A MÚSICA SEGUNDO O FILÓSOFO

 

CANECÃO, PARTE - II

Essa segunda parte da coluna é bem especial para mim. Como um feitio de oração, algo buscado insistentemente, consegui um depoimento para a nobre e singela coluna. E orando a um de meu santo de cabeceira, de onde ele estiver o poetinha Vinicius de Moraes, soprou no ouvido do seu grande parceiro Toquinho, para dar um depoimento sobre o Canecão. Deixo vocês com o grande cancioneiro popular.

TOQUINHO

"O espaço foi criado em 1967 pelo empresário Mário Priolli como uma grande cervejaria. Por isso o nome Canecão. A partir do histórico show de Maysa, em 1969, que marcou o retorno da cantora aos palcos, o Canecão tornou-se um dos principais palcos a cidade, acolhendo verdadeiros ícones da música das mais variadas tendências em shows memoráveis. Ao longo de quatro décadas, foram realizados shows memoráveis. Por lá passaram Chico Buarque e Maria Bethânia, Roberto Carlos, Elis Regina, Cazuza, Daniela Mercury lotando a casa a da apresentação. Nos anos 1980, o chamado rock nacional invadiu o Canecão. Foram incontáveis apresentações de bandas como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, RPM, Engenheiros do Hawai, entre outras. O cantor de MPB Elymar Santos fez história ao utilizar o espaço para lançar sua carreira, num ato ousado, onde desembolsou a quantia de 200 mil reais pela locação do espaço. Em 2010, o Canecão fechou as portas definitivamente após os antigos dirigentes perderem a batalha judicial que já durava 40 anos. A casa de shows foi reintegrada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Um dos shows de maior sucesso realizado no Canecão foi o de 1977. Eu tive a honra de estar ao lado de Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Miúcha durante sete meses com lotação total. Foi o show de maior lotação e tempo de permanência na casa. A preparação do show foi feita em duas semanas. Ficamos praticamente morando no Canecão, nós quatro e o diretor Aloysio de Oliveira. Tudo foi uma festa, desde o primeiro ensaio até o último dia. O Canecão lotado o tempo inteiro, o contrato inicial era para dois meses, acabamos ficando sete. A alegria começava nos camarins com amigos e convidados. Bebia-se uma média de duas garrafas de uísque por noite. Depois do show, era jantar aqui e ali, todas as noites. Além disso, houve momentos de canjas antológicas. A noite em que, sem que ninguém soubesse, Roberto Carlos entrou cantando Lygia, desde a coxia, e foi cantá-la com o Tom. Foi muito bonito. Outra noite, Oscar Peterson subiu ao palco, improvisou, tocou Wave no piano. Foram duas aparições marcantes durante a temporada. Claro que esse show não se limitou ao Canecão. Em fevereiro de 1978 cumprimos uma temporada de um mês em Mar Del Plata, na Argentina. De março a julho completamos os sete meses de Canecão. Depois, uma semana no Anhembi, em São Paulo, e, finalmente, o percurso pela Europa: dez dias no Olympia de Paris, uma noite no Palladium de Londres e o giro pela Itália, além de gravarmos na Suíça um especial para a TV, considerado o melhor especial do ano."

                                         

                                                                                                                                   Toquinho

Para esse que vos escreve, o Canecão foi o principal palco do Rio de Janeiro. Foi fundamental para a música brasileira por um longo período. Todos os artistas queriam tocar ali. Tanto é que o Elymar Santos vendeu o que tinha para alugar o espaço e alavancar a sua carreira. Por mais que sua localização seja na zona sul do Rio, conseguia reunir gente de toda parte da cidade e qualquer tribo frequentava a casa.

Mas como recordar é viver, ficamos com as boas lembranças do Canecão, saudades de um bom tempo que a cidade tinha boas opções de casas de espetáculo e respirava cultura aos quatros cantos da cidade maravilhosa.

Quer saber um pouco mais sobre a historia do Toquinho, clica no link

http://www.toquinho.com.br/homepage-full/

Que tal entrar no giro pela Itália com Toquinho, Tom, Vinicius e Miúcha ? Acompanhem e comentem, um show antológico: 

Daniel Filósofo é cronista, jornalista, profundo conhecedor de rock'n'roll, torcedor do Fluminense e radialista na Rádio Rota 220.Também escreve suas crônicas dominicais na coluna do Daniel Filósofo.

Daniel Filósofo 

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