Até logo, pai

   Em uma manhã normal, uma menina acorda cedo. Sem maiores motivos ela abre os olhos, olha para o teto um pouco e levanta o corpo. Fica sentada na cama por alguns instantes olhando reto para frente. Fala baixinho - como será meu pai? - levanta de vez. Ela vai escovar, toma banho, coloca a roupa limpa. Pelo jeito não é dia de escola, o que lhe dá muito tempo para pensar sobre aquela frase com a qual acordou.
   Ela vai para a pracinha do prédio. Sobe no balanço, toma impulso e vai! Mesmo com aquele frio na barriga, ela se encontra pensando novamente sobre seu pai. Ela lembra dele. Ela lembra do cheiro. Ela lembra da voz. Então, como ela não sabe quem é seu pai? A questão é que ela o viu quando era muito pequena. Não lembra do seu rosto. Ao entender isso, naquele balanço matinal, ela fica triste - eu queria lembrar direito do meu pai - diz ela. Conformada, desce do balanço e vai para casa chutando uma pedrinha, sem muita vontade.
   De volta no seu quarto a pequena menina senta a sua mesa. Puxa uma folha. Pensa um pouco e começa a rabiscar. Ela usa todas as cores no papel. Faz inúmeras formas. Expressa aquele sentimento triste que está em seu pequeno coração. Porém, o que ela escreveu no seu papelzinho é algo extremamente feliz. Ela fez um cartão para seu pai.
   Vou fazer esse cartão pra ele e entregar quando nos reencontramos. Eu te amo, pai!
   Ela dobra o papel e coloca em um envelope branco com muito cuidado. Guarda na primeira gaveta de sua cômoda. Pega uma boneca e vai brincar no chão do quarto aonde estão outros brinquedos e fala baixinho: eu vou te achar um dia.

Texto: André Palma Moraes
Arte: Jorginho

Postar um comentário

0 Comentários