ARTE E CULTURA


 COSPLAY: acessando mundos paralelos

Propósito em nossas criações

Desde os primórdios, nos encantamos e nos surpreendemos com as diferentes manifestações das artes. Impossível calcular o alcance das criações humanas, ao considerarmos a infinita capacidade criativa do ser humano e as diferentes formas com que atingem o próximo. Elas podem nascer e ter relevância durante curto espaço de tempo, ou atravessar eras.

Nenhuma classificação será suficiente para rotular uma entrega como pequena ou grande, simples ou complexa, superficial ou profunda, uma vez que se estabeleça conexão entre o artista e aquele que foi tocado. Pois cada um recebe, sente, desdobra e transborda a arte de maneira particular.

Nessa particularidade reside o mais nobre propósito de nossas produções: trazer algo de fato positivo para a vida de outro ser humano. Se uma massa for beneficiada pela sua obra, será maravilhoso. Mas se uma única pessoa puder ser atingida, já valeu a pena. Sabemos que uma simples frase em um texto ou uma música pode abraçar um coração e até salvar uma vida.

Viagens plurais

Desde a tenra idade, a nona e a sétima arte sempre foram meus principais portais de acesso a outros mundos, grandes responsáveis por descobertas inesquecíveis e avalanches de sentimentos. E mesmo adulto, acredito que consegui preservar aquela magia da infância em ser transportado para dentro das histórias ficcionais ao curtir quadrinhos, animações e filmes. Diversão, conhecimento, reflexão... tudo junto e misturado.

Uma dessas paixões é Tex, que conheci relativamente “tarde”: já passava dos 22 anos quando descobri as histórias em quadrinhos do mais famoso Ranger do Texas, apresentadas por um amigo do trabalho. Em outra matéria aqui no Coletive Arts comentei que não entendo como fiquei tantos anos sem sequer saber que o personagem existia, mesmo frequentando bancas de jornais durante toda a infância para comprar outros quadrinhos, álbuns de figurinhas e pôsteres.

Muitos novos leitores de Tex ficam impressionados com a qualidade das histórias do cowboy justiceiro, ainda que trouxessem um inicial preconceito com o gênero faroeste, ou o achassem batido. A despeito das centenas de histórias já publicadas desde sua criação na Itália em 1948, não raro você encontrará comentários do tipo: “Não existe história ruim de Tex”. De fato, nota-se um grande esmero em suas publicações, tanto nos enredos quanto nos desenhos. Grandes nomes dos quadrinhos mundiais já passaram por suas páginas e grandes nomes ainda o mantêm. Tex é um sucesso editorial, um dos mais longevos personagens existentes, com 75 anos de publicação ininterrupta completados em 2023.

Tex Willer: muito além do entretenimento

Nesses últimos 22 anos lendo e colecionando Tex, tive a oportunidade de me divertir muito ao acompanhar as suas aventuras com o fiel cavalo Dinamite, ao mesmo tempo em que aprendia sobre a história e a geografia norte-americana, tradições indígenas e contextos sócio-políticos da época (apenas para citar alguns tópicos). Mas suas publicações nos levam muito além: vibramos com os valores de Tex e seus pards (como são conhecidos os seus 4 parceiros de aventuras: Kit Carson (grande amigo e de velha data), Kit Willer (único filho, fruto do grande amor de sua vida, a indígena Lilyth, ou Lírio Branco) e o fiel Jack Tigre (navajo e exímio rastreador).

Com Tex, o senso de justiça e a amizade estão sempre em primeiro lugar. São valores que cativam gerações de diferentes leitores em todo o mundo (com grande destaque para o Brasil, segunda casa do herói). Várias cidades no sul do nosso país, em especial no interior, contam com muitos fãs fervorosos, que acompanham Tex desde quando ganhou seu próprio gibi, em fevereiro de 1971. Já ouvi de alguns, inclusive, que o estilo de vida interiorano dessas regiões contribuiu ainda mais para a identificação com o personagem.

Fato é que Tex causa admiração aonde chega e por onde passa. Quando surge um evento dedicado a ele, então, é possível ter a exata noção desse alcance. Muitos fãs fazem questão de extrapolar suas experiências com as histórias em quadrinhos e elevar o sentimento texiano a um novo patamar. O melhor exemplo acontece quando decidem entrar literalmente na pele do cowboy justiceiro.

Nos registros dos épicos eventos em homenagem à Tex, como a Exposição Tex 500 Brasil em Santo André (SP) em 2011, o Festival de Quadrinhos de Limeira (SP) em 2018 e o Encontro Nacional de Tex 2023 na Vila Texas, em Chopinzinho (PR), podemos encontrar muitos personagens encarnados por fãs do universo texiano.

E no último evento de Halloween promovido pela Mundo Mythos (loja física da editora responsável pela publicação de Tex no Brasil), em São Paulo - SP, foi a minha vez de entrar nas sagradas vestes do nosso herói.

Cosplay ou fantasia?

O termo cosplay tem origem no inglês e é a junção das palavras “costume” (fantasia) e “play“ (brincadeira) - ou, em seu sentido mais amplo, “roleplay” (interpretação). Trata-se de um hobby, embora também seja considerada uma forma de arte por alguns e até conduzida como profissão por muitos cosplayers (nome dado a quem faz um cosplay). Embora o termo tenha sido cunhado na década de 80, popularizou-se nos anos 90 com o crescimento dos mangás e animes japoneses.

Encontros e convenções geek/nerd em todo o mundo não seriam os mesmos sem os cosplayers, que enriquecem os eventos com a criatividade de suas produções e a encenação de seus personagens favoritos. Para alguns, o cosplay é tratado como uma infantilidade ou visto até mesmo como um ato ridículo. Para mim, é uma diversão saudável e agregadora.

Gosto de pensar que a arte do cosplay extrapola os limites da fantasia. Todo cosplay contempla uma fantasia, mas nem toda fantasia encerra um cosplay. Há algo a mais ali, que diz respeito à sua identificação com as características do personagem e/ou da produção artística da qual ele faz parte.

Em um cosplay, há vontade de dar vida, de trazer à nossa realidade aquele que até então estava “preso” nas páginas e nas telas. Sem contar que ao falar de cosplay, estamos tratando de personagens, de entes “vivos”, ao passo que uma simples fantasia pode apenas retratar algo inanimado, como uma fruta ou um objeto.

Na pele de um herói

É difícil colocar em palavras o sentimento que veio à tona nessa experiência de ter sido Tex Willer por algumas horas. Não tendo os préstimos e habilidades de um Ranger do Texas, e vivendo em um ambiente estável comparado ao velho oeste, resta-me pouquíssima semelhança! Mas os valores de Tex e seus pards são inspiradores e as mensagens presentes em suas histórias são atemporais, permitindo uma identificação imediata. E honra.

Um cosplayer de Tex Willer, portanto, pode nascer apenas pelo puro entretenimento, em homenagem ao personagem e ajudando a perpetuar a imagem do nosso herói (com o desejo de que ele jamais deixe de ser publicado). Mas pode também carregar algo mais nobre, ao levar tais valores e mensagens adiante, para outras pessoas, fãs ou não, da atual e da futura geração. Assim como procuro passar ao meu próprio filho.

A inspiração veio de vários outros cosplayers já consagrados de Tex, como nosso irmão aqui do Coletive Arts, G.G. Carsan. Veja no exemplo (em todo o sentido da palavra) abaixo: G.G. em ação, logo após compartilhar com crianças um pouco sobre o seu Tex Willer “aplicado à vida”, além de distribuir gibis gratuitamente, incentivando inclusive a leitura nos jovens.

As reações das pessoas que tem contato com o cosplayer são das mais diversas. Fotos obviamente são frequentes e a descontração está sempre presente. E tratando-se de Tex, a fonte de assuntos para um bom bate-papo é praticamente inesgotável!

Esse sentimento que agrega os texianos gerou a chamada “irmandade texiana”, movimento onde pards da vida real acabam fazendo amizades longevas enquanto compram, vendem ou presenteiam gibis/itens sobre Tex há décadas. Consciente ou inconscientemente, estão a todo tempo espalhando boas mensagens e compartilhando a alegria de se estar em constante trânsito entre o nosso mundo e o dele. Tex é de fato um exemplo em todos os sentidos, e isso, por si só, significa muito para todos nós.


Em tempo: clique AQUI e confira a matéria especial “O Legado de um Herói”, que aborda o

tema da amizade texiana com maior profundidade.

Aproveito para agradecer e muito:

- Ao meu grande pard Carlos Ramalho (o “malacabado”) de Indaiatuba – SP, proprietário da maior loja virtual especializada em faroeste do Brasil (a Texas Ranger: www.texasranger.com.br) e que me emprestou a clássica camisa amarela e o lenço do Tex, além do cinto, coldre e a réplica de um revólver, contribuindo assim para um cosplay de respeito! Aliás, nesse mesmo dia do Halloween Mundo Mythos, foi meu parceiro de cosplay ao entrar na pele do famoso e hilário Chico, fiel parceiro de Zagor!

- Ao Higor Lopes, mestre conhecedor das mais diversas HQs e responsável por conduzir com maestria a loja Mundo Mythos em São Paulo – SP, onde faz de tudo e mais um pouco para agradar a todos os clientes, do atendimento nota mil à criação de eventos especiais!

- Ao G.G. Carsan, cara pálida de Jampa City – PB, irmão texiano e primeiro cosplayer de Tex Willer no Brasil. Capitão das letras, é autor de diversos livros e 4 deles são dedicados ao personagem. Incansável incentivador para que eu também mantenha ritmo e frequência na escrita!

Em outras peles (BÔNUS!)

Embora a ideia inicial deste texto tenha nascido pela breve experiência com o cosplay de Tex, eu não poderia deixar de compartilhar outros momentos vividos como cosplayer...

Obviamente todos estes abaixo não carregaram consigo um objetivo tão nobre quanto o belo exemplo que citei do nosso G.G. Willer, a não ser o compromisso com a pura diversão! Mumm-ha, Hellboy, Michael Myers e Lenhador Zumbi são alguns exemplos de muitos momentos divertidos e inesquecíveis pra mim, e tenho certeza, para muitos com quem interagi. Viva a arte do cosplay!







Muito grato ao nosso grande pard Jorginho por mais esta oportunidade! Desejo um feliz e abençoado 2024 a todos os leitores e mantenedores do ColetiveArts! Que vocês e suas famílias tenham um novo ano com muitas realizações de sonhos! 

Paz e Luz! Forte e fraterno abraço!

Rodrigo Rudiger é paulistano, virginiano e texiano (fã e colecionador do personagem Tex Willer). Casado e pai de dois filhos. Tem sua fé no Deus do Universo e vive uma espiritualidade ecumênica: acredita que o amor universal é o caminho para coexistir. Pós-graduado em Gestão de Projetos, formou-se também em Ciência da Computação e Processamento de Dados. Na área de Tecnologia da Informação, já foi programador multimídia, scrum master e liderou equipes de desenvolvimento de software e governança de TI. Expandiu suas possibilidades e capacidades após um transformador curso de teatro, passando a valorizar ainda mais a pluralidade humana. Na área de Comunicação, já atuou como animador de palco e mestre de cerimônia em eventos, além de ter tido uma experiência em dublar um personagem de um game para o português. Faz cosplay do personagem “Mumm-Ha” do desenho “ThunderCats” em eventos geek/nerd. Escreveu os livros “Anos 80 de A a Z” e “Transforme a sua vida com a Cabala”. Foi criador e editor da revista “Reino Animal”. Atuou como redator em 9 revistas, incluindo a Discovery Channel Magazine, escrevendo sobre os mais diversos assuntos (de “Games” à “Canto Gregoriano”, de “Mamíferos do Pleistoceno” à “Musicoterapia para Gestantes”). É palestrante filantrópico no tema “Coexistência”. Hoje atua como celebrante de casamentos, bodas e mestre de cerimônia para festas de 15 anos.


CINCO ANOS DE COLETIVEARTS,
CONTANDO HISTÓRIAS, CRIANDO MUNDOS!
O Coletive ama o mundo cosplayer!
 

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2 Comentários

  1. Por todos os Thunder, Thunder, Thunder Tex!!!!!!!!
    Que maravilhosa matéria irmãos Rodrigo Rudiger e Jorginho ColArts.
    Estupefactado e Impactadérrimo com tão eletrizado textículo photoilustrativo.
    Somentemente a mente mentolada do Rodrigo 'Celebrante' Rudiger para conceber um momento e factos tão objetivos e grandiosos do nosso hobby.
    Quando soube da sua incursão na Mundo MYTHOS, praticamente lhe forcei (ou melhor, estimulei) a escrever esse relato, mas, apesar de conhecer as suas competências textuais, afinal, o homem é editor, redator, escritor, , não imaginei texto tão completo e contundente.
    Todavia, o que vemos foi o seu esmero em nós conceder conceitos fortes, dinâmicos, verdadeiros, referente a cosplay.
    Agora me sinto menos culpado de ter sido um cosplay do Tex.
    Muchas gracias,

    Seu mano G. G. Carsan

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  2. Gratidão infinita mestre GG! Seu incentivo constante e seu amor às letras são inspiradores pra mim, e só tenho a lhe agradecer pela parceria e altas trocas de ideias que surgem no mais simples bate-papo. Que Tex possa continuar nos proporcionando momentos assim e engrandecendo sempre a nossa amizade! Agradeço por todo o apoio! E espero estar sempre à altura: é muita honra que meus textos amadores recebam tamanha consideração de você nobre pard! Muito obrigado! Fortíssimo abraço!

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