NAVALHAS AO VENTO

 

A DOR DE PERCEBER QUE TUDO É FINITO

Acho que estou ficando velha e saudosista, daquelas que vê beleza numa casinha de madeira caindo aos pedaços...

Moro há 4 anos neste local e quando vim conhecer o apartamento a primeira coisa que percebi foi uma casinha do outro lado da calçada. A casinha tinha um ar bucólico, era de madeira pintada de rosa pálido, com janelas brancas e telhas canoa de barro, uma construção simples mas com uma beleza sutil e delicada.

Na época eu ainda trabalhava e descia do ônibus Sul já no escuro da noite na rua transversal a do meu condomínio. Eu subia a lomba olhando para o lado esquerdo da rua, logo que avistava a casinha eu me sentia feliz, pois sabia que estava bem perto da segurança do meu lar.

Pouco tempo depois percebi que a casa estava desocupada e se deteriorava muito rapidamente. Todo dia pela manhã, ao abrir as janelas, minha primeira visão era o telhado de barro por entre as folhas da árvore. Aos poucos, mas ao mesmo tempo muito rapidamente, a casinha foi se perdendo pelo caminho, caindo uma tábua, depois outra, uma telha... outra... e foi caindo ao sabor do vento e das tempestades.

Uma madrugada de vento forte acordei com um barulho forte e percebi que o telhado tinha vindo ao chão. Os proprietários não se interessavam, o imóvel estava abandonado a sua própria sorte...

Hoje acordei com barulho de máquinas, de retroescavadeira, de caminhão e pude assistir, da minha janela, a destruição do esqueleto da casa. Tudo foi ao chão em poucos segundos. Mal a retro encostou e tudo veio abaixo. O terreno está limpo, do meu apartamento posso ver um terreno limpo, sem insetos, livre de roedores que sempre existem em locais assim. Mas ainda me pego olhando para lá cada vez que chego na janela, ainda tenho a esperança de continuar contando as telhas para ver se mais alguma caiu.

A necessidade desta limpeza era óbvia, mas bate uma saudade de  algo que nem sei porque sinto. Deve ser por causa da triste sensação de que tudo é finito, as casinhas cor-de-rosa, as telhas de barro, as janelas brancas sempre fechadas... e até as pessoas...


Isab-El Cristina


Isab-El Cristina Soares é poeta, membro do Clube Literário de Gravataí, autora de 6 livros.  Graduada em Letras/ Literaturas, pós-graduada em Libras, é Diretora Cultural do ColetiveArts.

Escute o episódio do podcast Coletive Som gravado com Isab-El , clicando Aqui.

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- Ricardo Mendes

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3 Comentários

  1. São pequenas lembranças que dão sentido à vida! 🩷🌸

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  2. Nestor Ourique Medeiros30 de março de 2025 às 08:34

    "Sentir saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio", já cantou o Peninha. Nostalgia, este lembrar com saudades e um carinho imenso do que fomos, com quem vivemos e do que sentimos.

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