TECITURA


 Leitura sem palavras

A linguagem tem importância vital como meio de comunicação e expressão do homem, suas relações e transmissão de conhecimento e informação, é através dela que ocorre a manifestação de sentido e materialização de ideias através das expressões artísticas. Desta maneira, qualquer atividade de arte serve como canal de comunicação entre as pessoas, os povos e as culturas; podemos dizer que falar de linguagem é falar de vários modos de comunicação e expressão que parecem ocorrer simultaneamente, pois utilizamos, na maioria das vezes, mais de um processo de linguagem ao mesmo tempo, formando um processo único de comunicação e significação de ideias. Em outras palavras, pode-se dizer que a linguagem é um sistema simbólico. Toda linguagem é um sistema de signos.

Assim sendo, temos os tipos de linguagens:

- Linguagens verbais: que utilizam palavras.

- Linguagens não verbais: que não utilizam palavras.

- Linguagens mistas: que utilizam simultaneamente as linguagens verbais e não verbais.

No século XX, nasceu o crescimento de duas ciências da linguagem, a Linguística e a Semiótica.

Enquanto a linguística trata da linguagem verbal, a semiótica é a ciência de toda e qualquer linguagem, utilizando a linguagem visual como seu principal meio.

- Linguagem Visual – É a estrutura da comunicação visual entre dois ou mais indivíduos. É um sistema de Signos que combinados entre si produzem infinitos significados, servindo para expressar sensações ou ideias, também apura o senso crítico e estético. Conhecer as imagens que nos circundam significa alargar as possibilidades de contato com a realidade; em outras palavras, ver mais e perceber mais.

A cidade como espaço privilegiado do não verbal

No livro LEITURA SEM PALAVRAS (Ferrara, 2000), Lucrécia D’Aléssio Ferrara,
professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, faz uma abordagem interessante nas áreas de comunicação e semiótica; temos o texto não verbal como elemento que circula entre sons, palavras, cores, traços, tamanhos, texturas ou cheiros sem convenções que os organizem e orientem sua percepção e estrutura, uma linguagem sem código, levantando as questões sobre como reconhecer estes textos, estruturá-los e interpretá-los.

Neste contexto, a autora cita as cidades, enquanto texto não verbal, como fontes informacionais ricas em estímulos criados por uma forma industrial de vida e percepção. Os movimentos, as máquinas, os automóveis, o trabalho mecanizado e especializado, o escritório, o salário, enfim, todos os elementos incorporados à vida urbana e que geram uma forma adequada de percepção: veloz, simultânea e intertemporal, onde a fragmentação perceptiva é um padrão.

“O texto não verbal espalha-se em escala macro pela cidade e incorpora as decorrências de todas as suas micro linguagens: a paisagem, a urbanização, a arquitetura, o desenho industrial ambiental, a comunicação visual, a publicidade, a sinalização viária – incluindo aí o verbal -, a moda, o impacto dos veículos de comunicação de massa nos seus prolongamentos urbanos e ambientais, o rádio, o jornal, a televisão. A cidade dominada pelo pluriespaço como decorrência da necessidade de criar espaços: o espaço horizontal e suas transformações verticais, a disponibilidade para o espaço imprevisível, uma cidade onde todo espaço gera outros, virtuais.” ( Ferrara, 2000, p.19).

Na cidade, o texto verbal é liberto da sucessão gráfica de caracteres e adiciona-se aos quilômetros de ruas, avenidas, edifícios, movimentos de multidões, luzes e cores; os textos não verbais acompanham estas andanças pela cidade, produzindo, completando e alterando seu significado, seguindo o ritmo de nossos passos e capacidade de perceber e registrar estas informações. São estes registros que transformam os textos não verbais em marcos referenciais da cidade; Signos da cidade, estes marcos aglutinam objeto e signo urbano.

- A imagem da cidade –

“Enquanto texto não verbal, a cidade deixa de ser vista como espaço abstrato das especulações projetivas, sociológicas ou econômicas para ser apreendida como espetáculo, como imagem. Nesse sentido, a apresentação da cidade como texto não verbal não só a preenche, como lhe garante um trânsito informacional com seus usuários. Daí os índices referenciais capazes de situar, contextualmente, os lugares, os ‘pedaços urbanos’.” (Ferrara, 2000, p.20).

Este contexto gera a qualificação do espaço e sua consequente identificação social, econômica, cultural: o centro da cidade, a cidade nova, a cidade velha, a cidade baixa, as zonas sul, norte, leste, os comércios varejista e atacadista, a diversidade das classes sociais, os locais comerciais, industriais, administrativos e burocráticos, as zonas de lazer e intelectuais.

Esta contextualização é responsável pelo uso dos lugares urbanos, e esse uso que qualifica nossa memória urbana e sedimenta a vida em uma cidade, criando hábitos e alimentando tradições ao mesmo tempo em que estimula a dinâmica de mudanças. A cidade vista como imagem, como espetáculo.

Segue a referência base para este exercício de pensamento:

Ferrara, Lucrécia D´Aléssio. Leitura Sem Palavras. São Paulo: Ed. Ática, 2000.
Vale muito a pena a leitura, tomei a liberdade de dissertar em cima de citações diretas do texto original. Uma viagem importante nos caminhos do pensamento e construção de saberes.



Sandro Ferreira Gomes, Professor de Língua Portuguesa, Servidor Público na Biblioteca Monteiro Lobato, Gravataí ... Porto Alegrense, admirador das belas artes, das culturas, do texto bem escrito e das variedades de pensamento.












03 ANOS DE COLETIVEARTS
 NÃO ESPALHE FAKE NEWS, ESPALHE CULTURA!

SIGA-NOS EM NOSSAS REDES SOCIAIS:


Sempre algo interessante
para contar!



Postar um comentário

4 Comentários

  1. Eu tenho estudado comunicação visual, e sempre fui apaixonada por semiótica, e leitura de imagem. Cada vez mais é importante ensinarmos as crianças a lerem imagens.

    ResponderExcluir
  2. Exato! Percebo cada vez mais o uso de linguagens diversas em sala de aula ... Tirinhas, HQs, fotografias, obras de arte ... o universo conversa conosco! A linguagem não se dá unicamente pelo modo verbal, conta-se histórias maravilhosas por meio de imagens ... mímica, sons, cheiros, tato ... os Signos estão aí, presentes em tudo, e interpretá-los é muito importante. Mia Couto tem uma fala magnífica, onde descreve uma visita que fez a uma savana em seu país, onde encontra um povo "analfabeto" por assim dizer, e descreve aquele ambiente ... as ervas, as árvores, a savana e os sinais presentes, o solo, a região, o clima, os animais, e finaliza ... "neste universo de outros saberes, o analfabeto sou eu ..."

    ResponderExcluir
  3. Sandro que texto maravilhoso! A cada palavra eu ía conectando com o meu projeto mais recente, que está em processo, o Corpografia na Cena. Trabalhzmos muito com a linguagem não verbal, a semiótica, o visual da performance e consonância com as estruturas das cidades 😊😉👏🏼

    ResponderExcluir
  4. Obrigado pelo Feedback, Izabel ... uma parte que extraí de meu trabalho de graduação, este texto merece o grande público, não ficar restrito ao meio acadêmico ... tenho muito orgulho dele, entre as várias abordagens em relação à questão de produção textual. E este livro referenciado foi um achado, esta arquiteta paulistana, professora da USP, proporcionou uma leitura ímpar sobre o tema Semiótica ... abraços!

    ResponderExcluir