Sobre Ver e Olhar
Vivemos uma “ civilização das imagens” diferente de tempos anteriores do predomínio da voz e posteriormente da escrita. Falamos aqui das imagens do cotidiano, e não apenas das imagens artísticas.
Em um mundo globalizado, massificado pelas imagens veiculadas pela mídia, as sensações entram por nossos olhos como coisa pronta, acabada. São imagens de fácil reconhecimento que induzem a uma leitura superficial, impedem o indivíduo de imaginar, de pensar o novo. A imaginação esvaziada e a gratuidade dos sentidos produz angústia e alienação, hipertrofiando a razão. Sem imaginação não há emoção, os nervos não vibram, os sentidos se anulam frente as vivências e experiências cotidianas.
“A hipertrofia da razão, em detrimento da emoção conduz à violência e à alienação. A violência como única forma de fazer os nervos vibrarem. À alienação quando a vida não faz mais sentido.” Duarte Junior
Imaginação?
Mas para que imaginação?
A imaginação propicia o simbolizar, atribuir outros sentidos à objetos e acontecimentos. Simbolizar é o que diferencia o homem das outras espécies. A capacidade de simbolizar transforma a vida biológica em coisa qualitativamente diferente. Merleau-Ponty denomina o comportamento humano como “ comportamento simbólico”. O animal reage aos estímulos. O homem age em função dos significados que imprime à realidade
“ A imaginação é um dos modos pelos quais a consciência apreende o mundo e o elabora. Pela imaginação o ser humano organiza o mundo numa estrutura significativa. Projeta o que ainda não existe, o devir, o que poderá vir a ser.” Teixeira Coelho
As imagens são símbolos. São recheadas de significados, de significância existencial. E estão aí para serem compreendidas em sua essência, decifradas além da aparência.
A profusão de imagens, principalmente as estereotipadas “ elimina não apenas todo o sentido,como as próprias imagens”. Um processo de inflação simbólica tornando o olho cego à riqueza das nuances, à alteridade, ao desconhecido, ao estranhamento. Imagens que por seu reconhecimento fácil se esvaziam de tudo que convoque o pensar. É a superficialidade provocando o excesso de certezas dos tempos atuais, a solidificação de verdades estereotipadas.
Olhar é muito mais que ver. Olhar nos faz diminuir a pressa; ver é próprio da rapidez. Ver é um ato fisiológico decorrente do sentido da visão. Vemos porque temos olhos. Olhar é o fator biológico somado à uma intenção consciente, que gera idéias, questionamentos e conclusões.
“ Ver é reto, olhar é sinuoso. Ver é sintético, olhar é analítico. Ver é imediato, olhar é mediado.” Márcia Tíburi
Para Didi-Huberman, a imagem é uma forma específica de se pensar o tempo histórico-social. Portanto, pensar as imagens é pensar a realidade. Mediado em um processo dialógico de produção de significações sobre a experiência vivida, sobre o que se vê, não apenas o que caracteriza o mundo da natureza, mas sim de uma realidade significada, portanto criada, que constitui o mundo da cultura, da realidade, característicos de uma época e um lugar.
Uma imagem nos convoca a pensar, nos choca e nos instiga. Carlos Drumond de Andrade escreve um poema pertinente,
Chega mais perto e contempla as palavras.(as imagens, eu acrescento)
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Referências Bibliograficas
AUMONT,Jacques - A imagem. São Paulo: Campinas, 1993
DIDI-HUBERMAN, George. O que vemos, o que nos olha. Tradução Paulo Neves. São Paulo: 34 Ed., 1998.
DUARTE JR. João-Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. Curitiba: Criar, 2001
MERLEAU-PONTY, Maurice. A fenomenologia da Percepção. Tradução: Carlos Alberto Ribeiro de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
TEIXEIRA COELHO, José. Moderno Pós-Moderno. São Paulo: Illuminuras, 1996.
TIBURI, Marcia. Artigo originalmente publicado pelo Jornal do Margs, edição 103 (setembro/outubro).
http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos
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SANDRA SIMÕES |
Sandra Simões é Artista Plástica e Arte educadora , Pós- Graduada em Poéticas Visuais: Especialização em Fotografia, Gravura e Imagem Digital FEEVALE/Novo Hamburgo/RS, Graduada em Artes Visuais; Licenciatura UERGS/Montenegro/RS.
Sandra pela Sandra:
"Tenho orgulho de ter sido mediadora em 8 das 10 Bienais do Mercosul. Leitora voraz escrevo poesia e umas coisinhas, adoro dançar, ópera e já fui soprano da OSPA. Até a adolescência tinha cavalo que é meu bicho de estimação, e tenho diploma de Domadora sem Violência. A Arte é minha vida."
1 Comentários
Por isto ler um filme, quando livro, às vezes é melhor do que ver o próprio.
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