Lembranças


lembro das luzes ao longe, iluminando o subir do morro
e daquela casa que ficava depois da última luz
onde a eletricidade ainda não tinha chegado
do esgoto a céu aberto que o menino sempre pulava
para jogar bola no campinho esburacado
.
e do choro de Dona Berenice
quando viu o filho tombar
ao ser atingido por uma bala de não sei qual calibre
e quando o sobrinho apanhou na delegacia
falaram que confundiram com traficante
.
das casas empilhadas umas sobre as outras
barracos sobre barracos
moradias sobre moradias
morando pessoas espremidas, gente sofrida
mordida por misérias, fomes e apatias
.
lembro também dos barulhos de tiros
ouvidos na hora da novela
dos apartamentos
que assistem de bem longe
se convencendo que não tem nada com a vida dos mortos

Texto: Fabio da Silva Barbosa
Arte: Nathália RL                    

 

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