ARTE E CULTURA


JOÃO RICARDO, UM HOMEM QUE TRANSFORMOU
GRAVATAÍ/RS EM RPG

Role-playing game, também conhecido como RPG (em português: "jogo de interpretação de papéis" ou "jogo de representação") é uma dos maiores fenômenos da cultura pop, nós do Coletive também somos apaixonados, visto que temos um setor brilhantemente liderado por Alex Cuenca, tendo ele já organizado e participado de diversos eventos.

Quando eu soube através da Mari Velleda, Técnica em Artes Visuais do município de Gravataí/RS e coordenadora do Quiosque na mesma cidade sobre a existência do João Ricardo Bittencourt e de seu trabalho com RPG, me encantei na hora. João Ricardo, além de ser um apaixonado pelo RPG, desenvolveu um jogo que retrata a história de Gravataí/RS, unindo diversão e ludicidade.

Recentemente e com méritos, o mesmo foi indicado ao 2°Troféu Destaque Cultural Zulair Mari de Souza, premiação que o Coletive promove junto àqueles que contribuem  pelo crescimento e fomento da cultura em Gravataí. Eu não poderia deixar para trás e fui conversar com ele, confiram abaixo como foi o nosso bate-papo.

JOÃO RICARDO



JORGINHO: Quem é o João Ricardo, como você se identifica? 

JOÃO RICARDO: Um inquieto, alguém cuja cabeça não para de pensar. Em uma constante batalha tentando encontrar soluções para os problemas. Equilibrando os desafios de uma sociedade que adora as normoses e um medo de ver o mundo neurodiverso. Creio que hoje dois papéis se destacam no dia-a-dia: sou pai de quatro crianças neurodivergentes e professor. No meio disso escrevo, procuro criar e imaginar mundos e novas narrativas.

JORGINHO: Como o RPG entrou em sua vida? 

JOÃO RICARDO: Entrou lá por 1991 quando aluguei na Video Life o Phantasy Star para o Master System. Era um jogo diferente cheio de texto, diálogos e labirintos. Combate diferente. Não fazia ideia do que era aquele jogo. Uns meses depois saiu nas bancas um livrinho detalhando todo passo a passo e dizia que aquele jogo era um RPG.

Em 1992, na feira do Livro de Tramandaí, encontrei vários livros-jogo da série Aventuras Fantásticas, lembro bem da Cidade dos Ladrões de Ian Livingstone. Mas tinha um de capa preta com cavaleiro e um dragão vermelho chamado RPG Aventuras Fantásticas do Steve Jackson (nao era o do GURPS). Aquele explodiu minha mente, eu só pensava que eu poderia criar o meu Phantasy Star. Comecei a jogar com meu amigo Luciano (ate hoje meu amigo, cumpadre e ele que escreveu o Guia do Educador do projeto). A partir de 1993 veio a caixa vermelha da Grow do D&D, comprei o AD&D em banca de jornal com Forgothen Realms em fasciculos. Comecei a ir direto na Planeta Proibido, ficava na Richuelo em POA. Dali não parei mais o envolvimento, inclusive em 2003 no meu mestrado tensionei o uso do RPG nos espaços educacionais.


JORGINHO: Como surgiu o projeto do RPG contando a história de Gravataí? 

JOÃO RICARDO: Em 2023 voltei a empreender, já tinha tido uma empresa de games em 2014. Entrei no cluster RS Fantástico e submeti um projeto na Lei Paulo Gustavo de um RPG digital baseado na cultura dos Incas. Infelizmente não foi aprovado, mas foi uma experiência importante para compreender o processo. 

Em 2024 conheci o projeto Parnahyba RPG (https://www.instagram.com/parnahyba.rpg) da Tate Falcone que foi contemplado com LPG da cidade de Santana de Parnaíba/SP. Acho que infelizmente este projeto foi descontínuado. Trata-se da criação de uma aventura de RPG inspirada na história da cidade, disponibilizado gratuitamente e com mesas em um ponto histórico da cidade. Gostei muito da ideia e pensei: porque não fazer algo semelhante aqui em Gravataí? Nasce o conceito então de Gravatahy um mundo de fantasia, inspirado na cidade e nas ancestralidades que compõem a identidade da cidade de Gravataí. Submeti então para o PNAB Difusão 25 mil e fui contemplado com projeto A Saga de Gravatahy - um projeto realizado com recursos da Lei 14.399/2022 – Política Nacional Aldir Blanc, Ministério da Cultura, Governo Federal, via edital público da Prefeitura de Gravataí.

O projeto tem 3 eixos que se desdobram em 5 ações: o primeiro eixo é a produção, então foi desenvolvido o livro e é distribuído em um website com informações do projeto. Depois, o segundo eixo se resume à formação dos educadores para serem multiplicadores nas escolas. E o terceiro, o desenvolvimento das oficinas nas escolas e as oficinas itinerantes nos espaços históricos-culturais. Agora o projeto está disponível no mundo 100% digital, ainda tem uma pequena tiragem impressa disponível, pois a maior parte foi para as escolas e os pontos da cidade. O objetivo é produzir mais conteúdos,  mais suplementos, professores aplicarem em sala de aula e as pessoas jogarem, criarem novas produções a partir de uma Gravatahy reimaginada.

Importante também destacar que o sistema usado no projeto é o SAGEN (Sistema Aberto de Geração de Narrativas) é um sistema remixado de vários sistemas abertos baseado no PbtA (Powered by the Apocalipse). O SRD do SAGEN também está disponível para ser usado. Outros mundos podem ser criados usando o mesmo sistema narrativo.


JORGINHO: Quais os beneficios do RPG para o estudante? 

JOÃO RICARDO: São inúmeros! Criatividade, socialização, planejamento, cooperação, resolução de problemas, aguça a capacidade artística, estimula a escrita, a contação de histórias, a leitura. Eu acredito muito que a humanidade precisa sonhar, projetar mundos possíveis. Para sonhar tem que imaginar, supor, pensar em possibilidades. O RPG permite aprender, vivenciar, testando possibilidades.


JORGINHO: Como você enxerga o cenário do RPG no Brasil? 

JOÃO RICARDO: Poderia ser melhor, considerando que já tem mais de 30 anos de mercado. Houve várias tentativas de popularização importantes, por exemplo, a revista Dragão Brasil definiu as premissas do Tormenta, do 3D&T. A Abril lançou AD&D em bancas de jornais.

O Tormenta teve um dos maiores financiamentos coletivos da história. Isso é potente. O Cellbit lançar a Ordem Sobrenatural dialoga bem com um pessoal mais novo que cresceu assistindo streaming. Entretanto, por outro lado, são produtos muito caros, certamente são para poucos, logo, abre-se muito espaço para a pirataria. 

Também temos que considerar que aquele jogador que começou a jogar com 12-13 anos (meu caso inclusive) hoje trabalha, tem família e tem 40+. Buscam outras experiências, principalmente que se encaixe com sua agenda, que seja possível de jogar com os filhos. Um segmento que não tem disponilidade de ficar aprendendo muitos sistemas. O SAGEN foi criado pensando nisso, um sistema aberto remixado  e gratuito que permite criar vários mundos, várias experiências compartilhando o mesmo sistema. Ainda acredito que tem potencial de explorar novos mundos, novas experiências interativas e com valores mais acessíveis, adequados a nossa realidade. Tem vários estúdios independentes excelentes - Coisinha Verde, Campire Studio, Água Viva XP. Iniciativas de pessoas como o Tarcisio Pereira o Cezar Capacle são ótimas. Eu procuro ir nesta mesma direção, propondo mundos mais "exóticos", não tão convencionais. Além do Saga, eu tenho um RPG chamado Falcatruas & Maracutaias sobre uma cidade latino americana cheia de violência e corrupção, tenho o CERES 2313, onde robôs promovem a revolução em um asteróide. Também estou modelando uma experiência baseada no SAGEN para crianças de 4 a 7 anos. Acho que esse é um caminho.



JORGINHO: Quais os seus planos para o futuro? 

JOÃO RICARDO: Participar da fase 2 do PNAB para criar um suplemento sobre a Guerra Guaranítica, melhorar a experiência das oficinas com mais acessórios e continuar fazendo ações formativas para os educadores e oficinas em mais escolas da cidade. Também submeter para o PNAB Estadual de arte educação, focando a escrita criativa e contação de histórias com o RPG. Continuaremos produzindo conteúdo para o projeto, principalmente suplementos no formato panfleto. Tem na lista de lançamentos novas perícias por ancestralidades, regras de artesania e regras avançadas de rituais. E claro, a possibilidade de instanciar o projeto para outras cidades ou contextos. Lembrei de um fato interessante, está sendo finalizada a versão em braile do livro em parceria com a ADVA aqui de Gravataí. Até onde eu sei, será o primeiro livro em Braile do Brasil. A versão digital em braile ficará no site.




JORGINHO: Deixe seu recado para o leitor do Arte e Cultura.

JOÃO RICARDO: Primeiro agradecer o convite para falar um pouco mais do projeto. Importância de sair das telas, voltar a ter hobbies analógicos, incluindo RPG, jogos de tabuleiro, card games. Também considerar estes formatos como experiências estéticas e manifestações culturais. Não precisa ser entretenimento puro escapista, mas incluir uma camada reflexiva. Ter estes momentos de cocriação coletiva com os amigos é uma experiência sensacional. E nos sigam nas redes sociais (@pytangaestudio e @dr.jrbitt)  e conheçam o projeto (http://asagadegravatahy.com.br/), está tudo 100% de graça, é só começar a jogar. Temos um canal no Discord também para reunir quem está jogando e criando conteúdo. Muito obrigado!




Redes sociais do João Ricardo:

Insta:  @dr.jrbitt@pytangaestudio 

Face: AQUI

Site: http://asagadegravatahy.com.br

"Eu acredito muito que a humanidade precisa sonhar, projetar mundos possíveis. Para sonhar tem que imaginar, supor, pensar em possibilidades. O RPG permite aprender, vivenciar, testando possibilidades."
- João Ricardo Bittencourt

Jorginho

Jorginho é Pedagogo, Filósofo, graduando em Artes, com pós graduação em Artes na Educação Infantil, ilustrador com trabalhos publicados no Brasil e exterior, é agitador cultural, um dos membros fundadores do ColetiveArts, editor do site Coletive em Movimento, produtor do podcast Coletive Som - A voz da arte, já foi curador de exposições físicas e virtuais, organizou eventos geeks/nerds, é apaixonado por quadrinhos, literatura, rock n' rol e cinema. É ativista pela Doação de Órgãos e luta contra a Alienação Parental.

"Quanto mais arte, menos violência. Quanto mais arte, mais consciência, menos ignorância."
- Ricardo Mendes

DIRETO DA COLETIVE CAVERNA!
COLETIVEARTS, 07 ANOS DE VIDA,
CONTANDO HISTÓRIAS, 
CRIANDO MUNDOS!
O COLETIVE AMA RPG!

SIGA-NOS EM NOSSAS REDES SOCIAIS:
Facebook: AQUI Instagram: AQUI YouTube: AQUI Twitter: AQUI
Sempre algo interessante
para contar!

Postar um comentário

0 Comentários