvores nem bancos para que a população em situação de rua não tenha onde sentar.
Num governo que prima pela população o elevador seria prioridade, bem como facilitar o acesso de toda e qualquer pessoa. Aliás, corrigindo, num governo que prima pela população a sede da prefeitura não ficaria num lugar tão distante, com tantas dificuldades de acesso, onde até para atravessar a rua é complicado. Um governo que prima por seus funcionários não transferiria a sede da prefeitura para um local com tão pouca opção de linhas de ônibus. Um governo que prima pelo ser humano deixaria a sede da prefeitura onde sempre foi, no prédio historicamente destinado a este fim.
Mas a intenção é justamente essa: dificultar o acesso para reduzir as reclamações. Parabéns a quem votou para mais quatro anos de silêncio.
Isab-El Cristina |
2 Comentários
Ótima matéria, bem documentada por uma pessoa preocupada com os seus semelhantes, Parabéns!
ResponderExcluirOi, sou a Isab. Obrigada pelo retorno. Mas tem como não ficar preocupada com meu irmão cadeirante? Meu irmão mais idoso q eu? Meu irmão deficiente visual? Bju.
Excluir