CAVALGANDO COM TEX - RODRIGO RUDIGER
TEX, o maior herói dos quadrinhos de faroeste, está completando cinquenta anos de publicação ininterrupta no Brasil, O ColetiveArts está preparando uma programação especial no dia 30 de setembro para comemorar não só os cinquenta anos de publicação em terras brazucas, mas os 73 anos de criação do personagem.
Continuando o aquece da festa, o Arte e Cultura segue com sua série de reportagens e entrevistas ligadas ao personagem criado pela dupla Giovanni Luigi Bonelli e Aurélio Gallepini, conversando com fãs, com colecionadores, com pessoas que amam o universo do personagem. Hoje a conversa vai ser com Rodrigo Rudiger, colecionador, jornalista, um pai coruja e um Texiano maravilhoso. Rodrigo é o cara, confiram:
RODRIGO RUDIGER
JORGINHO: Como foi seu primeiro contato com os quadrinhos e com TEX WILLER ?
RODRIGO RUDIGER: muito curioso o fato de eu só ter conhecido TEX aos 23 anos de idade! E explico o porquê: sempre fui um ferrenho frequentador de bancas de jornais na infância. Ainda criança, eu andava sempre à caça de álbuns de figurinhas de temas diversos, pôsteres e publicações sobre o Michael Jackson (do qual também sou fã desde a tenra idade),gibis da Turma da Mônica, da Disney, os encartes para crianças dos jornais Estado de São Paulo (o “Estadinho”) e da Folha de São Paulo (a “Folhinha”), entre outros.
Porém, em todos aqueles anos, eu NUNCA SEQUER VI nas prateleiras das bancas um gibi do TEX. Provavelmente, na banca que eu mais frequentava, a mais próxima da casa dos meus pais, na Vila Esperança (bairro da zona leste da capital de São Paulo), os gibis do TEX talvez não ficassem dispostos tão próximos das outras leituras mais comuns às crianças naquela época. É fato que na minha infância e adolescência, na década de 80, o gênero de faroeste já tinha deixado de ser um dos mais procurados pelo público em geral. Da mesma forma, nunca conheci ninguém, até então, criança ou adulto, que gostasse de TEX para me apresentá-lo.
Por incrível que pareça, o primeiro despertar para começar a gostar do gênero aconteceu com o terceiro filme da trilogia De Volta para o Futuro! Eu já era fã da franquia, mas aquela ambientação no Velho Oeste foi espetacular e ali surgiu imediatamente um sentimento até então adormecido: gostei demais dos duelos, das roupas, das construções, do estilo de vida da população da época, as histórias em torno do trem... Obviamente ele não é um filme considerado sério para o gênero do faroeste, mas eu tinha apenas 10 anos, e foi sensacional e marcante pra mim.
Treze anos depois, em 2003, TEX apareceu em minha vida do nada. Eu trabalhava como redator na extinta Editora Digerati (que publicava revistas de informática com CD-ROMs encartados). Um dia, voltando para a minha mesa na redação da editora, passei próximo à mesa de um amigo, o Hudson Almeida. Ali, ao lado do computador dele, estava um gibi com uma capa marrom e um grande logotipo em azul metálico, onde lia-se “TEX”. Eu jamais tinha visto nem mesmo uma capa ou o logotipo de TEX na vida. Tratava-se do TEX Edição Histórica de número 40. O desenho da capa me chamou muito a atenção, porque vi um cara branco vestido como um índio norte-americano, com um pueblo atrás, uma grande pradaria ao fundo e um sinal de fumaça ao longe. Perguntei na hora para o Hudson que tipo de gibi era aquele, e ele me explicou rapidamente. Na sequência, me ofereceu emprestado e aceitei. Na volta para casa, dentro do vagão do metrô, comecei a ler. Quando terminei a história que falava do plano da velha bruxa Zhenda para usurpar o posto de chefe dos navajos de Águia da Noite e colocar seu filho Sagua no lugar, e suas invocações ao Antigo dos Antigos, fui fisgado imediatamente!
Já no dia seguinte comecei a pesquisar o que já havia sido publicado sobre TEX, e quase caí de costas quando descobri a quantidade de coleções/séries diferentes que já existiam há muitas décadas, assim como a numeração avançada em que se encontravam! Coincidentemente, tudo isso aconteceu exatamente no mês e ano em que saiu nas bancas o número 400 da sérienormal/mensal. Aí eu parei e pensei (o que alguns pards também devem pensar até hoje, se passaram pelo mesmo que eu): COMO
É QUE EU FIQUEI TODOS ESSES ANOS SEM CONHECER O TEX???!!!
JORGINHO: Qual a importância de TEX para os quadrinhos?
Toda a importância. Contra todas as probabilidades do nosso mercado, realidade tecnológica e situação econômica, TEX continua cavalgando sem cessar. Dádiva de Manitu. TEX pode ser um pai, um irmão, um filho, um amigo de qualquer pessoa que preze pelos bons valores humanos. Ele carrega isso consigo em seu nome e em sua história. Pouquíssimos personagens no mundo são tão longevos e tão íntegros. A constância e variedade das publicações nos permitiu ampliar o universo do TEX a um nível de detalhes poucas vezes visto na história das HQs. Quanto mais lemos, mas queremos ler. Diversão, conhecimento histórico e geográfico, imersão em outras culturas, reflexões sobre a humanidade... poderíamos montar uma lista enorme com tudo o que TEX tem a nos oferecer a cada nova aventura.
Há décadas, TEX passou por diferentes editoras, em dezenas de países. Seus gibis foram traduzidos em muitos idiomas, tiveram diversos formatos, tamanhos e diferentes tipos de papel. Dezenas de roteiristas e desenhistas já se revezaram em suas produções. Mas TEX... é sempre Tex!
Ele foi, é, e não tenho dúvidas de que sempre será um dos melhores cases de sucesso para os amantes das histórias em quadrinhos estudiosos do gênero. Por que TEX é um fenômeno editorial? Basta virar a primeira página...
JORGINHO: Quais as histórias de TEX que mais te marcaram?
RODRIGO RUDIGER: Quero deixar o registro de duas em especial:
- A história “Sinistros Presságios” foi marcante demais porque foi através dela que conheci o Tex. Achei tudo espetacular: o roteiro, os diálogos, a ambientação do faroeste, a parte mística, a cultura indígena, o estilo do traço, tudo espetacular. E sem saber, eu estava lendo, como minha primeira experiência com TEX, uma história produzida por nada mais nada menos que a dupla criadora do personagem, GL Bonelli e Gallep.
- Dentre as demais, é realmente difícil escolher, são dezenas de histórias excelentes. Vou então destacar a obra “Entre duas bandeiras”. Sou fã da dupla criadora original que também assina essa história, mas não é somente por isso. Creio que tanto Gianluigi quanto Galleppini se superaram nessa produção. O roteiro é denso, profundamente humanizado, e os traços nas cenas de ação são um show à parte. É uma narrativa excelente com a Guerra de Secessão como pano de fundo. Além do marcante posicionamento de Tex contra o lado escravocrata, essa história é pura emoção do começo ao fim! Recomendo a todos!
JORGINHO: Qual o pard você mais curte nas histórias de TEX?
RODRIGO RUDIGER: Do quarteto principal, Kit Carson! Quanto mais o camelo velho resmunga, mais felizes ficamos :-D As saudáveis discussões dele com TEX são impagáveis...
Mas considerando todos os outros personagens, gosto mais do Pat Mac Ryan. Onde esse gigante irlandês desastrado aparecer, é certeza de muita confusão e muita diversão!
JORGINHO: Se você fosse um diretor de cinema, quem escalaria para viver TEX e Kit Carson?
RODRIGO RUDIGER: Ethan Hawke para o papel de TEX e Harrison Ford para Kit Carson!
JORGINHO: Quantos itens tem sua coleção e quais são as mais importantes para você?
RODRIGO RUDIGER: Hoje são exatos 1.981 itens de TEX na minha coleção. Os mais importantes pra mim são sempre aqueles com os quais vieram boas histórias e novos amigos. Muito mais importante que a coleção de itens valiosos, é a coleção de amigos que Tex nos proporciona cada vez mais!
Exemplos:
- TEX Edição Histórica 40: ele mesmo: o gibi original da história que descrevi mais acima. Quando fui devolvê-lo ao meu amigo Hudson, ele respondeu: “Não, se você gostou tanto, quero que fique com ele. É um presente!”. E assim, aquele mesmo exemplar da história acima, o primeiro gibi TEX que peguei na mão há 18 anos, o primeiro gibi Tex que eu li na vida, está comigo até hoje. Considerando o valor sentimental, é o mais importante item da minha coleção;
- TEX 1 da primeira edição: Depois de quase 20 anos colecionando, foi somente há 2 meses que pude adquiri-lo. Junto ao processo de negociação desse exemplar, ganhei um grande amigo, o Anthony, proprietário da livraria/sebo BookBox, localizada no Mercado Municipal de São Miguel, em São Paulo. Uma loja que o pai de Anthony conseguiu construir após muita luta e após anos vendendo livros como camelô nas ruas. Conforme Anthony crescia, ajudava cada vez mais o pai a crescer com o negócio. Infelizmente, Anthony perdeu seu pai no ano passado, e os dois eram muito ligados. Só depois de muitos meses ele reuniu coragem para começar a colocar à venda alguns itens da coleção particular do pai, dentre os quais, havia alguns exemplares de numeração baixa de TEX que adquiri com ele, incluindo o Signo da Serpente da primeira edição. Fiquei honrado em receber esse gibi das mãos dele, com a carinhosa lembrança de seu pai. E esse foi o ponto de partida para outros encontros que já tivemos de lá para cá por conta dessa amizade;
- Outros números baixos da primeira edição: foi também neste ano de 2021 que conheci outro pard, grande figura, Carlos Ramalho de Indaiatuba. Um dia, navegando na Internet no garimpo nosso de cada dia, encontrei o site da gibiteria Texas Ranger, da qual ele é proprietário. Como não gosto de ficar pedindo muitas fotos, vídeos ou descrições detalhadas dos gibis para os vendedores, sempre que posso, prefiro encontrá-los pessoalmente para ver os gibis em mãos. E foi assim que saí da capital de São Paulo em um final de semana, rumo ao interior, para encontrá-lo na cidade de Indaiatuba. E ali, em meio à novas aquisições importantes para a minha coleção (números baixos da primeira edição), ganhei também mais um grande amigo, que já me visitou aqui também. Carlão: se você está lendo estas linhas, saiba que você é um malacabado :-D
- Revista Junior número 31 (A Mão Vermelha): apenas 1 mês depois de ter conhecido Tex, durante uma visita a um sebo, ganhei uma revistinha em formato de talão de cheque das mãos de um simpático senhor que também era colecionador e tinha esse item em repetido. Naquela época, eu ainda não conhecia a saga de TEX como Texas Kid na revista Junior, e foi a partir desse presente que aprendi ainda mais sobre as origens do nosso herói no Brasil; - Livros escritos por nossos pards: eu acho sensacional o fato de existirem livros com conteúdo e qualidade profissionais escritos por fãs do nosso herói, como G. G. Carsan, Adriano Rainho e João Marin. Na época em que conheci nosso grande pard G. G., por exemplo, ele estava escrevendo o livro “Tex no Brasil – Justiça a Qualquer Preço”, e tive a honra de ver publicado nele, também, um resumo da mesma história com TEX, representando assim todos aqueles que descobriram TEX há pouco tempo, mas que se apaixonaram imediatamente pelo universo texiano.
- Bustos dos quatro pards: embora sejam itens não oficiais, gosto demais do trabalho artesanal que foi realizado nessas peças. A pintura é impecável e os quatro bustos possuem um ótimo nível de detalhes, com uma altura excelente: 19 cm. São os únicos itens do gênero que tenho em minha coleção, e estão em lugar de destaque. Foram adquiridos de outro grande pard e amigo, Edemar Schnornberger, mais conhecido como o Kit Carson do Festival de Quadrinhos de Limeira de 2018 :-D
JORGINHO: Deixe uma mensagem para o leitor de Arte e Cultura
RODRIGO RUDIGER: HQ não é só entretenimento, é cultura. Não deixem de apresentar o Tex para outras pessoas sempre que tiverem chance, principalmente para as crianças e os jovens. Vamos seguir os passos do nosso pard G. G. Carsan, que além de distribuir exemplares para os menos favorecidos, também costuma “esquecer” gibis do Tex em bancos de praças de vez em quando, propositadamente, plantando assim uma semente que pode dar frutos fantásticos. O hábito da leitura por si só já é maravilhoso: é um divisor de águas em um país como o nosso, onde milhões de pessoas têm tantas dificuldades. Um jovem que lê constantemente e que assimila os bons valores como os que são passados por TEX, certamente crescerá como uma pessoa digna e valorosa.
E um último pedido, tão importante quanto: valorizem a compra de novos gibis nas bancas de jornais ou diretamente com a sua editora. Essa é a melhor forma que temos para garantir que o nosso personagem continuará SEMPRE VIVO no Brasil, e assim, nunca deixará de ser publicado em plenitude! Obrigado de coração por esta oportunidade! Viva TEX WILLER e todos os seus pards no mundo inteiro, para sempre! Um forte e fraterno abraço!
NO DIA 30 DE SETEMBRO:
Dia 30 será um dia muito especial, todo programado para homenagearmos TEX WILLER. A cavalgada vai começar às 07h e não tem hora para acabar. Às 19h André Jesus, junto com GG Carsan, Adriano Rainho, Israel Santiago e outros convidados muito especiais, estarão fazendo uma live especial no YouTube do Coletive.
Durante a live teremos brindes que serão dados para os primeiros que responderem as perguntas que os apresentadores farão, todas elas relativas à programação do evento. Ou seja, serão feitas perguntas em que as respostas estarão nos podcasts, nas exposições e no vídeo de Israel Santiago, todos disponibilizados aqui no blog do Coletive, como está previsto na programação.
Fique esperto pard, para concorrer é preciso se inscrever no canal do ColetiveArts e dar o like na live quando ela estiver ocorrendo!
Para se inscrever no Youtube do Coletive, clique aqui: https://www.youtube.com/c/ColetiveArts/
Venha participar conosco desta grande festa!
Apoio:
Jorginho |
03 ANOS DE COLETIVEARTS.
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2 Comentários
Que figuraça o nosso pard Rudiger Barba Negra (depois de regenerado), super entrevista hem...??? obrigado pelas lembranças, amigão. Saudações texianas.
ResponderExcluirg. g. carsan
Kkkkkkk Meu amigo, grande pard GG: obrigado pelas palavras. Você sempre foi e continuará sendo uma grande inspiração para todos nós. Muito boas lembranças dos nossos primeiros contatos por e-mail. Tex certamente muito orgulhoso de sua trajetória! Forte abraço!
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