TECITURA


 Inquietos



Quinze de Outubro, ano de dois mil e vinte e um. Um dia especial! Quiosque da Cultura de Gravataí, iniciando o Prêmio Ocupação Cultural: Intervenções Urbanas e Digitais. Edital 01/2021. Quantas nomenclaturas! Mas por quê especial? Após um período passando por distanciamento social, isolamento e toda uma série de protocolos devido ao evento pandemia Covid-19, estamos aos poucos voltando ao normal. Não mais como antes, acredito ser um Novo Normal, uma nova forma de enxergar a vida e as coisas da natureza. Creio que passamos a valorizar mais as simplicidades, a informalidade, as amizades, o contato próximo, o presencial. O mundo virtual cumpriu bem o seu papel, entregando entretenimento, arte e cultura, informações, divulgação, neste período de isolamento. Carecemos do contato, da ocupação, do estar presente, do físico! Em função disso tudo, vejo este dia como um dia especial. Tempo nublado, úmido, clima não está convidativo para aventurar-se na rua. Enfim, estava lá, no Quiosque, às 9h, cumprindo meu horário, e hoje atuando como fiscal de projetos; dia de duas ocupações urbanas, trabalhos presenciais: Retalhos, de Magda Gomes, e inT - Trabalho, Progresso & Cultura: o nosso hino na Praça. Dia de encontrar Magda Gomes, Matheus Dias, Izabel Cristina e Alex Glaser. Dia de Inquietude! 

Os artistas Magda Gomes e Matheus Dias propuseram trabalhos fantásticos! Ela, com sua proposta Retalhos, utilizando técnicas da cultura açoriana (retalhos, trapilhos e arte com escamas de peixe) propõe uma exposição artística e cultural com o objetivo de promover a Cultura na cidade através do resgate das memórias afetivas da população, unindo sentimento e gerações, ao passo que também apresenta um trabalho de arte permanente nas escadarias e suas laterais, fazendo uma releitura da escadaria da Fonte do Forno, pintando bromélias, pássaros e artes representando os índios e os quilombos.


Ele realiza um trabalho ao qual visa a representação do hino oficial de Gravataí em caligrafia artística nos vidros do Quiosque da Cultura, utilizando a técnica de escrita artística lettering - letras estilizadas legíveis e elementos gráficos - com giz líquido, proporcionando através do hino a reflexão “ ‘o que deixamos para a cidade?’ com ênfase na fruição de espaços públicos e novas dinâmicas econômicas e sociais da comunidade gravataiense durante e pós pandemia.” - Matheus Dias. 


Os artistas já estavam trabalhando em suas obras nos dias que antecederam a estreia oficial. Magda havia marcado seu espaço e começado o esboço inicial de suas pinturas externas, o que foi bom pois, devido ao tempo nublado e chuvas esparsas, ela não pôde dar continuidade ao trabalho no dia da estreia.

Após um tempo aguardando e conversando com estes amigos queridos, eis que surge, direto de Novo Hamburgo, Alex Glaser, profissional que faz da fotografia sua forma de expressar arte. Convidado por Matheus para registrar este momento através de fotos e de um documentário, Alex contribuiu muito com sua visão e bom humor, fazendo deste um dia memorável. Fotógrafo de muito talento, agreguei ao meu vocabulário um termo utilizado por ele e título de uma de suas exposições: Inquietude! Palavra que diz muito, refere a pessoas que não se adaptam às rotinas, não se moldam ao meio, não se contentam com o “normal”, pessoas aptas aos desafios, às invenções e que geralmente desenvolvem a sensibilidade única existente naqueles detentores do pensamento crítico, ácido, sagaz. Uma palavra forte! Após a reflexão sobre ela, passei a me ver de outra forma … talvez um novo processo de criação de identidade tenha começado a se formar em mim, agregando às consolidadas identidades que minha personalidade criou ao longo destes anos; este dia marcou em função disso também. Izabel Cristina foi responsável pelo Quiosque. Percebam quantos Inquietos haviam, cada qual ao seu jeito, em sua área? Izabel Cristina, Matheus Dias, Magda Gomes, Alex
Glaser, eu. Memorável! 


Matheus Dias passou o dia escrevendo o hino de Gravataí nos vidros do 
Quiosque, Alex Glaser registrando cada momento. O processo de criação de um artista é, por si, um show à parte! Escrever em escala a mão livre, um  exercício de caligrafia ao qual não vemos muito nos dias atuais. Que obra magnífica esta do Matheus! A representatividade e a mensagem transmitida por seu trabalho já é muito relevante, porém a beleza colocada em palavras eleva a outro patamar. Admiro os filmes orientais, em especial as produções chinesas e japonesas quando em filmes de época, quando por vezes aparecem personagens praticando a caligrafia como uma expressão artística. É lindo ver um calígrafo em ação, e Matheus Dias domina esta técnica. Pergunto: quantos calígrafos ainda existem? Quais dominam estas técnicas e
fazem da caligrafia sua expressão artística? Uma arte nobre, de grande beleza, apresentando um dos símbolos da cidade, seu hino. Matheus Dias, obrigado por esta representação, e Alex, obrigado por registrar para a história estes momentos!


Magda surpreende! Quanto vigor! Seus olhos brilham, olhos azuis 
resplandecentes, arguta! Uma força da natureza. Sabe aquelas pessoas que não param? É Magda Gomes. Artista talentosa, as histórias acerca de suas conquistas e premiações são excelentes. Utilizando técnicas aprendidas com o pessoal da Casa dos Açores, realizou sua obra Retalhos. Influenciada pelas obras de Romero Britto, criou figuras fantásticas e multicoloridas; da cultura africana, fez um mural maravilhoso, e da cultura indígena, criou natureza, fazendo da Escadaria do Quiosque uma tela onde este mosaico de influências e criações passam a habitar, em convergência perfeita! Sensibilidade, o olhar do artista, somente uma mente que une estes potenciais seria capaz de pensar e fazer tal criação. Magda … Perfeito!

Ao final do dia aquele momento para contemplar as possibilidades apresentadas e este talento e simpatia todo no mesmo lugar. Pessoas que eu já admirava e outras que passei a admirar; Magda Gomes, Matheus Dias, Izabel Cristina, Alex Glaser. Cada um vale um livro; não um livro qualquer, mas um que seja daquelas histórias incríveis, biografias maravilhosas. Porém escrever tais livros hoje seria só metade destes livros. Suas histórias estão ainda sendo traçadas, e muito ainda vão mostrar. Bom, o que tenho a dizer sobre este dia? Regozijem-se! Foi lindo!







Sandro Ferreira GomesProfessor de Língua Portuguesa, Conselheiro Municipal de Políticas Culturais em Gravataí/RS, Servidor Público, Porto Alegrense, admirador das belas artes, do texto bem escrito e das variedades de pensamento.







03 ANOS DE COLETIVEARTS
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3 Comentários

  1. Faço mais um registro sobre este dia. Ver as obras depois de prontas é sempre muito bom, o trabalho concluído e tal ... o que poucos têm acesso é o processo de criação, ver os artistas em ação. É um algo a mais, mesmo planejado muitos dos elementos vêm na hora, algum improviso ou ideia ocorrida naquele momento, enfim. é um show à parte, creiam! É um privilégio testemunhar algo assim ...

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